Neste fim de semana comemora-se o Dia dos Pais, uma data sempre muito importante, seja para aqueles que tem os seus por perto, para os que estão longe e, é claro, até mesmo para quem aproveita a ocasião para buscar na memória seus melhores momentos junto a essa pessoa tão importante em nossas vidas. E se a sétima arte é uma das formas de expressões artísticas mais populares, em que todo mundo tem acesso e programa recomendado para toda a família, são incontáveis os papais que já marcaram presença na tela grande. Desde clássicos como O Pai da Noiva (1950), com Spencer Tracy e Elizabeth Taylor e refilmado em 1991 com Steve Martin, passando por obras emocionantes como Meu Pai, Uma Lição de Vida (1989), com Jack Lemmon, e Em Nome do Pai (1993), com Daniel Day-Lewis, chegando até comédias ligeiras como O Paizão (1999), com Adam Sandler, A Creche do Papai (2003), com Eddie Murphy, ou até mesmo Os Pinguins do Papai (2011), com Jim Carrey. Em todos, algo em comum: o patriarca é, indiscutivelmente, uma figura a ser lembrada. E aproveitando a ocasião, a Equipe Papo de Cinema reuniu dez pais que fizeram história na tela grande. Temos aqui os nossos preferidos – e entre eles estão gângsteres, divorciados, peixes, mentirosos, transexuais, deficientes e verdadeiros leões. Confira a nossa lista e descubra o seu papai favorito – no cinema, é claro!

 

O Poderoso Chefão (The Godfather, EUA, 1972), por Willian Silveira
Cenas memoráveis não faltam. Em uma delas, Dom Vito Corleone acaricia seu gato. O trato delicado com o animal será um contraste perfeito para o pedido que se seguirá. Em O Poderoso Chefão, Francis Ford Coppola usa o afeto, uma das principais características italianas, como barganha. O afeto puro é desinteressado, enquanto o interessado mascara o poder. Símbolo máximo desse traço, a figura de Vito Corleone, irretocavelmente interpretada por Marlon Brando, se apresenta além do patriarca, mas como aquele que dá a vida para proteger os seus, pois sem eles, sabe não ser nada. O individualismo não é a marca do poder desenfreado. Corleone conquista o espectador por ser verdadeiro, mesmo quando as ações expõem seus vícios. A ética da lealdade é a moral particular, transvestida pela função paterna – pela família.

 

 

Kramer vs. Kramer (Kramer vs. Kramer, EUA, 1979), por Robledo Milani
Poucos longas foram tão importantes e representativos para a figura paterna na sociedade moderna quanto este clássico dirigido por Robert Benton e estrelado pelos sempre excelentes Dustin Hoffman e Meryl Streep – todos, merecidamente, vencedores do Oscar, além do roteiro baseado no romance de Avery Corman e do próprio Filme, escolhido o melhor daquele ano. Se no final da década de 1970 o divórcio e a separação de casais ainda era uma realidade nova, ainda mais surpreendente eram os casos em que os filhos ficavam sob a guarda paterna – e não, como até hoje é mais usual, materna. Mas quando Ted (Hoffman) e Joanna (Streep) decidem se separar, será ele que reunirá todas as suas forças para ficar próximo do filho Billy (a revelação Justin Henry, de apenas 8 anos e também indicado ao Oscar). Uma obra relevante, de grande valor social e sintonizada com o tempo presente, que felizmente se mantém atual até hoje. E, ainda mais importante, trata-se de um filme que mostra como poucos outros a força da família e o quanto ela pode ser adaptada, colocando em evidência o quanto os moldes mais tradicionais estão ultrapassados.

 

O Rei Leão (The Lion King, 1994), por Matheus Bonez
Desde a morte da mãe de Bambi (1942) nenhuma outra animação dos estúdios Disney provocou tamanha dor com uma cena como a morte de Mufasa em O Rei Leão. Pai de Simba, o protagonista, o então felino chefe dos animais ensinou os melhores valores para o filho em sua criação: coragem, ética, bondade, liderança. Sempre austero, mas nunca sem sentimentos. Simba pode até passar anos traumatizado com a culpa pela morte do pai e tentando esquecer tudo com Hakuna Matata, Timão e Pumba, mas é por conta da natureza de Mufasa que o filhote cresce e amadurece até tomar o seu devido lugar no reino animal. Assim como sua morte é um dos momentos mais tristes do filme, o seu reencontro (através de uma visão ou espírito) com um Simba já adulto em um diálogo dolorido, mas esperançoso, é um dos mais emocionantes da história do cinema – e não apenas das animações. Não é fora do comum encontrarmos “paizões” nas telas, mas Mufasa merece seu devido destaque por ser o exemplar de como todo progenitor deveria ser. E assim permanece quase vinte anos depois de ter estreado nas telonas.

