Festival que se presta sempre tem dois elementos que não podem faltar: polêmicas e homenagens. Mais do que bons filmes – que são cada vez mais raros – são estes dois quesitos que realmente chamam atenção. E o que pode ser melhor quando eles andam de mãos dadas? Foi o que aconteceu aqui em Gramado, quando o cineasta Júlio Bressane foi convidado para receber o Troféu Eduardo Abelin pelo conjunto de sua obra.
Diretor premiadíssimo, vencedor de 7 Candangos no Festival de Brasília – quatro deles de Melhor Filme, por Tabu (1982), Miramar (1997), Filme de Amor (2003) e Cleópatra (2007) – e reconhecido até no Festival de Veneza – prêmio especial por Dias de Nietzsche em Turim (2001) – ele nunca teve sorte em Gramado: foi selecionado apenas em 1985, por Brás Cubas, ocasião em que saiu de mãos abanando. Agora, chamado para receber este troféu honorário, de cara declarou: “Gramado nunca foi legal comigo, e eu mais do que merecia!”
O tom acusatório e reclamão das entrevistas concedidas por ele antes do festival foi um pouco atenuado na hora de subir ao palco. Lá em cima, sob todos os flashes e holofotes, parece que ele finalmente se emocionou. Deixou as críticas de lado e num singelo “obrigado” deixou clara sua satisfação. O público pode não entender as obras de Júlio Bressane, a crítica pode se dividir em relação aos seus trabalhos, mas ninguém questiona seu valor para a nossa cinematografia e sua importância enquanto questionador, propondo novos olhares e sugerindo uma análise mais original de fatos talvez até comuns, porém merecedores de um estudo mais profundo. Bressane tem uma história, uma trajetória, e Gramado fez bem em conceder-lhe esta homenagem.
A quarta noite do 36º Festival de Cinema de Gramado seguiu com a exibição de dois longas, ambos dividindo a opinião do público e da crítica. Antes de Pachamama, de Eryk Rocha, documentário que mais parece um “Globo Repórter” estilizado, mostrando que o filho de Glauber Rocha ainda tem muito o que mostrar para merecer o pesado sobrenome que carrega, fomos presenteados por Perro Come Perro, produção colombiana dirigida por Carlos Moreno. Dono de méritos evidentes, principalmente estéticos, e ainda mais para um filme vindo da Colômbia, país que conhecemos tão pouco cinematograficamente falando, Perro Come Perro pode ser considerado um ‘sub-Guy Ritchie’, que por sua vez é um ‘sub-Tarantino’. Ou seja, a originalidade passou longe.
Perro Come Perro começa em plena violência: três bandidos invadem uma casa para recuperar uma grana roubada por dois gêmeos de um poderoso mafioso. Durante o ‘interrogatório’ com um dos irmãos, para saber onde esconderam o roubo, o garoto morre. Revirando o lugar, um dos criminosos encontra a fortuna, mas não anuncia aos demais, guardando-a para si. A partir de então começa uma matança generalizada em busca do dinheiro perdido, com direito a alucinações, vodus, perseguições e tudo o mais que o gênero permite. Apesar de abusar dos clichês, o bom humor passeia por toda a obra, conferindo uma percepção mais leve da narrativa. Talvez surpreenda na hora da entrega dos kikitos, principalmente porque a seleção latina deste ano não é das melhores, mas não é o meu favorito até o momento.
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