Foram anunciados na noite do último dia 11 de janeiro os vencedores do 72° Golden Globes Awards – o Globo de Ouro – prêmio concedido pela Hollywood Foreign Press Association (Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood). Dividida entre produções para o Cinema e para a Televisão, a cerimônia busca reconhecer os melhores em cada uma das suas 25 categorias. Em Cinema, são 14 disputas, que apontam não apenas os que mais se destacaram em Drama ou em Comédia ou Musical, como também intérpretes, compositores, longas de animação e estrangeiros.
Confira a crítica de Boyhood: Da Infância à Juventude, por Conrado Heoli
Confira a crítica de O Grande Hotel Budapeste, por Willian Silveira
Apontado como um dos principais termômetros para o Oscar, o Globo de Ouro teve sua importância diminuída nos últimos anos com a antecipação da entrega do prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Assim, quando os vencedores do Globo são anunciados, todos os membros da Academia já enviaram seus votos – os indicados deste ano serão anunciados na próxima quinta! O Globo, entretanto, possui dois pesos diferentes: primeiro, reflete quais são as tendências de cada ano – é uma das primeiras premiações e divulgar seus indicados, ainda no começo de dezembro do ano anterior – e seus vencedores podem contribuir na campanha dos mais fortes candidatos – afinal, um prêmio a mais nunca foi problema pra ninguém.
Neste ano, quatro filmes foram eleitos como “os melhores de 2014” no Globo de Ouro: Boyhood: Da Infância à Juventude (Melhor Drama), O Grande Hotel Budapeste (Melhor Comédia/Musical), Como Treinar o Seu Dragão 2 (Melhor Animação) e Leviatã (Melhor Estrangeiro). Se os dois primeiros tiveram suas chances de vitória no Oscar potencializadas, para os seguintes quase não houve diferença. Entre os desenhos animados, o prêmio da Academia deverá ir para Uma Aventura Lego (o mais premiado do ano pela crítica) ou Operação Big Hero (da Disney, o estúdio com maior tradição no gênero). Entre os concorrentes em língua estrangeira, o russo Leviatã – já premiado como Melhor Roteiro em Cannes – obteve um fôlego importante, mas a disputa deverá seguir entre o polonês Ida (o mais premiado pela crítica), o sueco Força Maior (um favorito do público) e o argentino Relatos Selvagens (aplaudido em Cannes, nem foi indicado pelo Globo, mas conta com a presença do astro Ricardo Darín como um dos seus pontos fortes).
Confira a crítica de Leviatã, por Roberto Cunha
Confira a crítica de Como Treinar o Seu Dragão 2, por Robledo Milani
O filme mais premiado deste ano no Globo de Ouro foi Boyhood, e com isso seu favoritismo ao Oscar só deve cresceu. Escolhido como Melhor Filme em Drama, Melhor Direção (outra barbada) e Melhor Atriz Coadjuvante (vitória impossível de ser contestada), deixou o diretor Richard Linklater e a atriz Patricia Arquette com praticamente as duas mãos na estatueta dourada que será entregue no final de fevereiro. Perdeu nas categorias de Roteiro (que nunca foi um dos seus fortes, uma vez que foi construído ao longo de doze anos à base de improvisos revistos anualmente) e como Ator Coadjuvante (apesar de ótimo, Ethan Hawke teve seu desempenho eclipsado por Arquette). No Oscar, Boyhood deve concorrer, além destas cinco categorias, também a Montagem (com boas chances de vitória). Mas mesmo que não consiga muito mais, tem tudo para ser o grande vencedor do ano.
Sobra, portanto, o divertido O Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson, premiado no Festival de Berlim e filme com o maior número de indicações ao Bafta (o Oscar inglês) neste ano. No Globo, apesar de concorrer também como Melhor Direção, Ator em Comédia/Musical (Ralph Fiennes) e Roteiro, ganhou apenas como Melhor Filme em Comédia/Musical (que, no final das contas, era a categoria mais importante). Deve chegar com força no Oscar, disputando também Direção de Arte, Figurino, Montagem, Fotografia, Trilha Sonora, Maquiagem e Som. Seu reconhecimento, no entanto, tem tudo para ficar restrito às categorias técnicas, indo no máximo até o Roteiro Adaptado.
Confira a crítica de Birdman, por Rodrigo de Oliveira
Confira a crítica de Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo, por Robledo Milani
Quem perdeu com o Globo de Ouro, então? O maior derrotado do ano foi, surpreendentemente, aquele com o maior número de indicações: Birdman, que disputava 7 prêmios e levou apenas dois, os de Melhor Ator em Comédia/Musical (Michael Keaton, outro que já está com o Oscar nas mãos) e Roteiro (que é Original, ou seja, no Oscar disputará uma categoria diferente de Budapeste). Certamente fará bonito no prêmio da Academia, devendo alcançar algo em torno das dez indicações, mas suas chances de vitória devem ficar reduzidas a menos da metade destas.
Quem mais se deu mal? Caminhos da Floresta, o único musical indicado a Melhor Filme, é um sucesso de público, mas perdeu nas três categorias a que concorria e deve sair de mãos abanando também no mês que vem. O Jogo da Imitação tem sido vítima de muitas polêmicas e reclamações de ativistas que acusam os realizadores de terem diminuído a abordagem sobre a intimidade do personagem principal, que teria cometido suicídio por ser homossexual. Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo, ganhou o prêmio de direção em Cannes, mas não emplacou em nenhuma das suas indicações. Uma vitória para Steve Carell (Melhor Ator em Drama) ou para Mark Ruffalo (Melhor Ator Coadjuvante) poderia fazer muita diferença em suas campanhas. Jake Gyllenhaal é outro que precisava da vitória como Melhor Ator em Drama por O Abutre, mas mesmo sendo o mais premiado do ano pela crítica, viu suas chances se esvaziarem com a escolha por Eddie Redmayne em A Teoria de Tudo. Os dois são jovens demais para o Oscar, e devem brigar entre si numa disputa que somente servirá para abrir caminho para Keaton, que com esse resultado ficou praticamente sem concorrentes.
Confira a crítica de Para Sempre Alice, por Renato Cabral
Confira a crítica de Whiplash: Em Busca da Perfeição, por Robledo Milani
Julianne Moore, Melhor Atriz em Drama por Para Sempre Alice (sua primeira vitória em cinema em oito indicações), e J. K. Simmons, Melhor Ator Coadjuvante por Whiplash: Em Busca da Perfeição, apenas confirmaram o que todo mundo esperava. Ambos foram muito premiados pela crítica, e esse reconhecimento maior da imprensa serve para consolidar as posições deles como franco favoritos. Suas derrotas no Oscar são virtualmente impossíveis.
Resta Amy Adams, que ganhou o Globo como Melhor Atriz em Comédia/Musical pelo segundo ano consecutivo, agora por Grandes Olhos. Suas chances de ser finalista no Oscar já eram poucas, mas caso forem confirmadas este resultado não deve afetar em nada na intenção de uma vitória. Das intérpretes femininas, somente as demais candidatas em Drama é que representariam uma ameaça ao favoritismo de Moore. Rosamund Pike, por Garota Exemplar, é a mais premiada da Crítica, enquanto que Jennifer Aniston, que surgiu do nada com o independente Cake: Uma Razão para Viver, podia aproveitar o fator surpresa da sua indicação e se tornar uma concorrente de peso. Mas como nenhum destes cenários se confirmou, nada deve mudar.
Confira a crítica de Garota Exemplar, por Robledo Milani
Confira a crítica de O Abutre, por Robledo Milani
No departamento musical, a vitória da Trilha Sonora de A Teoria de Tudo foi a mais inesperada – ninguém apostava no trabalho convencional de Jóhann Jóhannsson, ainda mais frente a veteranos como Hans Zimmer e Alexandre Desplat. A situação ficou confusa, e qualquer conjunção no Oscar poderá ser possível. Já em Canção Original a composição “Glory”, de John Legend e Common, era a oportunidade perfeita para recompensar os esforços políticos de Selma, cinebiografia de Martin Luther King. Lembra um pouco o que aconteceu com U2 no ano passado, que ganhou o Globo com “Ordinary Love”, tema de Mandela: O Caminho para Liberdade, e depois perdeu o Oscar para uma trilha de um desenho da Disney. Ou seja, discursos sociais e politizados parecem funcionar bem com os jornalistas, mas não entre os artistas que votam no Oscar!
No final das contas, essa edição do Globo de Ouro será lembrada mais por confirmar o que já se esperava – nós, aqui no Papo de Cinema, acertamos 9 das 14 categorias, além de outras duas que estavam entre as nossas favoritas. Ou seja, apenas três resultados causaram surpresa – Ator em Drama, Longa de Animação e Trilha Sonora. Nada, no entanto, comparado ao fraco desempenho das apresentadoras Tina Fey e Amy Poehler, que mal apareceram, ou a apressada escolha de George Clooney para receber o Troféu Cecil B. DeMille pelo conjunto da sua carreira (o ator recém completou 50 anos, ou seja, ainda tem muito a fazer nos próximos anos). Em resumo: foi divertido enquanto durou, mas ficou longe de provocar grandes mudanças que serão lembradas nas próximas semanas.
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