Num dos artigos que o Papo de Cinema está produzindo acerca de todas as categorias do Oscar, exatamente o de Melhor Filme, nosso editor-chefe, Robledo Milani, se refere a Lion: Uma Jornada Para Casa (2016) como “uma produção baseada em fatos, presente (no Oscar) apenas para preencher o espaço tradicionalmente reservado para títulos de origem inglesa”. Não são poucos os que concordam com ele, objetores veementes da inclusão do longa de Garth Davis entre os nove indicados ao principal prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Todavia, há quem se sinta tocado pela história do menino indiano que se perde da família e, já adulto, empreende uma dura jornada às suas origens.

Para esquentar o debate, promovemos este Confronto entre Rodrigo de Oliveira e Matheus Bonez. O primeiro defende Lion: Uma Jornada Para Casa do ataque incisivo do segundo. Além disso, você poder conferir a opinião dos demais colaboradores do site, acessando a nossa Grade Crítica que reúne as notas para o longa-metragem em questão, mas não somente, já que estão ranqueadas todas as produções que concorrem a alguma categoria do Oscar 2017. Confira o Confronto e a nossa Grade Crítica, não esquecendo, claro, de comentar em ambos.

 

 

A FAVOR :: “Um longa-metragem emocionante”, por Rodrigo de Oliveira
Esta produção comandada por Garth Davis é construída pela emoção. Difícil não simpatizar com a jornada de Saroo e não torcer para ele encontrar a família perdida na infância. Diferentemente de outros longas com astros em seu elenco, que procuram mostrá-los logo para entregar algo aos espectadores, nem que para isso precisem quebrar a linearidade sem motivo melhor, este filme segue a ordem cronológica, deixando que praticamente a primeira metade seja protagonizada pelo estreante Sunny Pawar – um verdadeiro achado. Carismático e muito expressivo, o jovem ator indiano é a bússola emotiva dessa parte inicial. Quando Nicole Kidman aparece, não nos sentimos “recompensados” pela espera, afinal ela vive uma personagem que entra organicamente na história. Com talento e conhecimento de causa (a atriz adotou dois de seus filhos), Kidman se doa emocionalmente, conquistando o público com sua terna interpretação. Aos 50 minutos de filme, Dev Patel surge e, com sua performance mais introspectiva, toma o filme. Saroo precisa encontrar sua família, mas também precisa se encontrar. E é isso que vemos na tocante interpretação do ator. De forma competente, Davis consegue tocar os botões certos na plateia, realizando um longa-metragem emocionante.

CONTRA :: “Não acredita na própria história”, por Matheus Bonez
O filme comete um dos pecados mais mortais do cinema, o de não acreditar na própria história. Ao utilizar excessivamente a trilha sonora dramática para momentos já lacrimosos por natureza, o diretor Garth Davis parece não mostrar confiança em sua estreia na condução de um longa-metragem, se perdendo num caminho fácil para conquistar o espectador, especialmente o menos exigente. Isso torna o filme ruim? Muito longe disso. Porém, se, por um lado, as grandes atuações de Dev Patel e Nicole Kidman são os chamarizes deste conto do indiano adotado por um casal de australianos, que resolve ir atrás de suas origens para reencontrar a família de quem se perdeu quando criança, por outro, o desenvolvimento da narrativa acaba sendo prejudicado também pela obviedade na relação entre os flashbacks e o tempo presente. Em alguns momentos funciona. Em outros, parece brincadeira com a nossa inteligência. O cineasta não precisava bancar “o diferentão”. Mas, se as seis indicações ao Oscar fazem acreditar que a produção deu certo, Davis deve prestar mais atenção aos detalhes nos futuros projetos de sua filmografia. Caso contrário, é capaz de entrar para a lista de diretores razoáveis que nunca vão conseguir imprimir um pouco de personalidade e autoria às suas obras.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar

avatar

Últimos artigos de (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *