A noite da segunda-feira foi marcada pelo início da competição dos longas-metragens “latinos”. É engraçada esta denominação, afinal, latinos somos todos: argentinos, uruguaios, chilenos, colombianos, venezuelanos… e brasileiros, não? Deveria ser “competição nacional” e “competição internacional”, e não “brasileiros” e “latinos”, mas enfim… não sou eu o dono do festival, certo?
O primeiro filme estrangeiro exibido foi uma produção argentina: Por sus Propios Ojos (acima), de Liliana Paolinelli. Estrelado por Ana Carabajal e Luisa Núñez (as duas na cena acima), este filme chega a Gramado com o prêmio de Melhor Atriz (dividido entre as duas) no Festival de Biarritz (França) na bagagem. O legal é que a diretora e Ana, acompanhadas de outra atriz do elenco, Mara Santucho, estão aqui em Gramado. Mara, aliás, já pode ser considerada uma veterana por aqui: ela levou o kikito de Melhor Atriz em 2006 por Cuatro Mujeres Descalzas. Mara e Ana interpretam estudantes decididas a fazer um documentário como tema de conclusão de curso da faculdade. A ideia, tão interessante a princípio, se revela de grandes dificuldades devido a escolha polêmica do tema: a vida das mulheres que possuem familiares presos atrás das grandes. Como a grande maioria se recusa a dar depoimentos, elas encontram uma oportunidade quando uma mãe (Núñez) se dispõe a falar sobre as mudanças em sua vida após a prisão do filho mais novo. Combinando ficção com documentário, o filme resulta em algo irregular, indeciso entre os bons desempenhos do elenco e a fraca participação documental, como se por si só o enredo conseguisse atrair a atenção da audiência, sem um entorno dramático melhor estruturado.
Conclusão bastante similar à sentida no final da projeção do segundo longa brasileiro em competição: Vingança (abaixo), de Paulo Pons. Primeira produção do movimento Pax de Cinema Brasileiro, que propõe a realização de vários filmes simultaneamente e todos de baixo orçamento, Vingança esconde bem suas carências, numa aparência bem atraente e cercado de méritos bastante interessantes. O elenco, encabeçado pelos competentes Erom Cordeiro (Sexo com Amor?, 2008) e Branca Messina (Não Por Acaso, 2008), traz ainda participações de nomes como Guta Stresser (A Grande Família, 2007), Márcio Kieling (2 Filhos de Francisco, 2005), José de Abreu (que estava também em Dias e Noites) e Bárbara Borges. Cordeiro está muito bem, como um jovem gaúcho atormentado que vai até o Rio de Janeiro em busca, claro, de vingança. Ele quer acabar com a vida do rapaz que teria estuprado a noiva dele. Só que ao se aproximar do cara, acaba se envolvendo com a irmã dele, provocando uma confusão de interesses. O começo é promissor, a boa trilha sonora de Dado Villa-Lobos já é favorita ao kikito, o fato de ter sido feito em vídeo digital não provoca grandes (d)efeitos estéticos e o diretor aparenta ter uma mão segura do seu discurso. O grande problema é mesmo o roteiro, que precisaria ter sido mais afinado, principalmente no centro da ação, onde termina se perdendo em discussões dispensáveis, e no final, numa solução rápida e pouco convincente. Mas como é trabalho de estreante, ainda cheio de boas intenções, não chega a ser uma decepção tão marcante. Talvez no futuro possamos opinar melhor sobre o talento, ou falta de, dos realizadores.
A segunda noite do 36º Festival de Cinema de Gramado foi marcado pela fraca presença do público – metade do Palácio dos Festivais ficou praticamente vazia – e pela aparição de várias “celebridades”. Além dos argentinos já citados, praticamente toda a equipe de Vingança se fez presente, isso sem comentar outros nomes, como Daniela Escobar, Antônio e Rocco Pitanga, Samara Felippo, Silvia Bandeira, Werner Schunemann, Nelson Xavier, Eduardo Galvão e outros. Renata Boldrini, ex-apresentadora do Canal Telecine, ganhou a companhia do ator Paulo Betti na apresentação oficial do Festival, formando uma dupla completamente desequilibrada. Enquanto ela esbanjava classe e simpatia, ele parecia estar narrando uma partida de futebol, de tanta empolgação que demonstrava na nova função. Menos, Paulo, menos. E esse sinal de contenção pode servir também para nós, espectadores. Afinal, a semana está só começando, e há muito ainda pela frente!
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