Terror não é apenas susto. Não por acaso, o gênero foi um dos primeiros a se estabelecer, pois lida com um dos instintos mais universais: o medo. E que melhores fases para lidar com isso do que a infância e a adolescência, quando normalmente começamos a descobrir acerca da nossa própria finitude? Esses temas, associados aos amores e demais sentimentos extrapolados dessa parte de nossas vidas, foram elementos essenciais para o sucesso da agora cultuada leva de filmes da década de 1980, hoje emulada de todos os lados – Super 8 (2011) e Stranger Things (2016-) estão aí para comprovar o buzz. É aí que entra este novo projeto adaptado do calhamaço de Stephen King, tendo como foco narrativo um hepteto distinto de crianças da pequena cidade de Derry. O diretor Andy Muschietti preza pela construção de cada um deles e o que os apavora, deixando claro que o monstro é pouco mais que uma metáfora do amadurecimento e do consequente embate com nosso próprios medos. Além disso, o realizador sabe dar coesão à atmosfera do longa-metragem, acertadamente mais focado nela que em provocar sustos pontuais. Então perceba como ele usa planos inclinados (dutch angles) sempre que Pennywise está brincando com a realidade de uma vítima, também demonstrando sensibilidade ímpar quando investe numa longa passagem para mostrar os meninos ajudando Beverly (Sophia Lillis), a única garota do grupo, a limpar o banheiro ensanguentado que o monstro usou para lhe aterrorizar (um claro simbolismo da menstruação e do papel que o gênero masculino deveria ter na desestigmatização do tema). Some isso ao carisma de todo o elenco infantil (o adulto é tratado apropriadamente de forma caricata), e temos uma obra realmente eficiente em causar e falar sobre medo.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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