Um dos diretores da Paranoid, produtora de cinema e publicidade premiada no Brasil e no exterior, Pedro Coutinho é formado em Comunicação Social pela PUC-RJ. Deu seus primeiros passos na área como assistente de direção. Após morar quatro anos em Nova Iorque, nos EUA, onde realizou mestrado em Cinema pela Columbia University, se especializando em Direção, Storytelling e Direção de Atores, começou a investir na telona, realizando dois curtas – O Nome do Gato (2009) e O Jogo (2013) – que foram selecionados para mais de 80 festivais ao redor do mundo. Faltava, no entanto, um passo mais desafiador: o primeiro longa. E este, que ganhou o nome de Todas as Razões para Esquecer, chega agora às principais cidades do país, após passar pelo Festival do Rio e pela Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2017. E foi sobre esse trabalho que o cineasta conversou com exclusividade com o Papo de Cinema. Confira!

 

Olá, Pedro. Vamos começar pelo princípio: o que o motivou a estrear na direção com Todas as Razões para Esquecer?
O que me motivou? Eu queria contar uma história que fosse simples, mas, ao mesmo tempo, que pudesse ser narrada de uma forma diferente. Acho que esse projeto veio muito da vontade que tinha de fazer meu primeiro longa. Trabalho na área há muito tempo, e já tive outros projetos, inclusive bem maiores do que esse, mas sempre recebia “não” como resposta a qualquer tentativa de realiza-los justamente por causa dessa inexperiência. Foi só no final de 2015, então, que decidi escrever essa história, uma que fosse simples, mas que significasse algo para mim. Foi quando decidi falar sobre relacionamentos, pois é algo que vem naturalmente para mim, quase como uma necessidade minha.

O diretor Pedro Coutinho, entre os atores Bianca Comparato e Johnny Massaro

Quais são as tuas principais influências dentro desse tipo de abordagem?
Sou fã de cineastas como Woody Allen, Ingmar Bergman, Noah Baumbach… até Billy Wilder, quando abordava esse tipo de temática. Essas são as minhas maiores referências. No começo, a grande dificuldade era não cair no lugar comum. Isso que buscava evitar. Era muito difícil não se repetir. Não queria seguir a mesma estrutura clássica. Foi desse questionamento, desta vontade de ir por um outro caminho, que nasceu o Todas as Razões para Esquecer. Queria entender como se reage ao término de uma relação. O momento do fim é quase como um limbo, a pessoa não sabe muito bem o que fazer, pois a outra segue muito presente, você continua ligado àquela pessoa, mesmo que não estejam mais juntos. A paixão ainda existe, ao menos de um dos lados. Queria falar sobre esse momento tão delicado.

 

Além de dirigir, você também é autor do roteiro e produtor do filme. Como foi lidar com todas essas responsabilidades?
Uma loucura. Nunca mais vou fazer isso. Porém, aqui, foi uma coisa que percebi que seria necessária. Tinha muita vontade de fazer esse filme, e sei que ele só rolaria desse jeito. Queria fazer desse o meu primeiro longa, porém era preciso pensar destes três modos – como diretor, como roteirista e como produtor – tudo ao mesmo tempo. Sabia que deveria criar um roteiro que fosse viável, que não fosse muito caro, que pudesse se tornar realidade. Então, escrevi pensando onde iríamos filmar e como seriam os gastos. Ou seja, tudo ia se encaixando. Pensando em lugares e pessoas que fossem viáveis, em uma história que se encaixasse nessa proposta de realização.

 

Todas as Razões para Esquecer é uma comédia romântica que começa pelo fim, podemos dizer, ou seja, após a separação do casal. Você acredita ser mais difícil lidar com o que vem depois do que com o antes ou o durante?
Não sei se é mais difícil, mas é uma história que eu queria contar. Este era um processo que queria entender. Foi uma decisão muito consciente e pessoal da minha parte, algo interno meu. Como se reage a esse momento? A segunda cena do filme é o momento do término, com o casal se separando. Estava claro desde o início. Então, começar a partir disso era importante para mim. Terminada a relação, aquele que é deixado não entende muito bem como seguir. Isso pesava muito em mim, pois já passei por isso. Lembro de terminar um namoro e a primeira coisa que fiz foi ir sozinho a um McDonald’s. “Puxa, como isso foi acontecer?”, era só o que vinha a minha cabeça naquele instante. Transformar isso em cinema me parecia uma discussão interessante.

