Ainda que sua carreira tenha começado há cerca de vinte anos, quando fez sua primeira aparição em público ao participar da novela juvenil Malhação (1996), da Rede Globo, Pedro Brício só foi investir em seu interesse pelo cinema há pouco tempo, ao integrar o elenco do experimental A Falta que nos Move (2011), de Christiane Jatahy, em que interpretava a si próprio. Com o sucesso desse misto de documentário e ficção vieram outros convites e trabalhos. Mas, como na produção nacional as coisas nem sempre são simples, somente agora ele está voltando às telas, e desta vez em dose tripla. Isto porque três dos filmes que participou nos últimos anos estão agendados para estrear nos próximos meses: O Vendedor de Passados será o primeiro, ainda nessa semana, enquanto que Muitos Homens num Só (premiado no XVIII Cine PE) e O Fim e os Meios (exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo 2014) devem aparecer no próximo semestre. Aproveitando esse bom movimento, o ator conversou com exclusividade com o Papo de Cinema. Confira!
Nos últimos meses tivemos a oportunidade de vê-lo nos filmes Muitos Homens num Só, O Fim e os Meios e agora em O Vendedor de Passados, que foram exibidos em festivais e mostras por todo o país. Curiosamente, este último será o primeiro a chegar às telas. Tu abraçou o cinema de vez, pelo que parece…
Fiz todos estes filmes em sequência, sem muito tempo para respirar entre eles. Mas foram trabalhos de dois, três anos atrás, que estão tendo a coincidência de chegarem às telas mais ou menos no mesmo tempo. Não foi algo planejado. O Fim e os Meios foi o primeiro, ainda em 2011, e foi uma experiência inesquecível. Logo em seguida fiz O Vendedor de Passados, que foi algo menor, quase uma participação especial, e no final de 2012 o da Mini Kerti, o Muitos Homens num Só, que foi muito divertido, uma grande brincadeira. E tudo isso aconteceu por conta do A Falta que nos Move, da Cristiane Jatahy, que teve uma repercussão muito grande principalmente no Rio de Janeiro por causa de sua proposta tão original e inusitada. Pra se ter uma ideia, até hoje temos um grande feedback sobre esse filme, seja pelo caráter experimental, com uma proposta muito diferente. O Flávio Tambellini era o produtor, e foi através dele que surgiram os outros convites. A origem disso tudo.
De todos estes personagens, me parece que o do O Fim e os Meios foi o mais desafiador, certo?
Com certeza. Acho que foi também o mais difícil, principalmente por ter sido o protagonista. Foi um trabalho que me exigiu muito, as filmagens foram complicadas, um processo doloroso, mas também muito gratificante. O Murilo Salles, o diretor, me deixou muito livre, e isso, para o meu trabalho de ator é algo tão bom quanto ruim, pois ficamos perdidos. Não havia nenhum tipo de composição prévia, tudo teve que surgir a partir de mim. As cenas não eram prazerosas, o tema era espinhoso, é um filme árido, sem grandes explosões dramáticas, com uma interpretação muito seca de todo mundo. Foi o trabalho mais longo, trabalhei muito com o diretor até chegarmos no ponto que está na tela. O da Mini, por outro lado, foi o mais prazeroso de se fazer, com uma pesquisa boa, leve e divertida.
Em O Vendedor de Passados você faz uma participação especial, como um dos poucos amigos do protagonista, que o ajuda nessa atividade pouco comum. O que lhe atraiu nesse projeto?
A primeira coisa que me chamou a atenção foi o roteiro, como tudo se encaixava e fazia sentido. Achei o texto muito bom, a ideia é original e surpreendente, foi algo que gostei e me chamou a atenção. E também contou muito a oportunidade de poder trabalhar com o Lázaro Ramos, sou super fã dele e não podia deixar passar uma chance como essa. E seria também algo rápido, foi logo depois do meu trabalho com o Murilo Salles, seria legal trabalhar com o Lula, que tem outra pegada, uma proposta diferente, então isso me possibilitou um aprendizado muito grande. Foram propostas bem diferentes entre si. Nos últimos tempos tenho trabalhado mais como dramaturgo e diretor, principalmente no teatro, então quando surge algo com essas características no cinema, abraço sempre que posso.
Em Muitos Homens num Só você faz um personagem de época. É muito diferente criar um registro para um personagem de uma história que se passa em um período tão diferente do nosso?
Acho que sim, porque a proposta da Mini nunca foi fazer um filme histórico, que fosse totalmente fiel aos anos 20, 30. A gente se preocupou em não fazer algo muito pomposo, ninguém tem plena certeza em que ano a história se passa. A gente queria que o filme tivesse uma emoção contemporânea, como vemos em novelas de época e minisséries, por exemplo. Mas também não podia ser desprovido de elementos que remetesse àquele período. Me preocupei em colocar algo que não fosse atual, mas tivesse uma contemporaneidade. Os figurinos, a direção de arte, foi tudo muito cuidado. Tanto eu quanto o Vladimir Brichta e a Alice Braga lemos a obra do João do Rio, pesquisamos muito, até para quando chegássemos no set a gente pudesse estar mais soltos, sem se preocupar tanto. E o filme é muito acertado, sem um tom de pó de arroz, com uma atmosfera não pesada, sem ser impostado. A Alice dá muito isso, ela é despojada e sincera, uma atuação muito límpida. Por ser mais de cinema, ela oferece um realismo muito legal. E o Vladimir, super talentoso, virtuoso e versátil, também colaborou muito. Nesse filme ele tá fazendo algo muito sutil e dramático, com uma medida que nunca tinha visto no trabalho dele.
Há outros trabalhos em vista no cinema pela frente?
Bom, além d’O Vendedor de Passados, tem mais esses dois que devem ser lançados neste ano. O do Murilo acho que sai logo no começo do segundo semestre. O problema é a falta grana pra distribuir. E tem o do Clovis Mello, que é um diretor de publicidade e adaptou cinco histórias de Nelson Rodrigues, que se chama Ninguém Ama Ninguém por Mais de Dois Anos, em cima dos textos do A Vida como Ela É, com um elenco bem bacana, tem o Michel Melamed, a Gabriela Duarte, foi muito bacana. Esse tá sendo finalizado ainda, então talvez mais para o final do ano, ou em 2016. Nunca se sabe, né?
(Entrevista feita no Rio de Janeiro em 14 de maio de 2015)
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