Brasileiro adora reclamar. Ao mesmo tempo em que nos achamos “abençoados por Deus e bonitos por natureza”, livres de desgraças naturais e soberanos diante do resto do mundo, volta e meia nos pegamos lamentando o fato de falarmos um idioma que quase ninguém entende, de nossas proporções continentais nos isolarem num continente formado por nações hispânicas, e de ainda não estarmos no Primeiro Mundo, apesar de muitos acreditarem que o Terceiro ficou, definitivamente, para trás. Nunca ganhamos um Nobel, muito menos um Oscar. Apesar disso, no entanto, não estamos tão mal assim. E os talentos de alguns de nossos astros e estrelas, cineastas e realizadores, são mais do que suficientes para defenderem nossas cores, criatividades e inesgotável potencial além das fronteiras. E num ano que já vimos José Padilha (RoboCop), Rodrigo Santoro (300: A Ascensão do Império) e Carlos Saldanha (Rio 2) arrecadarem, juntos, quase US$ 600 milhões nas bilheterias de todo o mundo, certamente há muito a ser comemorado. Por isso, a Equipe do Papo de Cinema aponta aqui, em ordem alfabética, os dez maiores nomes nacionais de maior sucesso no exterior. Confiram!

 

Alice Braga e Will Smith em Eu Sou a Lenda

Alice Braga, por Conrado Heoli
O primeiro trabalho de Alice Braga no cinema foi um curta-metragem chamado Trampolim (1998), dirigido por Fiapo Barth. O título do filme já impulsionava o sucesso da paulista frente às câmeras, ela que desde criança sonhava com a profissão incentivada por sua mãe, Ana Braga, e também pela tia, Sônia Braga, ambas atrizes que a levavam constantemente para sets de cinema. Diferentemente da tia, que possuía uma sólida carreira no Brasil antes de se aventurar em produções internacionais, Alice teve poucos trabalhos até conquistar grandes sets hollywoodianos. Cidade de Deus (2002) e Cidade Baixa (2005) foram seus principais longas nacionais antes de 12 Horas até o Amanhecer (2006), suspense ambientado em São Paulo e protagonizado por Brendan Fraser, Mos Def e Scott Glenn. Um ano mais tarde, estrelou Eu Sou a Lenda (2007) ao lado de Will Smith, que ainda é seu maior êxito comercial – o filme faturou quase US$ 600 milhões mundialmente. Transitando entre produções artísticas e outras comerciais, como Na Estrada (2012) e Elysium (2013), em breve a beldade será vista ao lado de Gael García Bernal no western argentino El Ardor (2014) e no thriller norte-americano Kill Me Three Times, com Simon Pegg. Já esperamos ansiosos!
Filme imprescindível no exterior: Eu Sou a Lenda (2007)

 

Carlos Saldanha e a arara Blu, protagonista de Rio

Carlos Saldanha, por Robledo Milani
De ilustre desconhecido, o carioca Carlos Saldanha tornou-se o cineasta nacional mais bem sucedido no exterior em todos os tempos! E isso conseguiu ao se aperfeiçoar naquilo que fazia melhor: animação digital. Obrigado a deixar seu país natal e migrar para os Estados Unidos, onde encontrou melhores oportunidades para aperfeiçoar a técnica e dar vazão à sua criatividade na área, acabou sendo convidado por Chris Wedge, um dos seus professores na Escola de Artes Visuais de Nova Iorque, a integrar o time da produtora Blue Sky Studios. Lá deu seu primeiro passo rumo ao reconhecimento popular ao assinar como co-diretor o campeão de bilheteria A Era do Gelo (2002). O resultado foi tão positivo que as duas sequências seguintes foram realizadas somente sob seu comando, ao mesmo tempo em que realizou o curta-metragem Gone Nutty (2002) – estrelado pelo esquilo pré-histórico Scrat – que lhe valeu sua primeira (e única, ao menos até o momento) indicação ao Oscar. Mas sua voz autoral se confirmaria ao fazer de um projeto pessoal um fenômeno de público internacional: Rio (2011), uma animação 100% hollywoodiana que tem como cenário a cidade onde nasceu. Com quase US$ 500 milhões arrecadados nas bilheterias de todo o mundo e uma indicação ao Oscar, uma sequência seria inevitável – como, de fato, aconteceu neste ano.
Filme imprescindível no exterior: Rio (2011)