Ao lado do protagonista Johnny Massaro, nos bastidores das filmagens

Como foi a escolha do elenco? Johnny Massaro é um nome um nome em alta hoje, mas ele não era uma escolha óbvia quando vocês filmaram, certo?
Foi pura sorte, posso dizer. Depois de fazer nosso filme, o Johnny só fez coisa bacana e entrou de vez nesse rol de atores queridos. Nossa busca pelo elenco começou muito antes, no entanto, e se iniciou, obviamente, pelo protagonista. Era preciso ter essa pessoa, saber quem seria esse cara, pois tudo seria definido a partir dele. Pra depois descobrir quem estaria em torno dele.

 

Você já conhecia o Johnny? Como ele foi escolhido?
O Johnny surgiu muito pelo acaso. Eu não o conhecia, ao menos não pessoalmente. Mas não era alguém que estava no meu radar. Após o terceiro tratamento do roteiro, achei que era o momento certo de mostrar a história aos outros, pois já me sentia mais confiante com o que tinha em mãos. Foi quando mostrei para alguns atores, amigos mais próximos. Num churrasco em que estava, o Bruno Mazzeo, que é um amigo em comum nosso, veio falar comigo e comentou sobre o Johnny. Eles estavam fazendo uma novela juntos, na época, se não me engano. Foi quando comecei a olhar para o Antonio, o personagem, com outros olhos, já com ele em mente, e gostei da ideia. Marquei um encontro com ele, e assim que conversamos tive a certeza que seria ele. Não fiz nenhum teste de elenco, para nenhum personagem, aliás. Todos os que chamei para conversar e fazer o convite, já havia considerado bastante e eram as pessoas que queria no meu filme.

 

Você trabalhou em filmes como O Cheiro do Ralo (2006), do Heitor Dhalia, e O Casamento de Romeu e Julieta (2005), do Bruno Barreto. O que estas experiências lhe ensinaram?
O Cheio do Ralo foi uma experiência incrível, que valeu muito, para mim, no sentido de entender como fazer uma produção boa e barata ao mesmo tempo. Foi feito no mesmo esquema que o Todas as Razões para Esquecer, por exemplo. Foi um filme muito barato, e que ainda assim é incrível de se ver. Com muito pouco, o Heitor construiu algo impressionante. Começamos uma relação de troca muito legal, tanto que ele é um dos produtores do Todas as Razões para Esquecer. Ele me ensinou como fazer um cinema bacana com muito pouco. Com o Bruno, por outro lado, foi algo mais inicial. Foi meu primeiro filme, e era estagiário. Foi ali que tive uma noção completa de que queria fazer cinema. Era um filme grande, com vários atores, diversas locações. Adorei a experiência, ali percebi realmente que queria fazer isso para a minha vida.

Com Johnny Massaro e Bianca Comparato durante as filmagens de Todas as Razões para Esquecer

Esse filme foi estrelado pela Luana Piovani. E vocês vão repetir essa parceria, não?
Pois então, é verdade. Fui um dos roteiristas de O Homem Perfeito, que é o próximo filme do Marcus Baldini. A Luana vai ser a protagonista, e tem um monte de gente legal no elenco também, como a Dani Calabresa, Eduardo Sterblitch e Marco Luque, entre outros. É uma comédia bem popular, bem bacana, o último corte que vi me agradou muito. Mas não é só com a Luana que voltei a trabalhar. O meu próximo projeto, que estou desenvolvendo agora, é com o Bruno Barreto. Estamos escrevendo um roteiro juntos. Ainda estamos muito no começo para adiantar alguma coisa, mas acho que vai ser muito legal.

 

Como você tem percebido o retorno do público para o Todas as Razões para Esquecer?
Tudo o que espero, agora com o filme entrando no circuito comercial, é que quem for assisti-lo o aproveite assim como tem sido nessas exibições especiais, pelas quais passamos, tanto nas pré-estreias como nos festivais do Rio ou de São Paulo no ano passado. As reações têm sido muito boas. O público tem se divertido, se emocionado com a história. As pessoas se identificam muito. O término, por mais que seja o lado obscuro de qualquer relação, não é algo desconhecido. Todo mundo já passou por isso. Então, tem sido muito legal. É um filme de sensação, por isso quero que sintam o que quis dizer com ele.

(Entrevista feita por telefone na conexão São Paulo/Porto Alegre em Fevereiro de 2018)

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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