Não há uma filmografia extensa sobre protagonistas que encolhem ou longas estrelados por pequeninos. Muito talvez pela dificuldade em realizar uma produção do gênero e, especialmente, se vai cair no gosto do público. Se não for comédia ou ação, então, pior ainda. Com a estreia de Homem Formiga, novo filme da Marvel estrelado pelo herói que diminui de tamanho, a equipe do Papo de Cinema pesquisou e escolheu dez de alguns filmes sobre o assunto. Vale ressaltar que nem todos são dignos de grande nota, então não estranhe se não falarmos bem de todos. O interessante aqui é descobrir produções que, muitas vezes, caíram no esquecimento devido à falta de interesse no tema. Mas quem sabe algum clássico seu de infância não está por aqui? Confira!

 

Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland, 1951)
Ainda que Tim Burton tenha somado mais de US$ 1 bilhão nas bilheterias com a sua versão do clássico de Lewis Carroll, é indiscutível que a visão imortal dessa história é ainda a realizada pelos Estúdios Disney no início dos anos 1950. Mas o que Alice faz em meio a uma seleção como essa, entre seres fantásticos e outros minúsculos? Bom, quem conhece o texto sabe do que estamos falando. Afinal, após seguir o Coelho Branco apressado, a garota loira de vestido azul e avental límpido só conseguirá adentar neste mundo exótico e inacreditável se cumprir uma simples tarefa: passar pelo singelo buraco da fechadura. Para tanto, terá que encolher até o tamanho apropriado, e ao voltar ao normal, se não tomar cuidado, seguirá crescendo até adquirir proporções gigantescas. Brincadeiras à parte, o crescimento para ambos os lados – máximo e mínimo – não está colocado logo no início da trama por acaso: ao mesmo tempo em que a personagem precisa diminuir expectativas ao se colocar como uma criança inocente e ingênua, terá no final do processo que crescer a ponto de responder pelo próprio destino de forma madura e segura. Tanto no sentido literal quanto no figurado, aliás. – por

 

O Incrível Homem que Encolheu (The Incredible Shrinking Man, 1957)
É de se pensar que nos anos 1950 fazer um filme sobre um homem que encolhe fosse motivo de piada. Pois o cineasta Jack Arnold, acostumando ao mundo fantástico, conseguiu elaborar uma obra que, apesar de não ser conhecida do grande público nos dias de hoje, tomou um status cult, especialmente entre os fãs do gênero. E não é para menos. A trajetória roteirizada por Richard Matheson tem ótimos efeitos especiais (ainda que datados, é claro), mas explora muito bem o drama de Scott Carey (Grant Williams), que começa a encolher gradualmente após atravessa uma nuvem radioativa após um simples passeio de barco. Não há cura e ele precisa aprender a conviver nestas condições. E o que pode parecer engraçado a princípio (afinal, o homem diminuto precisa fugir do próprio gato e enfrentar uma aranha para conquistar o próprio território) se torna um pesadelo metafórico sobre a forma como lidamos com o que nos parece pequeno (sem redundância). A jornada do anti herói foge dos clichês e se foca no terror psicológico vivenciado pelo protagonista. Uma obra que merece ser redescoberta. – por

 

Viagem Fantástica (Fantastic Voyage, 1966)
Viagem Fantástica parte de uma ideia tão absurda que seus realizadores sentem a necessidade de colocar um pequeno aviso antes do filme, dizendo que veremos eventos nunca antes vistos, mas que um dia talvez venham a ser possíveis. Em plena Guerra Fria, o cientista Jan Benes (Jean Del Val) consegue encontrar um jeito de fazer com que a tecnologia de encolhimento funcione por tempo indeterminado e, com a ajuda da CIA, foge dos soviéticos. Mesmo assim, ele é atacado e entra em coma, ficando com um coágulo no cérebro. É então que um grupo liderado pelo agente Grant (Stephen Boyd) é encolhido junto com um submarino e inserido no corpo de Benes com o objetivo de remover o coágulo. Obviamente a jornada dos personagens acaba não sendo simples, e o filme naturalmente diverte com sua ideia, por vezes aproveitando para mostrar como o lado de fora do corpo pode afetar a missão, e a cena em que a sensibilidade auditiva é testada por uma tesoura é interessante nesse sentido. Seus efeitos visuais e design de produção são notavelmente datados, mas o filme ainda rende um bom entretenimento com aquilo que apresenta em sua história. – por Thomás Boeira

 

