Figura excêntrica de Hollywood, Joaquin Phoenix é um ator que busca fugir do estereótipo de astro: não é simpático com os fãs, odeia premiações (apesar de estar sempre presente nelas) e até já “se aposentou” por um período de tempo. Controvérsias à parte, não dá para negar que ele é um dos atores mais talentosos de sua geração. Sempre chamando a atenção em seus projetos, o intérprete já foi indicado a mais de 200 prêmios (incluindo quatro indicações ao Oscar – e uma vitória, é claro) e venceu mais de 60, o que já diz bastante, apesar de não ser tudo. Ao não centrar suas atenções em apenas um único gênero, apesar de sempre se mostrar forte em dramas intimistas, Phoenix é um ator versátil e que já estrelou várias obras primas recentes do cinema. Com seu aniversário no dia 28 de outubro, a equipe do Papo de Cinema resolveu eleger os cinco melhores filmes do porto-riquenho – e mais aquele que merece uma lembrança. Confira!

 

Johnny & June (Walk the Line, 2005)
Por Rodrigo de Oliveira
Joaquin Phoenix não é parecido fisicamente com Johnny Cash. Também não é um cantor tão potente quanto o Homem de Preto. Nenhuma destas potenciais desvantagens fez com que o ator perdesse o papel em Johnny & June (2005). Pelo contrário. Foi aprovado pelo próprio Cash como seu intérprete, pouco tempo antes da morte do músico, que não conseguiu assistir sua cinebiografia. Uma verdadeira lástima. Se tivesse a oportunidade, Johnny Cash veria sua história contada de forma precisa, com um show de interpretação da dupla de protagonistas, uma trama que não esconde os podres do retratado e oferece um verdadeiro passeio pelos sucessos do compositor de I Walk the Line, Ring of Fire, Folsom Prison Blues e Get Rhythm. O desafio de Joaquin Phoenix não era apenas interpretar aquele artista. Devido a escolha do diretor James Mangold (que se mostraria acertada no final), os atores precisavam cantar também. E Phoenix – assim como Reese Witherspoon, que interpreta a esposa de Cash, June – conseguiram realizar um trabalho impecável, mostrando talento e muito esforço. Não à toa, ambos foram indicados ao Oscar. E se a atriz se deu melhor, levando a estatueta para a casa, foi apenas por que Phoenix teve de competir com um sobrenatural Philip Seymour Hoffman como Truman Capote.

 

Amantes (Two Lovers, 2008)
Por Conrado Heoli
Uma das histórias de amor mais íntimas e honestas retratadas pelo cinema na última década, Amantes, drama romântico dirigido pelo extraordinário James Gray, parte de uma simples premissa sobre um triângulo amoroso para compor uma complexa narrativa que vai muito além do que se pode esperar. Formado por três personalidades tão específicas quanto comuns (talvez você se identifique com alguma delas), tal triângulo é composto por Leonard, trintão que ainda vive com os pais, Michelle, sua vizinha misteriosa e problemática, e Sandra, mulher estável e bem sucedida profissionalmente. Gray, diretor norte-americano afeito ao cinema de vanguarda europeu e que ainda hoje reverbera a autoralidade dos franceses e o realismo italiano, combina em seu filme aspectos e referências a todas essas cinematografias. Suas tomadas são mais longas e contemplativas do que o comum, seu foco são os personagens e suas emoções essencialmente humanas – retratadas magistralmente por Joaquin Phoenix, Gwyneth Paltrow e Vinessa Shaw. Phoenix, em especial, apresenta um de seus papeis mais emocionais numa caracterização distraída e vulnerável, singular dentro de sua carreira permeada por grandes e inesquecíveis performances. Esta, em especial, merecedora do Oscar para o qual o ator sequer foi indicado.

 

O Mestre (The Master, 2012)
Por Yuri Correa
Todos os indicados ao Oscar daquele ano para melhor ator mereciam a estatueta. Porém, nenhum deles tanto quanto Joaquin Phoenix por este que é mais um exemplar longa-metragem de Paul Thomas Anderson. E se há elogios para serem tagarelados sobre todos os aspectos da produção, não se pode negar que o nosso homenageado seja um dos mais importantes deles. Provavelmente, a melhor performance de Joaquin. Antigo soldado e marinheiro, seu Freddie anda encurvado, como que acostumado aos espaços apertados dentro de um navio; mantém os olhos sempre cerrados, tal qual alguém que durante muito tempo teve de lidar com a luz direta do sol – e perceba como ele prefere inclinar a cabeça para trás do que abrir mais as pálpebras para enxergar melhor; também fala com um lado da boca mais cerrado e trincado, em um reflexo que dá para imaginar que adquiriu de tanto falar com um cigarro entre os dentes. Quase todo o passado do personagem é externado por Phoenix em sua performance assombrosa e animalesca, e é possível lê-lo e se intrigar com ele apenas com o seu ser. Não é por acaso que o tal mestre se interesse tanto quanto nós.

