A noite de abertura do 39º Festival de Cinema de Gramado teve tudo o que sempre esperou desse que é um dos mais tradicionais festivais de cinema brasileiro: frio e glamour. Todo mundo que estava presente compareceu ao Palácio dos Festivais bem encasacado, para fugir das baixas temperaturas da cidade serrana. Dentro do cinema, apesar das anunciadas melhorias estruturais, a situação não foi muito diferente, e os que não se agasalharam contando com um ambiente aquecido internamente se deram mal.
Apesar de marcado para as 19h, as apresentações foram começar com mais de 40 minutos de atraso. Após a entrega do Troféu Cidade de Gramado para Selton Mello – uma homenagem justa, porém apressada – em nome de sua carreira cinematográfica, foi a vez dos agradecimentos. Legal desse momento foi a presença massiva de quase toda a equipe do filme. Estavam lá para acompanhar Selton e apresentar o longa O Palhaço, convidado para a sessão de abertura fora de competição, a produtora Vânia Catani e os atores Paulo José, Danton Mello, Thogun, Ferrugem, Jackson Antunes, Erom Cordeiro, Teuda Bara, Fabiana Karla e muitos outros. Isso garantiu também bastante trabalho para os paparazzi e para os caçadores de autógrafos, que fizeram a festa no tapete vermelho.
O Palhaço é uma obra madura e bastante autoral. E o melhor, consegue estabelecer um simpático diálogo com o público, que se comove com a história de Benjamin, um palhaço de circo que precisa cuidar do pai e de todo o negócio, ao mesmo tempo em que se descobre infeliz com a atividade e anseia por algo novo e diferente. O filme pergunta se o segredo da felicidade esta lá fora ou dentro de nós, e se basta mudar uma ou outra coisa para que vejamos as mesmas situações sob outras óticas. Questionamentos pertinentes que intrigam o espectador, envolvido ainda com a bela fotografia, com um elenco primoroso e com a mão segura do realizador, que soube se fazer ouvir com propriedade e sabedoria. Esse é recém seu segundo trabalho de Selton Mello como cineasta, após Feliz Natal (2008), e recentemente ganhou quatro prêmios no Festival de Paulínia: Direção, Roteiro, Figurino e Ator Coadjuvante, para Moacir Franco. Todos mais do que merecidos.
A noite continuou com a apresentação do primeiro filme brasileiro da mostra competitiva, Riscado, de Gustavo Pizzi. Apesar de não ser inédito – foi exibido no Festival do Rio 2010 e no Festival de Verão do RS 2011, entre outras competições – algo que até pouco tempo Gramado ainda exigia, acabou sendo selecionado para as sete vagas dentre mais de 100 inscritos. Esse fato é quase inexplicável, pois o filme possui méritos suficientes para isso. É uma obra menor, com foco quase que exclusivamente nos atores, e que não se justifica enquanto cinema. O único trabalho notável aqui é a atuação da protagonista Karine Teles, que aparece em cena como uma atriz em busca de uma grande oportunidade que a faça se realizar na profissão. E se isso não acontece na ficção, o mesmo pode ser dito sobre a reação da platéia do lado de cá da tela – no final da projeção o cinema estava praticamente vazio, pois mais da metade dos presentes abandonaram a sala durante a exibição. Constrangedor.
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