 

Uma Lição de Amor (I Am Sam, EUA, 2001), por Rodrigo de Oliveira
Tudo o que você precisa é amor. Mensagem singela e poderosa, que foi entoada pelos Beatles em um de seus hinos mais potentes, All you Need is Love, e que resume bem o longa-metragem Uma Lição de Amor, dirigido por Jessie Nelson. Utilizando as canções do quarteto de Liverpool para embalar sua bela história, a cineasta comove com uma trama que traz Sean Penn vivendo Sam, um sujeito com deficiência mental e que, por uma daquelas surpresas do destino, se vê às voltas com uma filha, bastante despreparado para a tarefa. No entanto, como a música supracitada afirma, o amor pode suplantar qualquer problema. No filme, uma batalha é realizada pela guarda da pequena Lucy quando assistentes sociais observam que a menina de apenas sete anos já ultrapassa o pai em Q.I. Cabe a Sam reaver a guarda da filha com a ajuda da advogada Rita (uma inspirada Michelle Pfeiffer). Ainda que a trama resvale para o dramalhão em alguns momentos, é uma terna história do amor entre pai e filha, fortalecida pelas canções de Lennon e McCartney, com performances competentes do elenco. Penn, inclusive, recebeu indicação ao Oscar pelo trabalho, no filme que ainda revelou a talentosa Dakota Fanning.

 

Pai e Filho (Otets i syn, Rússia, 2003), por Pedro Henrique Gomes
O pai (Andrey Schetinin) do filme de Sokurov não é aquele pretensioso registro de afetividades e relações de simples encaixe e captura. A troca de gestos entre ele e seu filho não apresenta símbolos ocultos ou desejos disfarçados. Há claramente um contexto de problematizações engendrada pelo diretor para amplificar a ambiguidade daquela relação, mas jamais se pode confundir a força do gesto com idealização que fizemos dele. Na figura do pai, com seus problemas e suas contradições, há uma história de pertencimento, de comunidade interfamiliar, de uma partilha de experiências e troca de subjetividades com o filho. Pai e Filho é aquele filme que não abre mão de estabelecer um confronto moral direto com o espectador, mas quer mesmo, antes disso, compartilhar uma sensação de respeito, lucidez, força emocional e intelectual. Ao espectador, é imperiosa uma compreensão das sutilezas que compõem o drama como parte de uma equação que tem no próprio pai o resultado de um sucesso possível. A vitória dele é também um pouco nossa.

 

Peixe Grande (Big Fish, EUA, 2003), por Renato Cabral
Baseado no livro de Daniel Wallace e uma das melhores realizações da carreira de Tim Burton, Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas traz a história de William Bloom, que espera, junto de sua esposa, o primeiro filho do casal, ao passo que seu pai, Edward Bloom, se encontra no leito de morte. Isso o leva a juntar todas as histórias sobre o patriarca dos Bloom durante os anos. Com isso, William acaba recriando os anos de juventude do pai através de lendas e mitos inspirados nestas fábulas, e assim acaba entendo sobre os erros e acertos de seu pai. Burton trata com delicadeza os acontecimentos, sem exagerar até mesmo no meio fantasioso, apresentando uma direção de arte discreta. E é nos atores, Ewan McGregor e Albert Finney, que encarnam o jovem e o velho Edward Bloom, que o filme ganha a quem o assiste.

