Tudo ainda é novidade e investigação, mas o 2º Festival Internacional de Cinema de Goiânia 2023, que acontece entre os dias 29 de novembro e 03 de dezembro, com 45 produções selecionadas, mostra que a comunidade da capital de Goiás estava ávida por uma janela cinematográfica acessível e diversa. E um dos grandes responsáveis pela organização do evento que surgiu da “necessidade de gerar conexões”, como se apresenta, é Cássio Domingos, que está construindo pontes necessárias para fortalecer o cinema goiano e brasileiro. Para falar mais sobre o festival, criado por Cássio e Vanessa Goveia, conversamos com o idealizador. Confira este Papo de Cinema exclusivo.
Como surgiu a ideia de criar o Festival Internacional de Cinema de Goiânia?
Começou em 2016. A região ainda não tinha um festival nessa estrutura clássica, com inscrições e abertura para todos os gêneros, somente eventos específicos, com temáticas. Eu e Vanessa tínhamos esse desejo, de fazer um encontro com debates e competição. Foi demorado, fomos conversando com professores e sondando a secretaria de cultura da cidade para tentar viabilizar o projeto. Conseguimos aprovação apenas em 2021, por meio da Lei Aldir Blanc. Fizemos uma primeira edição online, sem competição, e posso dizer que foi tudo muito simples, com poucos recursos. No fim, acabou que, mesmo com essa estrutura muito pequena, o festival foi muito bem-recebido pelos locais.
E como foi, em 2023, desenvolver a primeira edição presencial?
Começamos um regime amplo de diálogos com organizadores de outros festivais pelo Brasil, para que pudéssemos antever alguns sistemas. Nesse processo, um dos meus maiores auxiliadores foi o Antonio Gonçalves Jr., produtor e fundador do Olhar de Cinema. Ficamos meses conversando, trocando e-mails. Enfim, conseguimos aprovar o festival em dois editais estaduais e, para nós, foi suficiente. Queríamos muito uma mostra competitiva e que ela tivesse debate. Essa sessão deveria ser ampla e que misturasse um pouco dos filmes internacionais e nacionais. Em paralelo, também julgamos importante uma mostra regional que auxiliasse o fomento ao cinema estadual. A questão é que não esperávamos que receberíamos tantos títulos. Usando a plataforma de submissão FilmFreeway, recebemos em torno de 3.000 obras. Chegamos a um entendimento de que era preciso coragem e selecionar uma parcela ínfima dessas submissões para montar uma programação mais acessível. Mesmo assim, com poucas produções, ainda enfrentamos algumas falhas de comunicação com todos os selecionados. Portanto, creio que, nesse primeiro momento, fizemos a escolha certa.
Falhas estas que vocês darão risadas nos anos seguintes, certo?
Tomara! (risos). Mas são aprendizados. Conversamos muito com realizadores de outros eventos do circuito e todos nos dizem que você pode ter toda a teoria possível de como construir um festival de cinema, mas sempre haverá algum ruído. Estamos praticamente fechados para a terceira edição e, a cada ano, tudo irá se encaixar melhor ainda. Estamos com os pés no chão, mesmo conseguindo aprovação em editais e patrocínios.
De que forma o festival dialoga com o audiovisual goiano?
Hoje Goiânia possui escolas de cinema na UEG (Universidade Estadual de Goiás) e no IFG (Instituto Federal de Goiás), mas já havia uma cadeia de produção aqui em Goiás de realizadores mais antigos. Temos profissionais experientes, mas reconhecemos que não existe uma estrutura que Pernambuco possui, por exemplo. Mesmo fora do eixo Rio-SP, esse estado despontou. Estamos tentando criar pontes com professores universitários e acadêmicos, chamando para debates e pedindo apoio para que passado, presente e futuro do cinema goiano sejam pautas do GIFF. A UFG (Universidade Federal de Goiás) nos apoiou, foi lá que abrimos as festividades. Na nossa visão, ganharemos muito com esses laços institucionais. Estamos criando raízes com essa galera das universidades, fomentando a produção local e formando público. Uma coisa puxa a outra.
E como foi a escolha da sala de exibição?
Não estavam acontecendo sessões de eventos no Cine Ritz, que é o único cinema de rua de Goiânia. Entendemos que esse charme nostálgico que o espaço proporciona seria perfeito para receber a programação. Lutando para sobrevier em uma época de streamings, tornar o Ritz a sede do evento também foi uma forma de homenageá-lo.
No futuro, pensando em ampliação, quais seriam os desejos da organização?
Ver, de fato, vínculos internacionais profundos acontecendo na região. Por exemplo, há um casal de produtores do Quirguistão presentes nessa edição. Seria incrível um realizador goiano conseguir uma coprodução com uma produtora de fora do país, com o filme sendo rodado aqui e tudo mais. Amamos exibições e debates, mas ver intercâmbios acontecendo em Goiânia seriam um sonho realizado.
E no que diz respeito à estrutura?
Mais um cinema para ocuparmos. Se tudo ocorrer como esperado, este segundo espaço será o Cine Astor, outra sala de rua da cidade que está passando por um processo de renovação. Mas estamos muito tranquilos no Ritz. A ideia no momento é lotar a primeira sala para, depois, pensar na segunda.
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