O Brasil transformou-se nos últimos anos e alguns cineastas investigam o assunto. Sérgio Machado (Cidade Baixa, 2005) é uma das figuras que se embrenhou pelo tema no documentário Aqui Deste Lugar, sobre três famílias atendidas pelo Bolsa Família. O filme compete no XIX Cine PE. Durante o evento, o diretor concedeu entrevista exclusiva ao Papo de Cinema sobre seu mais recente trabalho. Aqui Deste Lugar tem estreia prevista para julho.

 

Como nasceu Aqui Deste Lugar?
A minha relação com o assunto começou quando eu pesquisava elenco e locações para Central do Brasil (1998) e Abril Despedaçado (2001). Voltei depois para procurar locações para Padre Cícero e dei carona para um senhor. Nossa conversa me fez lembrar das mudanças do interior do Brasil, com muita gente passando fome, pedintes nas estradas e outras mazelas que não vemos mais nos últimos anos. Foi aí que decidi que isso merecia um filme.

 

Qual o impacto que você espera causar?
Não acho que meu filme vai transformar o discurso de ninguém. Em mim, ele deu mais consciência do quanto tudo é injusto. Eu fico descontrolado com essas falas de retrocesso.

Cena de Aqui Deste Lugar

Você teve que cortar duas famílias do filme. Pretende usar esse material posteriormente?
Pretendo, sim. Ainda não sei como. Fico achando que o melhor formato seria uma série, com um episódio de uma hora com cada família. Sei que daria um recorte importante do que está acontecendo no Brasil.

 

O filme é dedicado a Eduardo Coutinho e traz tema semelhante com Últimas Conversas (2015). Como você vê essa relação?
Vou esperar para ver Últimas Conversas. Ainda estou impactado pela perda de Coutinho. Acompanhei com ele e João Moreira Salles o processo e isso me ajudou em Aqui Deste Lugar. Quando tive a ideia do filme, fiquei com medo e fui consultar Coutinho. Ele que me deu o sinal verde para fazer o documentário.

 

Mas você aponta relações com A Família Braz: Dois Tempos (2010).
Família Braz é um dos mais importantes filmes que fala de maneira mais precisa o que está acontecendo no Brasil, de bom e de mau. É um filme-chave para melhor compreender tudo isso.

Sergio Machado durante o debate de Aqui Deste Lugar no XIX Cine PE

Outra relação possível é com Doméstica (2012). Você cogitou dar a câmera na mão dos personagens como fez Gabriel Mascaro?
Pensei nisso. Passou pela minha cabeça, mesmo porque é tudo mais sofrido e difícil no mundo do documentário. Por outro lado, adorei essa experiência de vida maravilhosa. Quero fazer outro documentário e dar a câmera para as pessoas se filmarem. O novo passo seria mesclar as duas coisas.

 

Fale um pouco do seu próximo projeto.
É um documentário sobre lutadores aposentados, Todo-Duro e Holyfield. Queria terminar o filme com o primeiro encontro dos dois de forma pacífica, mas eles decidiram fazer uma última luta em agosto. Estou montando o material de arquivo, entrevistas que fiz e cenas de cinema direto, mas vou gravar essa luta também. A ideia original era fazer um filme ficcional sobre eles, com Lázaro Ramos e Wagner Moura; mas não sei se vai rolar. Os personagens reais são muito melhores.

(Entrevista feita em Recife durante a cobertura especial do XIX Cine PE)

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é formado em Audiovisual pela ECA/USP. Escreve para os sites BRCine e SaraivaConteúdo, além de colaborar para a revista Preview. Participa do programa Quadro a Quadro na TV Geração Z e de videoposts do canal Tateia. Tem experiência em sites (UOL Cinema, Cineclick e GQ), revistas (SET, Movie e Rolling Stone) e televisão (programas Revista da Cidade e Manhã Gazeta).
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