Nascido no dia 19 de junho de 1977, Daniel de Oliveira, em um espaço de pouco mais de uma década, conseguiu se firmar como um dos intérpretes brasileiros mais talentosos de sua geração. Artista de mão cheia, tem como hábito mergulhar de cabeça em cada novo projeto, realmente se transformando no personagem que assume, seja ele inspirado em uma figura real ou não. Após despontar na pele de um dos maiores ícones recentes da nossa música, seguiu atuando como protagonista em obras das mais diferentes magnitudes, ao mesmo tempo em que participou com efeito de outros trabalhos mais coletivos, revelando uma versatilidade e uma dedicação surpreendentes. E se formos considerar sua atenção ao cinema, geralmente privilegiando esse formato ao invés do teatro ou da televisão, temos nele um dos grandes astros da nossa tela. Vencedor de três Prêmios Guarani, ganhou também troféus nos festivais de Gramado e do Rio de Janeiro, além do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro (o Oscar do cinema nacional). Em sua homenagem, na semana do seu aniversário, selecionamos seus cinco melhores filmes, além de um especial que merece ser (re)descoberto. Confira!

 

Cazuza: O Tempo Não Para (2004)
Se existe uma grande variedade de cinebiografias de músicos brasileiros, retratando nomes como Renato Russo, Gonzaguinha e Tim Maia, elas devem muito ao sucesso desta produção, estrelada por Daniel de Oliveira e dirigida por Sandra Werneck e Walter Carvalho. Como se descobrissem um novo nicho de mercado, as produtoras começaram a apostar em histórias de grandes ídolos da música depois da vida de Cazuza ter sido levada às telas. É verdade que alguns pontos da trajetória do poeta e músico foram deixados de lado e incomodam um pouco, mas a performance de Daniel como o protagonista é sublime. O filme é, na verdade, vários flashes da história do retratado e o ator consegue pontuar muito bem desde a juventude inconsequente do líder do Barão Vermelho até a derrocada da sua saúde, após contrair o vírus da AIDS. É incrível ver Daniel de Oliveira no palco, emulando os trejeitos de Cazuza em rendições de grandes sucessos. Mas é ainda mais interessante ver as cenas em que divide a tela com Marieta Severo, ela que vive a dedicada mãe do rapaz, Lucinha Araújo. O filme deu projeção à carreira de Daniel de Oliveira, que viraria um dos mais ativos atores desta geração. – por Rodrigo de Oliveira

 

Batismo de Sangue (2006)
Dirigido por Helvécio Ratton, este belíssimo filme é baseado no livro homônimo de Frei Betto, lançado originalmente em 1983. A trama se passa no fim dos anos 1960 e conta a história de um convento de frades dominicanos que se torna uma trincheira de resistência à ditadura militar no Brasil. A obra é marcante e retrata muito bem o clima da época. O medo, terror e pânico no ar, a paranoia por ser o tempo todo vigiado e perseguido, os encontros secretos, táticas de guerrilha, códigos, telefones grampeados, coerção e o horror da tortura, cujas cenas são muito bem feitas. Muito bem dirigido, também transmite uma mensagem: o preço que estamos dispostos a pagar para realizar algo que acreditamos, que julgamos ser o certo a se fazer. E no meio disso tudo, ocorrem ótimas atuações, entre elas, a de Daniel de Oliveira. O ator mineiro faz uma ótima representação de Frei Betto, um dos protagonistas. O gestual, a voz, o jeito de ser e de pensar, o modo de falar, o olhar. Tudo é muito bem feito e ele transmite, de fato, a voz dos dominicanos. – por Gabriel Pazini

 

A Festa da Menina Morta (2008)
A estreia do ator Matheus Nachtergaele como diretor é densa, um filme que aborda relacionamentos conturbados em meio a manifestações de religiosidade. Daniel de Oliveira interpreta Santinho, rapaz que recebeu da boca de um cachorro partes do vestido de uma menina desaparecida, tornando-se desde então seu porta-voz. A entidade que fala anualmente por meio do rapaz fragilizado – ainda mais após o suicídio da mãe – é celebrada num festejo do povo crente e ribeirinho do alto Amazonas. Os trapos são adorados como objetos bentos e Santinho é “canonizado” pelos moradores locais, que veem nele uma ponte com o sagrado. Daniel de Oliveira constrói o protagonista como uma figura assolada tanto pelo “destino” que lhe reservou uma posição de destaque (e também opressora) na comunidade quanto pelas dinâmicas familiares, sobretudo a com o pai interpretado por Jackson Antunes, com quem mantém um relacionamento incestuoso longe dos olhos alheios. O semblante de Santinho é carregado de um sofrimento profundamente enraizado, fruto da composição rigorosa de Daniel, trabalho imprescindível para o filme, pois deflagrador da complexa ciranda de relações que ocorre em diversas camadas entremeadas pela fé à beira do rio. – por Marcelo Müller