 

Ela (Her, 2013)
Por Thomás Boeira
Em Ela, Theodore (Joaquin Phoenix) é um homem solitário, que trabalha escrevendo cartas de amor e está se divorciando. É quando ele compra um OS1, sistema operacional de última geração, com uma inteligência artificial impressionante e cuja voz, que se dá o nome de Samantha (Scarlett Johansson), faz parecer que estamos falando com uma pessoa de verdade. Conversando espontaneamente com Sam, Theodore eventualmente se apaixona, dando início a um romance inusitado, mas que de certa forma reflete a relação que muitas pessoas têm com computadores. É um comentário muito interessante em um drama que Spike Jonze dirige com sensibilidade, tornando a história apaixonante e conseguindo até subverter possíveis clichês. Além disso, Ela tem na atuação de Joaquin Phoenix um de seus trunfos. Investindo em um jeito tímido que vai desde a voz suave até a postura um tanto encurvada, Phoenix brilha em todas suas cenas como Theodore, tendo ainda uma dinâmica excepcional com Scarlett Johansson, que como Sam faz um trabalho vocal digno de prêmios. Uma grande atuação (que ficou de fora do Oscar por pouco) em um grande filme.

 

Coringa (Joker, 2019)
Por Robledo Milani
Cesar Romero, Jack Nicholson, Heath Ledger, Jared Leto. É uma lista de deixar qualquer um ‘tremendo na base’, como se diz por aí. Afinal, temos vários vencedores que já passaram por esse papel – um deles, aliás, ganhou justamente por interpretar o insano arqui-inimigo do Homem-Morcego! Mas isso não foi motivo para desencorajar Joaquin Phoenix a assumir o desafio de encarar a missão de recriar o personagem em uma versão mais trágica e madura, mas não menos violenta. Pela primeira vez, aliás, a história é inteiramente centrada na sua figura, quase como num filme de origem. Estão todos os elementos lá – até Bruce Wayne, ainda uma pequena criança, chega a dar as caras rapidamente – mas o show é todo de Phoenix, que deixa nomes como Zazie Beetz, Frances Conroy e até o grande Robert De Niro apenas observando seu espetáculo. Da transformação física – que já lhe é característica – à investida num tipo tão angustiante quanto digno de pena, ele deu vida à mais assustadora versão do vilão já levada às telas. Não por acaso, lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator, além do Globo de Ouro, Bafta, SAG, Critics Choice e mais uma dezena de prêmios da crítica (foi o intérprete mais premiado do ano nos Estados Unidos)!

 

+1

 

Os Donos da Noite (We Own the Night, 2007)
Por Marcelo Müller
Não são poucos os grandes trabalhos de Joaquin Phoenix no cinema. E essa trajetória o credencia como um dos melhores atores norte-americanos em atividade. Sua colaboração como diretores de peso tende a ser duradoura, vide, por exemplo, os filmes seguidos com Paul Thomas Anderson e James Gray. Com o último, fez, entre outros, Os Donos da Noite (2007), drama no qual interpreta Bobby Green, popular gerente de uma boate controlada pelo narcotráfico. Nada tão complicado assim, a priori, já que Bobby mantém uma distância até certo ponto segura dos negócios escusos do patrão. Contudo, seu pai é comissário de polícia, homem respeitado na comunidade, e seu irmão segue a mesma trilha de defesa da lei. Dessa maneira, temos uma complicada dinâmica familiar. Joaquin Phoenix compõe de forma excepcional a transformação de seu personagem. No início, Bobby é inconsequente, alguém que, talvez por revolta ou algo que o valha, se desgarra e, não por acaso, busca quase como que opor-se à família. Depois de um incidente traumático, ele se reaproxima dos seus, mudando radicalmente de atitude, não forçosamente “arrependido”, mas genuinamente alterado pelas circunstâncias que o fazem voltar ao lar para, digamos, tomar novamente seu lugar à mesa.

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