Presente na capital de Goiás para acompanhar o Festival Internacional de Cinema de Goiânia 2023, o Papo de Cinema assistiu aos títulos selecionados para a Mostra Competitiva Origens, que acontece no Cine Lume Ritz (R. 8, 501 – St. Central). Na sessão, três longas e cinco curtas, além de debates de apoio, destacaram o cinema goiano, visando tratar da historicidade e questões ligadas ao povo da região. Em variados gêneros, os filmes se conectam entre temas como identidade e território. A seguir, vamos conferir do que tratam esses projetos e de que maneiras eles nos propõem reflexões. Siga o fio!
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A matéria mais verificada pelos espectadores, sem dúvida, deu conta de observar atentamente as manifestações culturais historiograficamente maquiadas. Das oito produções exibidas, cinco examinaram e deram espaço para que povos originários e cidadãos LGBTQIAP+ pudessem contar suas histórias. Abrindo os trabalhos, o documentário O Destino Está Na Origem (2022), de Pedro de Castro Guimarães, evidenciou a estrutura rara e valiosa de uma aldeia multiétnica localizada em Goiás, cuja proposta é reunir diversas tribos indígenas. Tal configuração renova os entendimentos clássicos da História, empoderando os retratados e os instigando a disseminar sua própria cultura. No total, oito etnias se comunicam no espaço e possibilitam uma grande convergência de práticas ancestrais.
Na sequência, discutindo com a bem-vinda onda cinematográfica brasileira atual – que produz em grande escala tramas sobre obstáculos e incertezas da população LGBTQIAP+ nacional – três das apostas selecionadas acompanham múltiplos personagens que revelam seus árduos cotidianos em uma sociedade preconceituosa, mas, nas mesma medida, enfrentam com coragem e arte as estruturas conservadoras. Duas destas são longas. O primeiro a ser projetado aos espectadores foi o documentário Capim Navalha (2021), de Michel Queiroz, que, ao longo de 90 minutos, dá voz a seis pessoas trans que moram na Chapada dos Veadeiros, parque nacional localizado no nordeste de Goiás. Diferentes entre si, suas trajetórias se encontram na descoberta íntima de cada um. Não há pressa no desenrolar do enredo, inspiração que estimulou o público a refletir com sensibilidade.
Já Granada (2020), de Benedito Ferreira, também em linguagem documental, foi, sem dúvida, uma das empreitadas que mais comoveu os presentes. Nela, o ex-bailarino Dom, em idade avançada, discorre sobre seu elegante passado como dançarino. Nos anos 1960 e 1970, Oldom Bomfim percorreu diversos estados do Brasil se apresentando com grupos musicais ousados e disruptivos, trabalho este que possui valor inestimável ao artista. Entre lembranças e anseios, o diretor Benedito Ferreira desvenda um intérprete único, que poderia ter sido mais valorizado por seus contemporâneos. Ainda em tom de homenagem, o curta Transformação de Identidades da Noite (2023), de Patrick Mendes, honrou a trajetória de personagens que criaram a cena queer na cidade de Goiânia nos anos 1980, 1990 e 2000. Um resgate inestimável de alegria, memória e emoção.
Dois curtas também trataram de curvas que, cada vez mais, se manifestam na atualidade. Temas como educação formal e responsabilidade parental encontram holofote no audiovisual brasileiro, reforçando lutas escanteadas. Dançando com as Letras (2023), de Nayara Tavares, por exemplo, segue Sirlene Amorim, educadora que trabalha como alfabetizadora há mais de 18 anos. No entanto, quando começa a trabalhar na APAE, enfrenta novos desafios ao alfabetizar pessoas com deficiência. Já Pensão Alimentícia (2023), de Silvana Beline, drama de Silvana Beline, obriga uma mãe, interpretada por Josi Campos, a disputar intelectualmente com o pai de suas filhas para obrigá-lo a cumprir seus deveres. Em paralelo à luta por seus direitos enquanto mãe solo, labuta incansavelmente para sustentar sua família. De forma incitante, nos convida a raciocinar sobre contrariedades que deveriam ser mais presenciadas do ponto de vista legal. Indiferença paterna, até quando? Afinal, os filhos não pediram para nascer.
O Festival Internacional de Cinema de Goiânia 2023 proporcionou uma ampla gama de sugestões e abordagens cinematográficas, estabelecendo uma eloquente ponte para que os habitantes locais assimilassem de maneira profunda e significativa as pautas mais relevantes da contemporaneidade. Ao realizar essa proeza, o festival não apenas cumpriu, mas excedeu seu objetivo primordial de articular intercâmbios, promovendo uma interação enriquecedora entre diferentes visões de mundo e perspectivas artísticas. Além disso, a diversidade de obras apresentadas contribuiu para enriquecer o panorama cultural da região, consolidando o GIFF como um catalisador de diálogo e reflexão.
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