Viagem Insólita (Innerspace, 1987)
Muito antes da carreira de Martin Short praticamente desaparecer e os convites para papéis de protagonismo de Meg Ryan diminuírem consideravelmente, os dois estrelaram esta comédia com pitadas de ficção-científica e aventura comandada por Joe Dante, pupilo de Steven Spielberg, que aqui assina a produção. Na trama, Tuck (Dennis Quaid) decide largar tudo e participar de uma experiência secreta capaz de miniaturizar seres humanos. Quando um grupo rival tenta roubar o projeto, este sujeito de tamanho microscópico é injetado na corrente sanguínea do atrapalhado hipocondríaco Jack (Short). Em uma criativa artimanha, Tuck consegue se comunicar com seu hospedeiro e apenas ele pode ajudá-lo a encontrar uma saída para este enrosco. É assim que surge Lydia (Ryan) na jogada, uma ex-namorada de Tuck que servirá como apoio (e acabará virando hospedeira também). O clima desta aventura cômica é total Sessão da Tarde, com uma premissa amalucada, mas muito bem executada por Joe Dante – que já havia nos dado o inesquecível Gremlins (1984). Apesar de trabalhar como miniatura por boa parte do filme, a carreira de Dennis Quaid foi uma das poucas deste elenco que não encolheu totalmente com o passar do tempo. Vencedor do Oscar de Melhores Efeitos Especiais. – por Rodrigo de Oliveira

 

Os Fantasmas Se Divertem (Beetlejuice, 1988)
Segundo longa de Tim Burton, esta comédia sobrenatural mostra a história de Barbara (Geena Davis) e Adam (Alec Baldwin), que morrem em um acidente e se tornam fantasmas obrigados a assombrar a própria casa. Quando novos moradores se mudam para o local, o casal tenta expulsá-los sem sucesso. Os dois acabam fazendo amizade com a garota Lydia (Wynona Ryder), que consegue ver fantasmas, e então recorrem aos serviços de Beetlejuice (Michael Keaton), um diminuto espírito que vive em uma maquete no sótão da casa e se autodenomina “bio-exorcista”, capaz de expulsar os vivos. Já apresentando as principais características do diretor (visual inventivo, temática gótica, humor sombrio, trilha de Danny Elfman), o filme lançou sua carreira e iniciou a parceria com Keaton, com quem faria as duas adaptações de Batman. O ator rouba a cena com sua caracterização, divertindo com o personagem que tenta convencer todos a dizerem seu nome três vezes, para poder assumir seu tamanho real e ampliar seus poderes paranormais. Burton cria um universo fantástico marcante, com efeitos práticos e criativos que dão um charme especial ao longa e ajudam na construção de cenas clássicas, como a coreografia ao som de Day-O, de Harry Belafonte. – por Leonardo Ribeiro

 

Querida, Encolhi as Crianças (Honey, I Shrunk the Kids, 1989)
Formigas não são mais bichos praticamente inofensivos depois que o cientista vivido por Rick Moranis encolhe os filhos e os do vizinho com uma de suas experiências. Os agora pequeninos se encontram à mercê dos perigos do gramado, em virtude dessa nova proporção das coisas. Insetos se transformam em verdadeiros monstros ameaçadores e qualquer regar do gramado passa a ser uma tempestade devastadora. Enquanto isso, o protagonista corre contra o tempo para descobrir uma forma de reverter o processo, ou seja, de trazer a garotada novamente ao tamanho normal. Devido ao sucesso desta mistura de aventura e comédia, foram produzidas as sequências Querida, Estiquei o Bebê (1992) e Querida, Encolhi a Gente (1997), sempre com o mote da inversão de proporções entre o ambiente e alguém. A trilogia ajudou a consolidar o canadense Rick Moranis como um dos atores cômicos mais carismáticos dos anos 1980 e 1990. Quem nunca parou o que estava fazendo para conferir, mesmo que pela centésima vez, o desespero de Moranis diante do encolhimento dos filhos e da impossibilidade de desfazer a besteira? Seu personagem atrapalhado metia todo mundo em muita confusão, como diria o locutor das vinhetas da Sessão da Tarde. – por Marcelo Müller

 

As Viagens de Gulliver (Gulliver’s Travels, 2010)
Jack Black sempre se saiu melhor como o coadjuvante atrapalhado do que como o protagonista heroico. Nesta adaptação do clássico de Jonathan Swift, no entanto, ele tenta as duas coisas – e o resultado não é dos melhores. Black – indicado às Framboesas de Ouro como Pior Ator do ano – aparece como o jornalista Lemuel Gulliver, que a caminho das Bermudas acaba indo parar na ilha de Lilliput, um lugar de seres minúsculos que ignoram a existência de um mundo de proporções muito maiores ao seu redor. Gulliver, longe do trabalho insignificante, passa a ser visto como um gigante de impor respeito, e acaba seduzido pelo novo status, ignorando as implicações de sua chegada – e pagando um preço alto por isso. Apostando em piadas prontas – referências à Star Wars, sério? – para tentar qualquer tipo de empatia com a plateia, tudo o que consegue é gerar constrangimento em colegas como Emily Blunt (que desistiu de Homem de Ferro 2, 2010, para assumir esse papel) e Jason Segel. No entanto, como bilheteria internacional foi o dobro do orçamento de US$ 112 milhões, evitou-se um desastre total, mantendo em alta a magia deste texto imortal. – por