 

Carmen Miranda em Uma Noite no Rio

Carmen Miranda, por Rodrigo de Oliveira
A Pequena Notável. Brazilian Bombshell. Ou, apenas, Carmen Miranda. Cantora, atriz, dançarina. Com suas frutas na cabeça e jeitinho malandro, a artista conquistou o mundo entre as décadas de 1930 e 1940. Carmen Miranda nasceu em Portugal, mas se mudou ainda bebê para o Brasil com a família. Fez sucesso estrondoso no rádio, o que lhe abriu portas para um leque irrecusável de propostas atraentes. Fez turnês por todo o Brasil, até ser convidada para o cinema. Seu primeiro grande papel foi em Estudantes, em 1935, ainda que antes tenha tido participação proeminente no semidocumentário A Voz do Carnaval, em 1933. Partiu para os Estados Unidos no final da década de 30, onde alcançaria estrelato inimaginável. Estrelou produções de sucesso como Serenata Tropical (1940), Aconteceu em Havana (1941) e Copacabana (1947). No auge da fama, recebia o mais alto cachê dentre as artistas femininas. Como de praxe, tanto sucesso lá fora gerou críticas no Brasil sobre seu talento. Alguns apontavam que Carmen Miranda havia se “americanizado” – algo que ela responderia ao som do samba Disseram que voltei Americanizada. Dentre seus diversos filmes, o destaque ficaria para Uma Noite no Rio (1941), longa que estrela ao lado de Don Ameche e Alice Faye.
Filme imprescindível no exterior: Uma Noite no Rio (1941)

 

Ralph Fiennes e Fernando Meirelles no set de O Jardineiro Fiel

Fernando Meirelles, por Thomas Boeira
Com o merecido sucesso alcançado por Cidade de Deus (2002), que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Direção, Fernando Meirelles acabou chamando a atenção dos grandes estúdios e, naturalmente, começou a dirigir filmes em terras estrangeiras. Sua carreira lá fora, por enquanto, consiste em três obras: O Jardineiro Fiel (2005), Ensaio Sobre a Cegueira (2008) e 360 (2011), todos bem diferentes entre si. Apesar de Ensaio Sobre a Cegueira ter sido uma ótima adaptação do livro de José Saramago (que muitos consideravam infilmável, o que torna o êxito do realizador ainda mais admirável), o melhor trabalho da carreira estrangeira de Meirelles é mesmo sua estreia além das fronteiras. O Jardineiro Fiel se mostrou um filme brilhante em todos os quesitos, um thriller extremamente eficaz e relevante ao explorar os bastidores da indústria farmacêutica. As atuações de Ralph Fiennes e Rachel Weisz devem ser algumas das melhores das carreiras deles (Weisz até ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante). Ainda que seu último trabalho, 360, tenha decepcionado boa parte das pessoas, é interessante ver que Fernando Meirelles continua sendo um grande nome na indústria, não necessariamente só aqui no Brasil.
Filme imprescindível no exterior: O Jardineiro Fiel (2005)

 

