Em meio às frequentes tempestades que assolam a região de Nova Orleans, nos Estados Unidos, Quentin Tarantino ressuscitou uma pequena parte da história escravagista do sul do país. É ali o principal cenário do seu novo filme, Django Livre. Essa é a estreia de Tarantino no gênero inspirado em seus adorados spaghetti-westerns. Com um título emprestado do épico de Sergio Corbucci de 1966, Django, no qual o ator italiano Franco Nero interpretava o misterioso pistoleiro, este novo trabalho é uma tentativa destemida de contar um faroeste protagonizado por um escravo (no caso, Jamie Foxx, vencedor do Oscar por Ray, 2004) e de lançar luz sobre um dos períodos mais tenebrosos da história norte-americana. Confira abaixo uma entrevista exclusiva no Brasil com o diretor de novos clássicos como Pulp Fiction – Tempo de Violência (1994) e Kill Bill (2003 e 2004).
De onde surgiu a ideia do roteiro de Django Livre?
Quando comecei a falar sobre o assunto com o produtor Reginald Hudlin, na festa do Oscar de 2010, ele me comentou que todos os filmes que já haviam sido feitos sobre essa época eram muito limpos e artificiais. Foi aí que começamos, juntos, a elaborar algo mais próximo de como aconteceu na realidade. Nossa maior inspiração como um ótimo filme sobre escravos foi Spartacus (1960), de Stanley Kubrick. Quando finalmente definimos o recorte que nos interessava, a trama saiu por completa de mim, como num jorro de criação. Eu estava no Japão, na última escala da turnê promocional do Bastardos Inglórios. Lá os spaghetti wersterns são chamados de macaroni westerns e são muitíssimo populares. Eu saí do hotel e fui comprar um monte de trilhas sonoras e, enquanto eu as escutava, me ocorreu o esboço básico da história. Acabei escrevendo a primeira cena enquanto estava lá. E ela é bem parecida com o que existe hoje.
Em quanto tempo o roteiro foi escrito?
O roteiro, por completo, levou seis meses até ficar pronto. Na verdade, até desacelerei um pouco no final do processo. Cheguei a um ponto intermediário e me afastei por algumas semanas, porque fiquei preocupado de talvez estar indo rápido demais. Havia três pontos diferentes em que eu meio que deixei marinando durante algumas semanas antes de continuar a contar a história.
Como foi a escolha do elenco?
O mais difícil foi achar o protagonista certo para o personagem que eu havia imaginado. Não tinha ideia de quem iria interpretá-lo. Me reuni com seis atores diferentes até conseguir definir aquele que seria o ideal. Jamie Foxx veio à minha casa para fazer um teste. Ele foi o último que entrevistei. Você simplesmente sabe quando encontra o cara certo, e com ele senti isso de imediato. Ele entendia e era o caubói.
Houve algum tipo de preocupação com a polêmica que essa história poderia provocar?
Em nenhum momento do processo de criação cheguei a hesitar ou em pensar em diminuir o ritmo. A temática é delicada, e sei que algumas pessoas sempre terão suas opiniões sobre isso. Mas depois isso passa e o que permanece é o filme. Nunca deixo que nada, nem que ninguém, possa me dizer ou impedir de fazer qualquer coisa.
E qual é sua avaliação do resultado final de Django Livre?
Django Livre é a perfeita representação do que um filme de Quentin Tarantino deve ser: corajoso, vibrante e, acima de tudo, muito divertido!
(Entrevista feita por Joe Utichi, nos Estados Unidos, e editada por Robledo Milani, numa cortesia da Sony Pictures do Brasil)
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