Marcelo Serrado está cansado de declarar o seu amor – principalmente se ele tiver qualquer conotação homossexual. Nascido no Rio de Janeiro em 10 de fevereiro de 1967, esse aquariano de quase cinquenta anos mantém o bom físico e o rosto adolescente de sua estreia na televisão, quando conseguiu um papel na novela Corpo Santo, na extinta Rede Manchete. Ainda que premiado no Festival de Gramado com o kikito de Melhor Ator por Noite de São João (2003) e de ter muitas outras passagens pelo cinema, teatro e televisão, o ator se tornou realmente popular ao interpretar o mordomo Crô, na novela Fina Estampa (2011), da Rede Globo. O tipo afetado voltou a dar as caras, agora na tela grande, no filme Crô (2013), de Bruno Barreto, e agora o ator está novamente vivendo um personagem gay no longa coletivo Rio, Eu Te Amo, em que aparece ao lado de Ryan Kwanten no episódio dirigido pelo australiano Stephan Elliott. E foi esse projeto e outras passagens pelo cinema que o ator conversou com exclusividade com o Papo de Cinema. Confira!
Como você foi convidado para fazer parte do Rio, Eu Te Amo?
Quem me fez o convite foi o pessoal da Conspiração Filmes, que é a produtora responsável aqui no Brasil. Ela me chamou um dia para ir até o escritório deles, conversar com o diretor. O Stephan já estava por aqui, justamente fazendo essa seleção de elenco. A dúvida maior deles era quanto ao meu inglês, se iria conseguir me comunicar bem com o diretor e com o Ryan Kwanten, com quem faço par em cena. Mas isso foi tranquilo, e em questão de minutos já estávamos acertados. Daí em diante, a coisa simplesmente aconteceu.
Você já conhecia o trabalho do Stephen Elliot?
Conheço apenas o Priscilla: A Rainha do Deserto (1994), que é uma história que adoro. Acho super divertido, muito bem feito, original. É um cara que desde que vi esse filme sempre admirei. Então, quando surgiu a oportunidade de trabalhar com ele, é claro que abracei com todas as forças.
E o que você achou da trama do episódio Acho Que Estou Apaixonado?
Uma coisa que ficou clara desde o princípio é que se trataria de um conto inspirado por um fato verídico, algo que aconteceu de verdade – e com o próprio Stephan! Ele é casado com um brasileiro, e a maneira como os dois se conheceram foi mais ou menos como a vista no filme. O primeiro encontro dos dois até passou pelo Pão de Açúcar, mas claro que eles não tiveram que escalar o morro do jeito que a gente fez na ficção (risos). Então era muita responsabilidade, e esse tipo de desafio sempre mexeu comigo. É o que gosto de fazer, de sentir esse aperto no peito que me leva a ir adiante. Vi no Rio, Eu Te Amo e oportunidade de fazer algo que pudesse ter um significado bacana, além de ser uma declaração de amor muito especial à cidade.
Como foi a vivência no set de filmagens com o Stephan e com o Ryan, ainda mais sendo os dois australianos?
Ah, foi muito tranquila. Não teve isso de grupinho aqui, de me sentir isolado. Houve bastante integração. O Stephan é um cara muito delicado, que sabe conduzir as coisas do jeito que ele espero com bastante cuidado. Foi um trabalho que me exigiu ouvir muito, fazer exatamente o que ele estava esperando, e aos poucos já estava na onda dele. A sintonia entre nós todos foi muito bacana e divertida.
E com o Ryan Kwanten?
Ele é ótimo, um grande ator. Ele dizia bastante “look at me, Marcelo”. Ou seja, pedia esse contato visual, para que eu olhasse nos olhos dele e simplesmente confiasse nele. Assim construímos nossa relação. Mas foi algo muito rápido. Foi durante um período de folga do seriado que ele faz nos Estados Unidos, o True Blood, e isso permitiu que ele ficasse no Rio de Janeiro por apenas cinco dias. A agenda dele não permitiu que ficasse mais tempo, nem que tivéssemos tempo para qualquer tipo de ensaio antes. Então, foi algo de muita confiança e entrega. Mas acho que ficou bonito.
Você havia assistido aos outros filmes da série Cities of Love? O que acha deles?
Conhecia os filmes, claro, e sempre achei o projeto muito interessante. Claro que é bem diverso, cada um dos diretores quer falar sobre algo diferente, então isso acaba compondo um painel muito amplo. No nosso, sobre o Rio de Janeiro, é muito importante termos essas declarações de amor à cidade, de como o povo daqui lida com ela no dia a dia e como os estrangeiros que chegam veem as coisas de um modo completamente diverso. Mas não dá pra esquecer das nossas mazelas, dos problemas que vivemos, não pode ser somente no politicamente correto. É por isso que é fundamental ter no projeto um curta como o do Wagner Moura, que é quase como um desabafo. Tudo faz parte.
Seu envolvimento com o cinema tem crescido nos últimos anos…
Com certeza! Cinema no Brasil é algo muito difícil, então quando surge uma oportunidade a gente precisa agarrar com unhas e dentes. Tenho dois filmes já prontos para estrear no ano que vem, e um outro que devemos começar as filmagens em breve. Eu adoro fazer cinema. Em breve teremos o No Retrovisor, comigo e com o Otávio Müller, que é uma adaptação da peça que fizemos por anos e que foi um grande sucesso. E depois estarei no Divã a 2, com a Vanessa Giácomo e o Rafael Infante. É uma comédia romântica, deve chegar aos cinemas no começo de 2015. Ou seja, tem bastante coisa boa vindo por aí.
Um filme seu que gosto muito é o Malu de Bicicleta (2010)…
Nossa, que bacana ouvir isso. Eu também, adoro esse filme. Foi um projeto muito legal, feito com bastante carinho. E agora vai virar minissérie pra televisão. É uma comédia no estilo de Truffaut, com um cuidado muito grande com os personagens. Fiquei muito feliz com o resultado.
Como você imagina que o público estrangeiro irá ver Rio, Eu Te Amo?
Bom, primeiro espero que ao menos vejam o filme, né? (risos) Mas sem brincadeiras, acho que sim, acho que tem elementos suficientes para despertar a atenção e a curiosidade do público de qualquer canto do mundo. Ele tem o mérito de mostrar as várias facetas da cidade, revelando um Rio diferente, que vai ficar bonito diante os olhos de quem for assistir.
(Entrevista feita por telefone direto do Rio de Janeiro no dia 8 de setembro de 2014)
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