Willian Kennedy (roteirista) e Hector Babenco no set de Ironweed

Hector Babenco, por Marcelo Müller
Sim, o argentino Hector Babenco figura num top de brasileiros, menos pelo documento que atesta sua naturalização, e mais pelos vínculos domiciliar e, sobretudo, artístico que ele mantém com nosso país. Fora a polêmica, estamos aqui para falar sobre Babenco e seu trabalho em meio às estrelas da constelação hollywoodiana. A começar por O Beijo da Mulher Aranha (1985), longa falado em inglês (mesmo passado no Brasil), pelo qual William Hurt ganhou o Oscar de Melhor Ator. Logo depois, veio o ponto alto, Ironweed (1987), em que dirigiu nada mais, nada menos, do que Meryl Streep e Jack Nicholson (ambos indicados ao Oscar) na pele de alcoólatras que buscavam na fantasia o placebo para amenizar a dor o dia a dia. Já na década de 1990, Babenco assinou a direção de Brincando nos Campos do Senhor (1991), aventura pela selva amazônica que contou no elenco com nomes internacionais, tais como: John Lithgow, Tom Berenger, Daryl Hannah, Aidan Quinn, Tom Waits, Kathy Bates, entre outros. Sem medo de errar (pelo menos não de errar feio) dá para sentenciar: Hector Babenco é o cineasta que melhor nos representou na terra do Tio Sam.
Filme imprescindível no exterior: Ironweed (1987)

 

Rodrigo Santoro em 300

Rodrigo Santoro, por Eduardo Dorneles
Às vezes você tem apenas uma chance para concretizar um plano ou um sonho. E ainda que essa oportunidade possa gerar vergonha naqueles que estão ao seu redor, uma chance é sempre uma chance. É apenas o primeiro passo. Foi nesse espírito que Rodrigo Santoro, ator já consagrado no Brasil, desembarcou nos EUA em 2003. Sua primeira cena em terras norte-americanas você certamente tem na memória: ele saindo do mar, com a prancha de surfe debaixo do braço e jogando o cabelo para trás no filme As Panteras Detonando (2003). Um rosto bonito. Apenas isso. Afinal, nem falas o personagem tinha. Vergonhoso? Talvez. Mas foi o pontapé inicial para que trilhasse uma carreira de prestígio. Depois as coisas começaram a se alinhar. Sua participação no seriado Lost foi crucial para sua entrada definitiva no mercado. Porém, foi em 2007, na pele de Xerxes em 300, que seus status assumiu de vez a de um astro. Seu excelente desempenho, algo completamente diferente do que já havia sido feito até então, lhe garantiu prestígio não só na indústria cinematográfica, mas jogou no alto a perspectiva que o público fazia a seu respeito. Ele não era mais o sujeito que causava vergonha-alheia.
Filme imprescindível no exterior: 300 (2007)

 

Seu Jorge em A Vida Aquática com Steve Zissou

Seu Jorge, por Danilo Fantinel
A partir dos anos 2000, Seu Jorge tomou de assalto palcos e telas no Brasil e no exterior. Desde então, a carreira do cantor, compositor, instrumentista, produtor e ator não teve trégua, levando o artista a conquistar um público crescente. No cinema gringo, seu grande destaque foi em A Vida Marinha com Steve Zissou (2004), de Wes Anderson, no qual atua ao lado de estrelas como Bill Murray, Cate Blanchett, Willem Dafoe e Owen Wilson, além de participar da trilha sonora com versões em português para totens do rock como Rebel Rebel, Starman, Rock & Roll Suicide e Life on Mars?, todas músicas assinadas por David Bowie. Seu Jorge também interpretou um papel em O Escapista (2008), de Rupert Wyatt, mas seu desempenho neste longa não chegou nem perto da projeção cinematográfica que o artista ganhou no mundo após o impacto de alguns dos grandes sucessos do cinema nacional em terras estrangeiras, como Cidade de Deus (2002), Tropa de Elite 2 (2010) e mesmo o curioso curta Tarantino’s Mind (2006), web hit global sobre teorias que interligam os filmes de Quentin Tarantino.
Filme imprescindível no exterior: A Vida Aquática com Steve Zissou (2004)

 

