Assim como Dennis Hopper fizera com seu icônico Sem Destino (1969), o subestimado diretor Richard C. Sarafian transforma as estradas norte-americanas no palco da luta pelo espírito livre da geração da contracultura. Quem encarna esses valores é Kowalski (Barry Newman), homem que trabalha transportando carros para uma oficina e recebe a missão de levar um robusto Dodge Challenger 1970, branco, até a Califórnia. Para cumprir uma aposta, a de realizar a entrega em menos de 15 horas, o motorista ultrapassa os limites de velocidade e acaba perseguido pela polícia rodoviária. O enredo, aparentemente simples, vem carregado de simbolismos sobre as transformações e o sentimento de desilusão da sociedade estadunidense da época, sintetizado nos traumas passados de Kowalski, revelados em flashbacks – a indignação com a guerra após combater no Vietnã, com a representação da lei, a expulsão da polícia por evitar uma tentativa de estupro cometida por um colega, a tragédia amorosa com a morte da namorada e a decepção do sonho interrompido de ser piloto da Nascar. Com toda essa bagagem emocional, que Newman incorpora em composição silenciosa, mas envolta em obstinação, Kowalski se transforma numa espécie de anti-herói popular ao ter sua jornada de fuga narrada por Super Soul (Cleavon Little), DJ negro e cego que intercepta a frequência de rádio policial. Filmando as perseguições automobilísticas com maestria, sempre equilibrando a tensão e o lirismo, Sarafian encaminha seu protagonista a um final explosivo, e devidamente transgressor, que o eleva a um patamar mítico, e que fez do filme objeto de culto, influenciando a cultura em diversos segmentos, vide a homenagem feita pela banda Audioslave no videoclipe da música Show Me How to Live, e gerando até uma refilmagem televisiva, de 1997, estrelada por Viggo Mortensen. – por Leonardo Ribeiro

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