Dono de uma das vozes e sotaques mais inconfundíveis do cinema, por quarenta anos Gene Hackman encantou público e crítica com seus personagens marcantes e interpretações viscerais. Foram dois Oscar no currículo, além de outros 35 prêmios e mais 27 indicações ao longo deste tempo. Por pouco não teve que parar de trabalhar nos anos 1990 por conta de problemas cardíacos, mas continuou à frente das câmeras até resolver sair de cena no início da década de 2000.

Hoje em dia, Gene Hackman está aposentado da carreira artística e escreve romances. Mas dia 30 de janeiro ele completa mais um ano de vida e a equipe do Papo de Cinema não poderia deixar de homenagear um dos mais importantes intérpretes de Hollywood. Por isso comemoramos seu aniversário com a escolha dos cinco melhores filmes e mais aquele que merece uma atenção especial. Confira!

 

Operação França (The French Connection, 1971)
Por Robledo Milani
Alguns filmes são atemporais, enquanto que outros são típicos produtos da sua época. Infelizmente, é neste segundo caso em que se encaixa esse longa dirigido com bastante sagacidade por William Friedkin e interpretado com extrema paixão por Gene Hackman. Ainda que não tenha envelhecido tão bem quanto outros títulos igualmente feitos no início dos anos 1970, este trabalho é fundamental tanto para a carreira do cineasta quanto do protagonista por ter sido a obra que fundamentalmente mudou o status de ambos em Hollywood: de promessas, se confirmaram como talentos de ouro. Ambos ganharam o Oscar – dois dos cinco conquistados, entre eles também o de Melhor Filme – e ofereceram como poucos um novo e revigorante ar que a meca do cinema mundial tanto necessitava. Feito quase que inteiramente nas ruas e muito na base do improviso, esse thriller policial sobre dois investigadores tentando impedir uma corrente europeia de tráfico de drogas hoje pode soar inocente em muitos aspectos. Mas ninguém ousaria discutir a atuação de Hackman, que se entrega sem ressalvas a um personagem mulherengo, sem escrúpulos, racista e preconceituoso, mas acima de tudo eficiente e muito carismático. Apesar de todos os seus defeitos, impossível não embarcar nessa jornada ao seu lado. E o mérito, é claro, é todo do ator.

 

A Conversação (The Conversation, 1974)
Por Marcelo Müller
A Conversação é um dos motivos pelos quais se inclui Francis Ford Coppola na lista dos grandes diretores norte-americanos. De quebra, também deixa clara a capacidade de Gene Hackman como intérprete, ele que assume o papel do protagonista, Harry Caul, especializado em escutas telefônicas, contratado por um figurão para espionar um casal de amantes. Famoso por seu profissionalismo e competência, esse homem, porém, entrará em crise, com medo que uma tragédia do passado se repita. Não bastasse o trabalho meticuloso de Coppola para criar um ambiente de crescente paranoia, Hackman constrói seu personagem, essencial ao êxito do filme, no limiar entre a obsessão e a culpa. Eram os famigerados anos de Nixon na presidência dos EUA, e Coppola tratou de capturar muito bem a essência dessa época, sobretudo a efervescência político-social. Gene Hackman passa do homem que acredita cumprir apenas seu papel – afinal de contas ele só grava, não sendo responsável a priori pelas consequências – a alguém que reflete a respeito da nocividade de devassar a intimidade alheia, escutando clandestinamente segredos e confissões. Harry certamente figura na galeria das melhores atuações de Gene Hackman. E isso significa muito.

 

Mississipi em Chamas (Mississipi Burning, 1988)
Por Matheus Bonez
A discriminação racial dos EUA pega fogo neste drama de Alan Parker que aborda a investigação de três ativistas dos direitos civis (dois brancos e um negro) em 1964, no sul norte-americano. Se o longa já vale pelas fortes cenas da violência perpetuada por membros da Ku Klux Klan no Mississipi, a história ganha ainda mais pelos contornos de suspense do roteiro. Nisto entra o nosso homenageado, Gene Hackman, como o agente do FBI Rupert Anderson. Apesar do conflito de ideias constante com o parceiro, Alan Ward (Willem Dafoe), os dois precisam se unir para chegar à conclusão do caso, já que os ataques contra negros ficam cada vez mais violentos à medida que a investigação se aprofunda. E Hackman confere um caráter explosivo ao seu personagem, que não leva desaforo para casa e se impõe toda vez que aparece na tela. Por tamanha interpretação, foi indicado ao Oscar de Melhor Ator. Uma lembrança mais do que justa para um dos melhores trabalhos deste que é um dos melhores atores de sua geração.