 

O Mundo dos Pequeninos (Kari-gurashi no Arietti, 2010)
O livro Os Pequeninos Borrowers já foi levado muitas vezes para o cinema, mas a obra da inglesa Mary Norton teve de ser traduzida em japonês para finalmente dar certo. Desenvolvida pelo icônico estúdio Ghibli, a animação O Mundo dos Pequeninos é uma agridoce aventura pontuada pela nostalgia da infância tão recorrente nos filmes de Hayao Miyazaki. Dividido entre o mundo dos pequenos e dos grandes, o filme dirigido pelo estreante Hiromasa Yonebayashi apresenta a família Clock, que seria bastante convencional não fossem minúsculos. Tudo parece bem até a pequena Arriety ser descoberta por Shawn, jovem que decide ajudar os Clock a viver melhor – o que dá relativamente certo até a faxineira da casa de Shawn prender a mãe de Arriety num pote. A tensão se instala entre as diferentes famílias enquanto o filme trabalha os temas essenciais da cinematografia do Ghibli, como o equilíbrio entre o ecossistema e as diferentes espécies. O senso de escala apresentado na animação é impressionante; ainda que não seja o primeiro filme a ter protagonistas tão diminutos, é um dos poucos que é hábil a transportar os espectadores para este novo mundo e, durante o processo, ensinar a importância de respeitar seu próprio universo.  – por Conrado Heoli

 

Reino Escondido (Epic, 2013)
Quando vai passar um tempo com o seu pai, um excêntrico cientista desacreditado por querer provar a existência de um mundo de minúsculos seres, Mary acaba entrando acidentalmente em contato com esse universo em miniatura. Transformada também em uma versão microscópica de si mesma por Tara, a garota descobre que foi elegida a nova rainha dos tais Homens-Folha e tem que ajudá-los a proteger o seu reino dos Boogans. Liderados pelo terrível Mandrake, esses repugnantes seres apodrecem tudo em que tocam e pretendem espalhar sua putrefação por toda a floresta. Mas com a ajuda de Ronin, Nod  e ainda duas lesmas hilárias, Mary vai, montada em um colibri – o que gera cenas de ação muito empolgantes – impedir que o vilão concretize o seu plano. Contando um uso exemplar da terceira dimensão apesar do uso da baixa profundidade de campo – necessária devido ao pequeno tamanho dos personagens – Reino Escondido ainda tem como mérito uma ótima trilha de Danny Elfman para um filme que, se por um lado não possui a qualidade técnica de uma Pixar, por outro é eficaz em entregar uma aventura divertida. – por Yuri Correa

 

Homem Formiga (Ant-Man, 2015)
O filme da Marvel quase não existiu após quase uma década de tentativas de pré-produção, mas a espera valeu a pena. Pode não ser o melhor longa do estúdio ou do gênero, mas é uma divertida obra que mistura espionagem com comédia na medida, sem cair no pastelão ou no drama intenso. Quando o ex-presidiário expert em roubos tecnológicos Scott Lang (Paul Rudd) cai na mira do cientista aposentado Hank Pym (Michael Douglas), abre-se um mundo cheio de possibilidades para um herói até então desacreditado. Afinal, como não tirar sarro de uma alcunha como Homem Formiga? Porém, este talvez seja um dos “superpoderes” mais bem explicados nos filmes do gênero (nunca deu para entender direito como o Homem de Ferro consegue sua energia e qual o percentual de destruição de seus raios, por exemplo) e também contribui para o personagem ter carisma o bastante para torcermos por mais aventuras protagonizadas por ele. Ainda que a trama não seja das mais bem elaboradas e o vilão é construído de forma maniqueísta demais, há espaço para ótimas cenas de ação e um ganho especial quando o protagonista está na sua versão pocket: a visão de campo é detalhista e bem fotografada, assim como suas parceiras formigas são ótimas coadjuvantes. Um bom filme de origem que, se for um grande sucesso, pode render continuações. Quem sabe até com a participação de uma certa companheira bem conhecida dos fãs dos quadrinhos… – por

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