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Sinopse

Dois amigos de longa data dividem um barco a vapor em Salvador. Certo dia, eles dão carona para uma prostituta, com quem ambos acabam se relacionando. Essa atração deles por ela acaba abalando as fundações da amizade.

Crítica

Uma das mais elogiadas produções nacionais de 2005, Cidade Baixa marcou a estreia em ficção do diretor Sérgio Machado, o mesmo do premiado documentário Onde a Terra Acaba (2001), que tratava sobre a realização do mítico Limite (1931), de Mário Peixoto. Cinéfilo declarado, Machado é conhecido também por suas colaborações com Walter Salles (foi roteirista de Abril Despedaçado, 2001, e assistente de direção de Central do Brasil, 1998) e Karim Ainouz (co-roteirizou Madame Satã, 2002). Aliás, estas parcerias se repetem também neste novo filme: Ainouz foi co-roteirista, e Salles co-produtor.

Cidade Baixa não conta uma história, especificamente falando. Como centro de sua ação está um triângulo amoroso e as consequências das decisões de cada integrante em suas vidas. Dois amigos que vivem como entregadores de mercadorias num barquinho aceitam dar carona a uma prostituta que ruma para a capital baiana. Como pagamento, eles vão para a cama com ela. O relacionamento, a princípio somente comercial, acaba gerando frutos. Os três se envolvem de forma intensa e irreversível. As personalidades distintas dos dois homens entram em conflito, e a mulher só se vê satisfeita estando com os dois. Ela não consegue decidir por um ou outro, e nem eles conseguem se desprender dela. Situação complicada e dolorosa que irá enfrentar muitas dificuldades até um eventual ajuste.

O melhor de Cidade Baixa são os três protagonistas, todos em sintonia e no auge dos seus talentos criativos. O filme começa e acaba neles, responsáveis pela eficácia do resultado final. O trabalho do diretor foi saber conduzir, orientar e explorar estes potenciais, o que fez com imensa sabedoria. Wagner Moura mostra pela primeira vez porque é um dos melhores atores nacionais de sua geração, assim como Lázaro Ramos, que a cada novo trabalho se reinventa de modo impressionante. Ainda assim, o show está nas mãos de Alice Braga, que comprovou que o talento visto de relance na pequena participação dela em Cidade de Deus (2002) poderia render ainda muitos frutos – como, de fato, aconteceu. O filme não se preocupa com reviravoltas, truques de roteiro ou em passar alguma mensagem. O que importa são os sentimentos, as emoções e os distúrbios dos personagens, e como eles lutam para vencer e para se encontrarem. O efeito no espectador é arrebatador.

Premiado no Festival de Cannes, dentro da mostra Um Certo Olhar, e eleito o Melhor Filme do Festival do Rio, Cidade Baixa tem em seus créditos outros nomes de destaque. A irrequieta fotografia, invasiva e intensa, ficou a cargo de Toca Seabra (Estômago, 2007), enquanto que o músico Carlinhos Brown responde pelo desempenho contagiante da trilha sonora. Inquietante, apaixonado, perturbador, verdadeiro, atordoante: tudo isso é pouco ao se referir esse filme que se revelou memorável desde suas primeiras exibições e que merece um lugar de destaque na história recente do cinema nacional.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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