Categorias: Entrevistas

Cinema é uma Droga Pesada :: “O personagem é muito parecido comigo em vários aspectos”, diz o ator Stefan Crepon

Publicado por
Marcelo Müller

Stefan Crepon passeou pelas telas do 13º Festival Varilux de Cinema Francês (2022) como um dos destaques do ótimo Peter von Kant (2022) – interpretando o criado do protagonista. Neste ano, ele está de volta ao maior evento de cinema francês do Brasil, mas coprotagonizando Cinema é uma Droga Pesada (2023), filme no qual vive um personagem que sonha em entrar no mundo do cinema. Inicialmente contratado como figurante de uma superprodução francesa baseada em fatos, o sujeito que Stefan vive nas telonas é promovido a diretor do making of da produção em questão, tem a oportunidade de entregar seu primeiro roteiro ao famoso diretor da empreitada e ainda engata o que parece ser um romance de ocasião com a estrela principal. É mole? Stefan Crepon fez parte da delegação francesa do 14º Festival Varilux de Cinema Francês (2023) e, claro, a reportagem do Papo de Cinema aproveitou para trocar uma ideia com ele. Confira abaixo a entrevista exclusiva com o astro francês cuja carreira ainda vai dar muito o que falar.

Qual a característica e/ou o elemento de seu personagem que mais lhe chamou a atenção?
Quando li o roteiro, a primeira coisa que me chamou a minha atenção foi fato de que estava vendo o Cedric Kahn duas vezes na história: o ele de hoje e a versão dele da minha idade. Telefonei a Cedric para comunicar minha sensação inicial e obtive a confirmação. Depois, o que me marcou muito foi a semelhança do personagem comigo. Ele tem mais ou menos a minha idade e também é um rapaz apaixonado pelas coisas, que tem garra para desempenhar sua função, mesmo com alguma sensação de ilegitimidade. Todo mundo sente um pouco isso ao entrar nesse universo, de que talvez não esteja apto para isso.

E há um sabor especial em fazer um filme sobre os bastidores de um filme?
Com certeza, sobretudo de um ponto de vista muito pessoal. Ninguém da minha família é desse meio. Então, vou poder mostrar o filme para eles e dizer: “vejam, essa é minha rotina” (risos).

E como foi o trabalho com o Cedric? Houve espaço para improvisos ou mesmo para sugestões, tendo em vista a natureza do filme?
Conheço Cedric muito bem. Meu primeiro filme, quando tinha 20 anos, era um filme dele. Não sabia nada desse universo na época, pois vinha do teatro. Achei que a gente poderia fazer um take e nada mais (risos). Então, por conta dessa história, temos certa intimidade. Podemos dizer que, de certa forma, ele é como meu padrinho nessa profissão. Por isso, para mim é emocionante de ser um dos protagonistas do filme. Cedric dá muita liberdade no set, todos tentam encontrar caminhos juntos. Nem sempre ele sabe 100% o que quer, mas sabe 100% o que não quer. Então, há muito improviso. (NR: Nesse momento, Cedric Kahn chega ao recinto, senta à mesa e acompanha a conversa). 

E seu personagem vem da classe trabalhadora, mas fura um pouco essa bolha com seu amor…
Verdade. Num filme que fala desses dois meios, que para mim são espelhos um dos outro, meu personagem é o único que fura essa bolha, como você bem falou. Acho isso muito bonito, bem tocante essa conexão que permite um ponto de encontro entre esses mundos tão distantes, o do trabalho no restaurante da família e aquele a ser vivenciado nos bastidores de uma grande produção cinematográfica. No filme também tem aquilo de a família limitar o personagem. Vivi em praticamente dois meios diferentes na minha infância, um mais burguês e um mais modesto. Se pensar nas pessoas desses meios que buscaram uma carreira artística, cerca de 90% são do recorte mais burguês. Então, é interessante que meu personagem represente esse outro lado, a possibilidade de entrar nesse mundo.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Últimos artigos deMarcelo Müller (Ver Tudo)