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Já virou uma tradição no Festival Varilux de Cinema Francês a presença da delegação francesa que vem abrilhantar a programação em debates após as sessões. E, certamente, o grande nome entre os artistas que vieram ao Brasil em 2022 para a 13ª edição do evento é o ator e cineasta Gilles Lellouche. Intérprete com quase 80 créditos e realizador com quase uma dezena de filmes no currículo, ele estrela três produções em cartaz no 13º Festival Varilux de Cinema Francês: Golias (2022), O Destino de Haffman (2021) e Kompromat (2022). No primeiro, vive um advogado idealista que luta contra uma grande empresa de agrotóxicos; no segundo, um sujeito que passa a ter uma atitude colaboracionista em relação aos nazistas durante a ocupação de Paris na Segunda Guerra Mundial; no terceiro, um intelectual que precisa se transformar num homem de ação para escapar da Sibéria. Conversamos com Gilles Lellouche num hotel luxuoso da zona sul do Rio de Janeiro. Simpático e muito disponível, ele trocou uma ideia conosco sobre os filmes, suas escolhas e formas de expressão política. Confira este bate-papo exclusivo abaixo.

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Gilles em “O Destino de Haffmann”

Você está no Varilux 2022 com três filmes muito diferentes, mas gostaria de começar a nossa conversa falando de O Destino de Haffman. Seu personagem nele é bastante complexo, daqueles que parecem um presente para o ator, correto?
Olha, é um presente um pouco envenenado (risos). Não sou o tipo de ator que vive esse barato de não conseguir abandonar o personagem, de viver e de dormir com o personagem. Mas, neste caso aconteceu algo um pouco diferente. Tive lidar com a feiura do comportamento desse homem, lidar com toda aquela imundice. Então, eu próprio acabei me intoxicando um pouco por essa figura, uma vez que estava vivendo uma sensação de raiva fora do set, em casa, nas situações externas. O drama disso tudo é que quando estávamos filmando chegou a Covid-19 e tivemos de interromper as filmagens por dois meses e meio. Então, realmente todos entramos em isolamento.

E especialmente pelo fato desse não ser o seu registro normal como ator, deve ter sido de certa forma angustiante…
Veja bem, tive de fazer o meu isolamento inteiro usando aquele bigode (risos). Começa por aí. E conviver com esse personagem que tomava café comigo, que me olhava à noite, que estava sempre ali. Eu sabia que não poderia larga-lo, tinha de manter essa energia. Vivi excessivamente com ele, gostaria de ter podido me livrar dele bem antes. Mas, de fato, você tem razão quando falou antes do presente, pois fazer esse personagem foi um verdadeiro presente.

Já em Golias, seu personagem é completamente diferente. É um advogado idealista lutando contra grandes gigantes econômicos. O tema e a posição do personagem foram determinantes para você aceitar o papel?
Sim, foram determinantes. Não sou um ator politizado, no sentido de falar abertamente de política. Por exemplo, numa entrevista vocês nunca vão me ver fazendo isso. Então, transmito as minhas ideias por meio dos filmes que escolho fazer. Me expresso dessa forma politicamente. Na verdade, não estou nem aí com a vida política dos atores, não me parece que cabe a eles terem essas ideias. Então, justamente, tento expressar o que sinto e penso através dos meus papeis, seja em Golias com um advogado idealista ou em Kompromat que mostra relações de poder na Rússia.

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Gilles em “Golias”

Então, esse idealismo o fascinou em Golias?
Gosto dos utopistas. E acredito que não tenha nenhum ator que não queria fazer o papel de um advogado, ao menos uma vez na vida.  Esse personagem me tocou, pois tem um joelho na terra, mas paradoxalmente combate forças dez ou mais vez maiores do que ele. Realmente espero que continuem existindo pessoas como esse advogado. E, olhem só como são as coisas. No começo, o diretor propôs o papel da ativista para o Pierre Niney, a Emmanuelle Bercot seria a advogada e eu o lobista (risos). Mudou tudo completamente. Falei para ele que tinha acabado de desempenhar o papel de um colaboracionista filho da puta e não estava a fim de construir outro assim tão cedo (risos). Tinha essa vontade de fazer um advogado e pedi para ele a mudança, tanto que acrescentei algumas ideias.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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