 

 

Procurando Nemo (Finding Nemo, EUA/Australia, 2003), por Dimas Tadeu
Embora Nemo seja a “estrela-título” de um dos maiores sucessos da Pixar, é seu pai, Martin, quem fica na tela a maior parte do tempo, tentando encontrar o filho desaparecido. Numa divertida fábula sobre família, superproteção e liberdade, Procurando Nemo é uma excelente pedida para o dia dos pais, com chance de agradar mais de uma geração e arrancar gargalhadas e lágrimas. Tudo isso com um subtexto que remete à Odisseia, de Homero, a “primeira” de todas as histórias (“nemo” significa “ninguém”, em latim, uma metáfora para a autodescoberta que foi usada também em 20 Mil Léguas Submarinos, onde o comandante do Nautilus é ninguém menos do que o Cap. Nemo). O tipo de aventura que, quando termina, deixa gosto de quero mais. Não por acaso, a Pixar já anunciou a sequência, Procurando Dory, para 2015

 

 

Transamérica (Transamerica, EUA, 2005), por Conrado Heoli
O que caracteriza um bom pai? Presença, atenção, interesse e afetividade são qualidades indispensáveis, mas a masculinidade é um item tão essencial quanto os anteriores? Bree poderia oferecer as características supracitadas para um filho, exceto a última. Às vésperas da cirurgia que removeria um dos últimos vestígios de seu passado como Stanley, a transexual Sabrina “Bree” Osbourne descobre que teve um filho na adolescência e é obrigada por sua terapeuta a ir ao encontro do jovem – que está envolvido com drogas e prostituição. O argumento curioso de Transamérica (2005), primeiro e único longa-metragem de Duncan Tucker, é base para um road movie agridoce que percorre temas como a autodescoberta e a importância da figura paterna na vida de alguém. Felicity Huffman se despe de quaisquer maneirismos para compor Bree, o que lhe rendeu copiosos elogios para sua caracterização singular e constantes questionamentos sobre sua orientação sexual e gênero. Indicada ao Oscar como protagonista, a interpretação marcante da atriz foi sublimada pela apática Reese Witherspoon, que venceu o prêmio por Johnny & June (2005) injustamente. Ainda assim, permanece como um dos mais interessantes – e peculiares – retratos da complexa relação entre pais e filhos.

 

A Estrada (The Road, EUA, 2009), por Danilo Fantinel
Se em um mundo apocalíptico a melhor companhia que uma criança poderia ter é a do próprio pai, o garoto de A Estrada poderia sentir-se felizardo: está ao lado do seu, vagando em um território destruído em busca de salvação. Porém, neste ambiente desolado onde faltam água, comida e civilidade, nem mesmo a segurança paterna pode ser garantida eternamente. O filme inspirado no livro de Cormac McCarthy, vencedor do Pulitzer em 2007, relata a jornada da dupla entre os escombros de uma sociedade caída, coberta por fuligem leve e violência pesada. Cada um tem apenas ao outro como motivação para seguir em frente. Responsável pelo filho, o pai maximiza seu papel de tutor enquanto sofre um natural processo de embrutecimento. Conta histórias de ninar à noite, ensina o uso de armas pela manhã e pensa em infanticídio à tarde. Responsável pelo pai, e em vias de perder a inocência, o filho resgata a decência paterna constantemente. Ambos querem viver, mas cogitam morrer. O pai pede ao filho para esquecer isso, mas recebe como resposta uma pergunta: como fazê-lo? O rosto silencioso do excelente Viggo Mortensen é uma sentença: é tão impossível não pensar na morte quanto é improvável a salvação.

 

Depois de Lúcia (Después de Lucía, México/França, 2012), por Marcelo Müller
Roberto acaba de perder a mulher em trágico acidente. Seu sofrimento irrompe já na primeira sequência de Depois de Lucia, quando larga o automóvel da falecida em via pública. Pouco importa o bem material, mais vale desfazer-se desse elemento alusivo à perda. Mesmo assim, despedaçado, Roberto reúne forças para mudar-se com a filha adolescente, largando emprego e tudo mais. Grande pai esse Roberto, sempre disposto a relevar as pequenas falhas, zeloso quanto ao rendimento escolar, cuidadoso com o dia a dia da menina privada da mãe provavelmente no instante em que mais precisaria dela. A angústia de Roberto se faz latente, mas ele se esforça para preservar Alejandra daquilo que o dilacera particularmente – afinal ela tem sua própria cota de agonia – ao passo que se agarra na menina também como tábua de salvação. Para Roberto perder duas vezes é provação demais, talvez por isso sua consternação exploda em violência no final do filme. Enquanto pai, colocou em prática a máxima “olho por olho, dente por dente”, já entorpecido pela possível tragédia da filha. Quem há de julgá-lo?

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