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Sinopse

Depois do ataque japonês a Pearl Harbor, os moradores da Califórnia entram em pânico porque acreditam que podem ser os próximos alvos. Entre eles, um piloto biruta da Guarda Nacional; um sargento patriota; um civil com vontade de entrar na guerra; e um militar que tenta a todo o custo manter a sanidade em meio a tanto caos.

Crítica

Difícil acreditar que tantos talentosos artistas se envolveram para realizar a comédia 1941: Uma Guerra Muito Louca, em 1979. O produtor John Milius havia escrito o roteiro de Apocalypse Now (1979) e dirigiria a seguir Conan: O Bárbaro (1982) e Amanhecer Sangrento (1984). Os roteiristas Robert Zemeckis e Bob Gale eram novatos, mas viriam a escrever De Volta para o Futuro (1985), com o primeiro assumindo a direção. E Steven Spielberg estava com o nome em alta em Hollywood depois de ter lançado dois sucessos consecutivos: Tubarão (1975) e Contatos Imediatos de Terceiro Grau (1977). Como este quarteto com inegável habilidade produziu um longa-metragem pouco inspirado como este é motivo de investigação. Talvez o sucesso tenha subido à cabeça de Spielberg, que imaginou que seu toque de Midas o salvaria de qualquer situação. Não é o caso, como podemos atestar nesta produção que beira o insuportável.

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A versão conferida para esta crítica foi a estendida, com 145 minutos de duração, mais próxima da visão do diretor, que teve de ver seu filme cortado a mando do estúdio para pouco menos de duas horas para ser lançado nos cinemas. Na trama, em plena Segunda Guerra Mundial, a população norte-americana está nervosa após os ataques a Pearl Harbor, que colocaram o conflito no quintal de suas casas. Temendo um novo ataque dos japoneses, tanto militares quanto civis se mostram demasiadamente paranoicos. Neste cenário, o jovem dançarino Wally (Bobby DeCicco) só deseja ficar com a bela Betty (Dianne Kay), sem se importar com a guerra em curso. Ele terá de lidar com o cabo Sitarski (Treat Williams), que deseja roubar Betty para si. Seu batalhão, comandado pelo Sargento Frank Tree (Dan Aykroyd), está em plena função, inclusive alistando cidadãos americanos comuns para ajudá-los no combate.

É o caso de Ward Douglas (Ned Beatty), que vê sua casa virar o repositório de uma grande arma, apontada para o litoral. Lá, onde o submarino japonês comandado por Akiro Mitamura (Toshirô Mifune) está à espreita, esperando o melhor momento para atacar Hollywood. Mas ele não conseguirá seu intento se depender do amalucado piloto Wild Bill Kelson (John Belushi), que sobrevoa a área à procura de ameaças. Quem também voa, mas não pelos mesmos motivos, é o Capitão Loomis Birkhead (Tim Matheson), que descobriu que a voluptuosa Donna Stratton (Nancy Allen), aceita qualquer investida sexual desde que esteja à bordo de um avião em pleno voo. Grande parte destes personagens está sob o comando do respeitável Major Stilwell (Robert Stack), que só deseja assistir a Dumbo (1941) no cinema sem ser incomodado.

Estes são apenas alguns personagens e momentos do filme. Ainda existem outros, com maior ou menor destaque, que dividem a atenção do espectador. Por ter uma trama episódica, 1941 se mostra extremamente irregular. Isso poderia ser perdoado caso o roteiro fosse engraçado. Mas nem a participação de comediantes famosos e talentosos como John Belushi, Dan Aykroyd e John Candy salvam o programa do tédio. Belushi é o que se sai melhor, dando vida a um piloto tresloucado, visto que ele não depende apenas do roteiro para arrancar risos. Sua presença em tela já diverte. O mesmo não pode ser dito dos demais, que passeiam na tela e são esquecidos tão rapidamente quanto a trama os descarta. Spielberg se dá ao luxo de citar a si mesmo, fazendo uma curiosa visita a Encurralado (1971) e a Tubarão. O diretor convida atrizes que participaram destes filmes e, no caso deste primeiro, filma nas mesmas locações uma das cenas. Raro momento na carreira do cineasta, talvez não reprisado posteriormente pelo resultado fraco do filme perante a crítica. Quanto ao público, apesar de ter ficado conhecido como o primeiro fracasso de Spielberg, a bilheteria não foi fraca. Perante os anteriores sucessos, 1941 empalidece, mas não chegou a dar prejuízo.

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Se como comédia o filme falha miseravelmente, talvez até por tentar fazer graça em cima de um conflito terrível, como produção de guerra, 1941 se mostra uma produção bastante cuidadosa. A direção de arte é correta, a música de John Williams é inspiradíssima e a fotografia tem momentos de brilhantismo. Um bom exemplo disso é o belo uso da câmera na cena do baile, no meio do segundo ato, que transforma um evento da U.S.O. em um filme musical da década de 1940. Existe um inegável cuidado e valor de produção, que infelizmente são sabotados por um roteiro sem graça, longo demais e extremamente barulhento. Não basta gritar ou ensurdecer a plateia para lhe arrancar risos. Uma lição aprendida por Spielberg, que sucederia este frustrante filme com um de seus maiores clássicos Os Caçadores da Arca Perdida (1981).

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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