 

Boca (2010)
Neste filme de Flavio Frederico, acompanhamos Daniel de Oliveira na pele de Hiroito de Moraes Joanides, um dos maiores criminosos brasileiros das décadas de 1950 e 1960 e que atuava, é claro, na Boca do Lixo paulistana, comandando o tráfico de drogas da região e além. A história é baseada na autobiografia do retratado e condensa boa parcela de sua vida, o que até pode causar algumas falhas no roteiro e na edição, mas não no âmbito geral da tentativa de descrever a personalidade daquele homem. E esta tarefa recai nos ombros de Oliveira, comprometido como sempre e buscando os mínimos detalhes e trejeitos para compor seu personagem. Afinal, ele existiu do lado de cá da tela, e por isso o mais interessante é descobrir como aquele “filhinho da mamãe” de classe média se voltou para o crime e se tornou o grande nome por trás das drogas e da história do tráfico no país. Daniel de Oliveira humaniza seu Hiroito de uma forma tão interessante que é impossível pensar na pessoa fora das telas sem lembrar desta performance. Mais um grande papel para o rol de bons personagens do ator. – por Matheus Bonez

 

Sangue Azul (2014)
Vinte anos após ser entregue por sua mãe ao dono de um circo, Pedro (Daniel de Oliveira) retorna à ilha onde nasceu, agora como Zolah, o homem-bala e principal atração do Circo Netuno. Entre as apresentações e o dia a dia como estrela do pequeno povoado, Zolah reencontra sua família e passa a enfrentar os fantasmas de seu passado. Dirigido com grande apuro visual pelo cineasta Lírio Ferreira, um dos principais expoentes do atual cinema pernambucano, o longa não esconde suas ambições ao tratar de temas considerados tabus, como a relação incestuosa entre Zolah e sua irmã, nem suas inspirações fellinianas. Os personagens e números circenses, o prólogo filmado em preto e branco, a estética barroca e o constante clima de fantasia que envolve o filme remetem à obra do diretor italiano. Ainda que por vezes exagere na repetição de metáforas e que o cuidado visual desvie um pouco o foco principal da narrativa, este longa reafirma a predileção de Daniel de Oliveira pela escolha de papéis desafiadores, já que Zolah exige uma grande entrega física do ator, mesclada a belos momentos de sutileza em que os silêncios dizem muito mais do que os diálogos. – por Leonardo Ribeiro

 

+1

 

Latitudes (2013)
A versatilidade de Daniel de Oliveira é colocada à prova neste drama romântico de Felipe Braga, no qual o ator vive José, renomado fotógrafo que experimenta os encontros e desencontros de uma relação pós-moderna com a executiva de moda Olívia, interpretada por Alice Braga. Daniel, fluente nas linguagens da televisão, cinema e teatro, tem seu alcance dramático amplificado num projeto que foi desenvolvido e lançado como uma proposta transmídia, que ganhou edição episódica na internet e televisão antes de chegar aos cinemas. Numa narrativa fragmentada que se desenrola ao ritmo do envolvimento de seus personagens, o drama tem como cenários hotéis, aeroportos e estações de trem de cidades como Paris, Londres, Buenos Aires, Istambul, São Paulo e Veneza. Toda a beleza das cidades é contraposta à melancolia que pauta o envolvimento de José e Olívia, e a intimidade pulsante dos atores é tão envolvente quanto agridoce. Daniel economiza em caracterização, mas compensa na construção realista de um homem complexo, testado pelos seus sentimentos. A versão televisiva ainda mixava ficção e making of, e entre cenas de bastidores e leituras de texto, todo o talento de Daniel de Oliveira parece mais que evidente: é inegável. – por Conrado Heoli

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