 

Os Imperdoáveis (Unforgiven, 1992)
Por Rodrigo de Oliveira
Os Imperdoáveis foi realizado como a grande despedida de Clint Eastwood à frente das câmeras. Ele teria escolhido a trama, mostrando o lado nada glorioso do Velho Oeste, para aposentar sua carreira de ator de uma vez por todas, no gênero que lhe rendeu seus maiores sucessos. A aposentadoria acabou não acontecendo, felizmente, mas o trabalho rendeu 4 merecidos Oscars e personagens inesquecíveis para Eastwood, Morgan Freeman e Gene Hackman. Este último, inclusive, venceu o prêmio da Academia como Ator Coadjuvante, vivendo o temível xerife de Big Whisky, um homem que não tem dúvidas ou remorsos de espancar qualquer homem que carregue uma arma para dentro de sua cidade, utilizando-se da força para trazer a paz (uma linha de pensamento que vemos ainda hoje para tentar justificar guerras e invasões). O roteiro é hábil em evitar o maniqueísmo, deixando de fora a figura do mocinho e do bandido. Tanto o xerife quanto os demais protagonistas tem seu lado bom e mau. As ações de cada um dentro da história é que os colocarão na situação que lhes cabe. Um faroeste legítimo, ainda que nada glorificado, Os Imperdoáveis foi um dos últimos grandes papeis do aposentado Gene Hackman.

 

Os Excêntricos Tenenbaums (The Royal Tenenbaums, 2001)
Por Matheus Bonez
Se hoje o diretor Wes Anderson está sendo louvado em todas as premiações pelo excepcional O Grande Hotel Budapeste (2014), muitos hão de lembrar que sua genialidade já vinha sendo atestada há quase 15 anos com esta comédia sobre uma família disfuncional em que uma mãe (Anjelica Huston), abandonada pelo marido, explora ao máximo o talento dos três filhos superdotados (Gwyneth Paltrow, Ben Stiller e Luke Wilson). Anos depois, o patriarca Royal Tenenbaum (Gene Hackman) está de volta ao lar e, para não perder a esposa, conta que tem câncer, gerando a reunião da família problemática. O nosso homenageado dá o tom certo para o seu personagem, um fracassado das relações interpessoais que acredita estar acima disso (perante os outros, é claro), mesclando um humor contagiante com a introspecção necessária do pai que precisa se realinhar com os filhos. Hackman toca o coração com sua performance, mesmo que da forma um tanto quanto exótica do diretor apresentar seus personagens. Por este trabalho, o ator foi premiado com o Globo de Ouro de Melhor Ator de Comédia ou Musical. Uma pena que não foi finalista no Oscar, já que este foi um dos personagens mais marcantes de sua carreira e, possivelmente, o mais importantes antes de sua aposentadoria em 2004.

 

+1

 

Superman: O Filme (Superman, 1979)
Por Yuri Correa
Há tantas coisas icônicas em Superman: O Filme que o Lex Luthor de Gene Hackman, embora seja o principal vilão do longa-metragem, pode até passar esquecido. Não vai. Divertido e ao mesmo tempo ameaçador em um filme cartunesco por natureza, o olhar do ator confere um peso especial ao vilão. Algo que foi observado com muito cuidado ao escolherem Kevin Spacey mais tarde para ser seu substituto em Superman: O Retorno. Era preciso alguém que mesmo inserido em um universo um tanto quanto caricato, onde o herói salva gatinhos de árvores, um ator que trouxesse no olhar o desprezo necessário para lhe conferir seriedade e respeito como vilão. Tal como Hackman faz no clássico de Richard Donner, não deixando de ser um dos responsáveis pelo sucesso do projeto que ainda renderia mais três filmes, dois deles trazendo o seu Lex como vilão.

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