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Sinopse

Anos após ter poupado a vida do homem que matou seu filho, o ex-sargento da polícia Leo Barnes está trabalhando como chefe de segurança da senadora Charlie Roan, candidata à Presidência e principal alvo a ser eliminada na noite no Expurgo, evento anual no qual durante 12 horas qualquer crime é permitido e situação a qual ela se opõe e promete acabar assim que for eleita.

Crítica

Ainda que seu título nacional tente esconder, 12 Horas para Sobreviver: O Ano da Eleição marca a terceira tentativa de James DeMonaco em extrair mais um filme de uma premissa que nunca teve muito a oferecer. Anunciado originalmente como o capítulo final da trilogia do expurgo, este exploitation descerebrado é uma sequência direta de Uma Noite de Crime (2013) e Uma Noite de Crime: Anarquia (2014), mas ganhou uma nova identidade para driblar o público brasileiro, que nunca lotou as salas de exibição nos capítulos anteriores. Com a estratégia funcionando ou não, no entanto, o filme não faz nada para merecer que esta realidade mude.

Na mesma distopia norte-americana onde qualquer tipo de crime será impune durante uma madrugada e por uma vez ao ano, 12 Horas para Sobreviver apresenta uma sociedade dividida entre aqueles que discordam do expurgo e todos os outros que anseiam pela noite para expiarem seus piores instintos e desejos. Aliado aos ecos (por vezes bizarros) das verdadeiras campanhas eleitorais dos presidenciáveis aos Estados Unidos, o filme segue a senadora Charlie Roan (Elizabeth Mitchell), que, caso eleita, promete extinguir a tal noite de crime – posição que lhe concede desafetos em série. Como haveria de ser, chega a tal ocasião e ela se torna uma das maiores vítimas em potencial, protegida apenas por Leo Barnes (Frank Grillo), seu fiel segurança – e protagonista do segundo filme da franquia, que retorna numa tentativa frustrada de conectar o longa ao seu precedente.

Entre uma justificativa e outra para criar um fiapo de enredo e introduzir personagens passíveis de empatia, a cada episódio da série fica mais evidente que tudo não passa de pífias desculpas para exibir mortes elaboradas, automóveis estilizados e assassinos mascarados que levam seus expurgos muito a sério. Como as colegiais hipersexualizadas que, depois de serem reprimidas por roubarem uma barra de chocolate, voltam prontas para a matança a uma loja de conveniência. Em trajes sumários. Com armas cromadas e ameaçadoras. Num carro completamente forrado por luzes de Natal. Ouvindo Party in the U.S.A, da Miley Cyrus. Não dá para dizer que falta criatividade para a produção, ainda que esta não sirva devidamente para qualquer propósito que não seja o de fazer involuntária graça.

Com ambientação na capital estadunidense durante o período eleitoral, 12 Horas para Sobreviver se lança como uma alegoria – algo que foi muito alardeado em sua campanha de marketing. Infelizmente, sua postura política não vai além de um mais do mesmo sobre a corrupção dos governantes que sustentam a noite de crime como estratégia para acabar com os pobres e empoderar os ricos – ideia ridiculamente simplista que já era evidenciada deste o primeiro filme da série. O roteiro de DeMonaco, bastante posicionado, nunca chega a funcionar em suas representações caricaturais de democratas e republicanos; se a idealista Charlie deveria emular alguma coisa de Hilary Clinton, suas intenções foram tão inocentes quanto risíveis. E se há alguém que enxerga na trama um conto de prevenção e cautela, por favor, vá ler algumas notícias e tente se conectar melhor com a realidade.

12 Horas para Sobreviver é marcado por contradições – morais, narrativas e até mesmo estéticas – que tentam injetar alguma crítica social entre a exploração da violência para criar conflito. DeMonaco insere uma mensagem antiarmamentista nada sutil em sua trama, que em contrapartida explora toda uma fetichização bélica e seu uso glorificado quando é necessário dar conta de uma sala repleta de caras malvados. A retórica antiamericana ainda resulta numa narrativa tão artificial quanto absurda e, mesmo que histórias distópicas como esta implorem pela suspensão da descrença de seus espectadores, é necessário que elas ao menos respeitem estes e suas inteligências.

Exemplar mais caro de sua franquia, 12 Horas para Sobreviver: O Ano da Eleição custou pouco mais que 10 milhões de dólares e arrecadou pelo menos 10 vezes este valor apenas nos cinemas norte-americanos. Mesmo exibindo sinais evidentes de esgotamento, a série já ganhou sinal verde para uma prequela e uma série de TV derivada. Novos expurgos estão por vir, mas infelizmente não o que poderia acabar com esta deprimente saga.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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