Anna Claudia Protásio Monteiro – ou apenas Cacau Protásio, como o Brasil inteiro a conhece – é um dos grandes destaques do humor nacional nos últimos anos. Na televisão ela já foi dançarina da dança do ventre, estagiária, diarista e mulher de bicheiro. Mas foi ao aparecer na novela Avenida Brasil (2012) que começou a chamar atenção para o seu nome. De lá para cá veio também o humorístico Vai Que Cola – que, inclusive, foi parar no cinema em 2015 – e muitas peças de teatro. Junto com mais três amigas – Mariana Xavier, Fabiana Karla e Simone Gutierrez – escreveu o livro Gordelícias, lançado em março deste ano. O projeto que visava uma maior aceitação do próprio corpo se desdobrou também no cinema, com a estreia da comédia Gostosas, Lindas e Sexies, em que aparece como uma das protagonistas. Já lançado nos cinemas, o filme agora está chegando nas plataformas de streaming, e a gente aproveitou essa oportunidade para conversar com a atriz. Confira!
Cacau, prazer falar contigo. Vou dizer, você é a que mais me surpreendeu em cena. A sua Ivone é bem diferente da Terezinha do Vai que Cola.
Ah, que bom. Fico muito feliz em ter te surpreendido. E adoraria que as outras pessoas que assistirem ao filme também consigam perceber essa diferença da Terezinha para a Ivone. Foi um trabalho bem intenso. Tive que pedir ajuda, né? Fui fazer aula de etiqueta, de fonoaudiologia, e isso porque sou muito carioca. Falo com muito chiado, e como o filme se passa em São Paulo, foi preciso dar uma limpada nesse jeito de falar. E tentar ficar mais fina – não sei se consegui, mas me esforcei (risos). A produção desse filme nos deu uma estrutura tão grande que nos ajudou em todos os sentidos. Esse teu retorno é a confirmação de que valeu a pena.
A Ivone é dona do seu nariz, mas parece estar sempre tendo que dar satisfações: para os filhos, para o funcionário, para a cliente, para as amigas…
Ao mesmo tempo em que ela é muito segura, tem também suas inseguranças. Ela tem que lidar com o problema dos filhos querendo saber quem é o pai, o Edmundo é o braço direito dela… A Ivone sabe o que quer, mas quer dividir o que vai fazer com os filhos. E em relação ao Edmundo, acontece o mesmo, também para não se sentir culpada. Se alguma coisa der errada, ela ainda tem como escapar da responsabilidade, do tipo “eu tinha avisado antes”.
Como combinar independência com todas essas relações?
Ela é dona de 20 salões, está abrindo mais um, precisa de alguém do lado dela, apoiando, e esse cara é o Edmundo. Por outro lado, não sou mãe, então não sei falar sobre esse sentimento, vou pelo “achismo”. Como a Ivone é uma mãe que não sabe quem são os pais dos seus filhos, tem que aprender como lidar com isso. Vem daí sua insegurança. Por isso tenta suprir de outros modos, dando carinho, levando na psicóloga, tentando oferecer tudo que eles precisam. Então é 50% pra cada lado, entende?
Gostosas, Lindas e Sexies brinca com alguns sucessos recentes, como Sex and the City e o fenômeno Cinquenta Tons de Cinza. A sua personagem, por exemplo, se envolve numa relação potencialmente perigosa. Como lidar com esse desafio?
Quando li o roteiro pela primeira vez, fiquei chocada. “Como assim, ela vai transar com o sequestrador? Que coisa louca”, foi o que pensei. Mas, ao mesmo tempo, é excitante, uma grande loucura. Pensa só, ela está sem homem há onze anos, e tá tão carente que se deixou levar por esse sentimento, pela bebida… Veja bem, eu, Cacau Protásio, não bebo. Mas acho que, quando a pessoa bebe, ela não chega a perder a noção de tudo que está fazendo. Apenas se permite, entende? Então, acho que a Ivone realmente se entregou para esse cara porque ficou excitada, viu primeiro aquele abdômen maravilhoso (risos), e aí se deixou levar.
Você acha que, em outras condições, talvez ela não se permitiria?
Pois é, porque ali ela tinha essa desculpa, se desse tudo errado. “Me entreguei porque estava bêbada, estava fora de si”. Por isso que achei maravilhoso, excitante, diferente, e o ator que faz – não vou dizer quem é, pra não dar spoiler –foi super legal, generoso, parceiro… acho que foi isso que fez a cena dar tão certo.
Essa sequência do sequestro foi bem tensa, não?
Com certeza. Mas foi também maravilhosa. Como juntar todos aqueles sentimentos e toda aquela entrega em um momento de muita tensão? Foi muito gostoso fazer.
Como foi construir essas amizades entre essas quatro amigas e fazer com que elas soassem verdadeiras?
Exato. O que pensamos, foi coisas do tipo “como elas se conheceram?”. Tivemos várias reuniões prévias, nós quatro, em um hotel em São Paulo. Nesses encontros a gente se perguntava de tudo, pra descobrir como surgiu essa liga entre elas. Nossa ideia foi: “elas se conheceram na cantiga da academia” (risos). É claro que da malhação não saiu nada, mas, sim, uma forte amizade entre elas. Foi desse jeito que criamos nossa relação. Dias atrás conversei com o roteirista, o Vinícius Marques, e ele me disse que sabe tudo sobre o passado das personagens. De onde vieram, para onde estão indo. Só que isso não havia sido passado para gente. Então, tivemos que criar por conta própria.
Muito do filme é feito pelas relações entre essas amigas, mais do que pelo fato delas serem gordinhas ou não.
Realmente, nenhuma de nós liga para o fato de sermos gordas. Quem se preocupa com isso são as pessoas que estão de fora. Isso acontece na vida – não ligo de ser gorda. Eu me acho bonita gorda – bonita, não, me acho linda! Me acho sexy, sensual, gosto de ser gorda. Agora, no momento, estou fazendo dieta, mas por uma questão de saúde. Estava sentindo muitas dores nas pernas, não estava conseguindo andar de salto alto. E veja só, eu gravo a Terezinha de salto alto o tempo todo! E nesse filme foi a mesma coisa. E tava doendo muito. Foi por causa disso que precisei dar uma controlada. No mais, a gente não liga. Quem tá incomodado com a gordura, com o tom de pele, tudo isso, são as pessoas que veem de fora.
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