Crítica
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Sinopse
Maria tem 14 anos e vive numa comunidade católica fundamentalista. Ela deseja fervorosamente ser santa. Mesmo diante dos problemas que vão se apresentando, ela mantém firme esse intuito de ser pura.
Crítica
A Maria, nesse caso, não é a mãe de Jesus Cristo. Mas é quase como se fosse. 14 Estações de Maria, primeiro longa do diretor e roteirista alemão Dietrich Brüggemann a ser lançado comercialmente no Brasil, é um filme quase atemporal, ainda que seu discurso seja absurdamente pertinente na atual conjectura sócio-político-econômica-e-religiosa, tanto na Europa quanto no resto do mundo. O radicalismo aqui exibido está tanto na forma quanto no conteúdo, e se o eco não se dá de maneira imediata entre o público brasileiro, é preciso abrir-se para o que acontece ao nosso redor para perceber que sua denúncia pode, sim, encontrar espaço onde quer que se permita. Os elementos para tal estão ao alcance de todos. Basta estar atento a alertas como esse para evitar no futuro erros tão explorados no passado.
Maria (Lea van Acken) é uma garota de 14 anos cuja realidade é a do fundamentalismo religioso. E estamos falando do catolicismo, no Ocidente – no caso, em plena Alemanha do século XXI. Ainda que a ambientação, num primeiro momento, leve o espectador a acreditar que estamos diante de um episódio acontecido décadas atrás em uma sociedade muito mais repressora, o equívoco logo é elucidado, como num aviso: as aparências enganam com mais frequência do que se é possível imaginar, e o perigo pode estar mais próximo do que se acredita. Estudante prestes a realizar a crisma, a garota sofre com a opressão materna – uma severa e autoritária mulher – além de ser exageradamente impressionada pelas aulas e conceitos de fé que recebe. Seu discernimento quase inexiste, e o que lhe é dito nestas ocasiões é aceito como verdade. Sua impossibilidade de atendê-los por completo – afinal, até os santos pecam – lhe leva à constante insatisfação e à infeliz ideia que irá selar seu destino.
14 Estações de Maria chama atenção também pelo formato como é construído: são apenas quatorze capítulos, cada um composto por um cenário único e por uma câmera (quase) estática. A imagem, dessa forma, é praticamente um adendo ao discurso que se prega. Assim como as quatorze paradas de Jesus em sua via sacra – conforme dita o Novo Testamento – a jornada de Maria rumo ao inevitável também se desenvolverá através dos momentos cruciais que merecem ser divididos com o espectador. Temos a aula de catequese, a vida em família, o ambiente escolar, a relação com a mãe, a possibilidade de um primeiro amor, os conflitos da juventude, a necessidade da confissão. Durante esse processo, descobrimos que um problema lhe atormenta acima de tudo. Mas, afinal, qual seria esse: a incapacidade de falar do irmão caçula de quatro anos ou a necessidade de se mostrar tão virtuosa a ponto de merecer a realização de um milagre?
Vaidade e fanatismo se misturam em 14 Estações de Maria. A literalidade dos escritos bíblicos e a crença de que o mal está em todo lugar, ao contrário de apostar no bem e na felicidade, são exemplos explorados com competência pelo realizador. A história, narrada de modo conciso e direto, provoca estranheza naquele que se dedicar a desvendá-la. São como pedaços de um quebra-cabeças dispostos de forma aleatória, mas que quando juntos ao final começam a fazer sentido. É possível admirar um filme do qual não se goste? Este parece ser o caso. É fácil reconhecer os méritos e a força dessa obra – por mais difícil que seja simpatizar com sua história.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Ailton Monteiro | 9 |
Francisco Carbone | 9 |
Chico Fireman | 6 |
MÉDIA | 8 |
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