Sonia Braga em O Beijo da Mulher Aranha

Sônia Braga, por Renato Cabral
Lembrada sempre como a eterna Dona Flor ou como a fogosa Tieta, dois personagens fortes de Jorge Amado levados ao cinema, Sônia Braga fez seu caminho no exterior sem muita surpresa. Grande atriz do cinema e da televisão nacional, de alguma forma, já era esperado. Indicada a 3 Globos de Ouro, Braga é uma das principais atrizes latinas no mercado norte-americano e sempre lembrada, atualmente, para papeis em telefilmes e séries de televisão norte-americanas. Tudo iniciou com sua ovacionada performance em O Beijo da Mulher Aranha (1985), de Hector Babenco. De lá pra cá, a brasileira atuou ao lado de Clint Eastwood, Richard Dreyfuss, Kim Cattrall (em cenas inesquecíveis de Sex and the City), Jennifer Garner, Jessica Alba e Jennifer Lopez. Dirigida ainda por cineastas como Nicolas Roeg, Robert Redford e Eastwood, nossa paranaense permaneceu mais tempo explorando seu ofício nos Estados Unidos do que no Brasil durante esses anos, o que ainda possibilitou que sua sobrinha, Alice Braga, entrasse nesse mercado que brilha aos olhos de alguns atores e diretores.
Filme imprescindível no exterior: O Beijo da Mulher Aranha (1985)

 

Wagner Moura em Elysium

Wagner Moura, por Matheus Bonez
O baiano de 37 anos é um dos atores mais presentes no cinema nacional. É praticamente impossível não ouvir o nome de Wagner Moura, ao menos, duas vezes por ano em distintas produções. Em terras estrangeiras, Wagner começou a chamar a atenção por sua atuação em Tropa de Elite (2007), produção vencedora do Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2008. Porém, ainda demorou alguns anos para o ator estar em um filme que não fosse nacional. Sua estreia em Hollywood foi com Elysium (2013), ao lado da amiga Alice Braga e do astro Matt Damon. E, talvez pela primeira vez em sua carreira, a atuação do intérprete não foi das mais aplaudidas. Não chegou a ser rechaçada, mas dividiu público e crítica. O que não tira a importância do personagem no filme e nem deturpa seu talento. Tanto que está confirmado no elenco de Trash (2014), novo filme do diretor Stephen Daldry que traz ao seu lado Rooney Mara e Martin Sheen, além de outros nomes de peso do cinema brasileiro, como Selton Mello, André Ramiro e Jesuíta Barbosa. Precisa de mais para reconhecer o destaque que Wagner tem em terras internacionais?
Filme imprescindível no exterior: Elysium (2013)

 

Walter Salles e o elenco de Na Estrada no Festival de Cannes

Walter Salles, por Yuri Correa
Responsável por Central do Brasil (1998), um dos filmes brasileiros mais reconhecidos no exterior, Walter Salles cimentou bem a sua carreira no país com outros dois longas-metragens excelentes (porém menos visados) antes de partir para o mercado estrangeiro de cinema. Ironicamente, seu segundo projeto para o cinema foi a obra Terra Estrangeira (1996), que justamente apresenta uma trama sobre um brasileiro em perigo no exterior; não que o cineasta alguma vez tenha estado com a garganta em risco em meio às superproduções hollywoodianas, embora tenha dirigido o apenas mediano Água Negra (2005). Salles logo nos presenteou com o ótimo Diários de Motocicleta (2004), que inclusive levou o Oscar de Melhor Canção Original para casa, pela belíssima Al Outro Lado Del Río. Tendo ainda realizado no Brasil antes disso o simples e excepcional Abril Despedaçado (2001), o diretor demonstrava uma tendência a explorar temas recorrentes: o povo, a estrada e a viagem que une os dois. O que o levaria a realizar lá fora o excelente Na Estrada (2012), adaptação da reconhecida obra de Jack Kerouac, que eleva ao máximo estas tendências através de um escritor e obra que sempre visaram estes mesmos temas.
Filme imprescindível no exterior: Na Estrada (2012)

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