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Dentro da programação do 13º Festival Varilux de Cinema FrancêsO Mundo de Ontem (2021) se destaca por colocar em carne viva o assunto do combate à ascensão das extremas direitas no mundo. A protagonista é a presidenta da França que, dias antes do primeiro turno que vai definir o seu sucessor, recebe a informação confidencial de que um conteúdo bombástico provavelmente dará a vitória ao candidato extremista. Alguns aliados sugerem a ela que emita uma ordem de assassinato ao provável novo presidente que promete colocar a França na rota de um neofascismo. Então, surge a pergunta: até que ponto é condenável fazer algo, a priori, antidemocrático para garantir justamente a manutenção da justa democracia? Para falar sobre esse e outros assuntos, conversamos com o cineasta francês Diastème durante a sua passagem pelo Brasil como integrante da comitiva europeia que abrilhantou o 13º Festival Varilux de Cinema Francês. Confira mais este Papo de Cinema exclusivo logo abaixo.

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O cinema teve muitas histórias passadas nos bastidores do poder. E elas geralmente oferecem uma espécie de queda do Olimpo, com figuras proeminentes encaradas no que têm de mais humano. Era esse o movimento lhe interessava?
Bom, é complicado responder a essa pergunta. De certa forma, queria abordar tais pessoas por meio de suas responsabilidades. Era o que eu queria. Elas são em parte responsáveis pela catástrofe, por fracassos, ignorância e pelo fato de fingir certas coisas em público. Na verdade, eu não queria desculpar essas pessoas, mas situá-las nesse contexto em que tanto poder está concentrado nas mãos de poucos. Por exemplo, o poder de determinar se alguém continua vivo ou se morre. Não diria que isso se trata de uma queda do Olimpo, pois não estou lidando com alguém que desejou chegar ao poder e, depois de conseguir, entrou em derrocada. Falo de alguém que já está no poder.

O filme não parece empenhado em dar respostas, mas em lançar perguntas, especialmente quanto ao seu dilema principal…
Será que podemos fazer o mal para chegar ao bem? É o tipo de pergunta que nos fazemos há anos. Quando eu era estudante, nosso professor de História perguntava, hipoteticamente: “se vocês pudessem assassinar Hitler antes da ascensão do nazismo, vocês fariam?”. E acredito que a resposta mude um pouco de acordo com a idade que temos.

E isso está muito em voga, com a guerra entre Rússia e Ucrânia…
E, dependendo do momento e do local onde nos encontramos, não temos a mesma opinião. No fim das contas, essa pergunta sobre o assassinato de um extremista é obscena se estamos num contexto de paz. Mas, se estamos num período de guerra, ela se torna legítima. Será que o combate à extrema-direita também não é uma guerra? Será que temos de deixar apenas a eles a alternativa da violência? Essas questões sobre a violência política são antigas. Por exemplo, nos Estados Unidos a violência política é algo que faz parte da História do país. Na Rússia, a violência política é parte da História. Graças a Deus, na França a realidade não é assim e esperamos que continue não sendo.

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Gosto muito do personagem do chefe de segurança. Ele é ao mesmo tempo protetor, agressivo, mas reserva uma doçura à presidenta. Então, gostaria que você falasse um pouco desse personagem que representa dois mundos.
São personagens (os chefes de segurança) que existem. A regra número um deles é se jogar diante dos presidentes caso eles sejam alvos de um tiro ou de algo assim. Uma pessoa cuja função é eventualmente morrer para salvar a vida de seu patrão. É uma maluquice, não? Como você pode pedir para alguém morrer pelo patrão? Então, na hora de construir esse personagem pensei que o chefe de segurança era a única pessoa em cena que estava realmente disposta a tudo para salvar a presidenta. Até a morrer. Acho muito romântica a ideia de estar pronto para qualquer coisa em função do outro. Para falar a verdade, quando escrevemos um roteiro nunca sabemos ao certo para onde vamos. No fim da primeira parte do filme, quando a presidenta tem mal-estar e pede para o segurança segurá-la…foi ao escrever essa cena que tive certeza que completaria o filme. Esse personagem é muito importante, realmente.  

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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