Fábio Mendonça e as produtoras Bel Berlink e Andrea Barata Ribeiro

Conhecido apenas como ‘Fabinho’ pelos colegas e amigos, Fábio Mendonça é um dos grandes talentos da O2 Filmes, produtora de cinema, televisão e publicidade com sede em São Paulo. Seu trabalho, ao menos até o ano passado, era muito focado nas atividades publicitárias e também na animação, tendo atuado como diretor de propaganda desde 2000 e contando, neste período, com mais de 150 comerciais no currículo. O envolvimento com o cinema começou meio tímido, primeiro com o curta Curupira (2005), premiado no Festival do Rio e no Vitória Cine Vídeo. Depois vieram outros trabalhos no mesmo formato, além de experiências na televisão. O grande passo, no entanto, se deu em 2014, com o lançamento do longa-metragem A Noite da Virada, sua estreia na tela grande. E foi sobre esse trabalho que o diretor conversou com exclusividade com o Papo de Cinema. Confira!

 

Qual foi o seu primeiro contato com a peça O Banheiro, de Pedro Vicente, e como surgiu a ideia de transformá-la no filme A Noite da Virada?
Essa ideia não foi minha. Foi da Andrea Barata Ribeiro, dona e sócia da O2, e produtora do filme. Ela conheceu primeiro a peça, gostou e foi atrás. Quando fui convidado, já tinha até um primeiro tratamento do roteiro. Então tive contato direto com os dois roteiros, do filme e da peça. Foi tudo muito completo, era algo que pedia para ser filmado. Meu trabalho foi só organizar esse material e cuidar para não atrapalhar (risos).

 

Foi muito complicado transformar o roteiro de uma peça de teatro em cinema?
Não, muito pelo contrário. Foi uma delícia, pois já tínhamos a nossa disposição uma base muito boa – a peça – e fomos apenas acrescentando mais coisas, tornando tudo ainda mais dinâmico e engraçado. Um objetivo que a gente tinha era mudar um pouco a pegada da peça, que era mais noturna, mais no clima do suspense, para deixá-la mais leve, divertida. Afinal, tudo dentro de um banheiro, e pra virar filme era preciso arejar esse cenário, criar situações paralelas mas, ainda assim, deixar todos os personagens conectados de uma forma ou outra. Foi um bom desafio.

Luana Piovani e Fábio Mendonça no set de A Noite da Virada

Como foi a seleção do elenco?
Foi algo proposital, nós estávamos buscando um elenco que fosse eclético. Não queríamos nada formatada, em que já se imagina o que vai assistir. Fomos atrás de atores de várias formações, e isso importava mais do que o fato deles serem conhecidos ou não. Buscamos profissionais de lugares diferentes, para que essas origens oferecessem um molho do filme. Afinal, dramaturgia que cada um tem a sua, meu trabalho foi proporcionar esta liga entre eles. E todos entenderam muito rápido nossa proposta, alguns até já se conheciam. Fizemos um laboratório de dez dias de trabalho, antes das filmagens, para poder discutir os personagens, ensaiar e permitir que cada um se apropriasse do seu papel. O tipo de interpretação que eu queria era mais naturalista, nada muito escrachado, e acho que conseguimos.

 

O clima dos bastidores deve ter sido bem descontraído. Teve alguma história em particular que você lembre?
Ah, sei lá… uma coisa que era impressionante é que eu dava o ‘corta’ e eles continuavam falando enlouquecidamente, sem parar! Com essa turma não tinha isso de ‘ação’ ou não, eles assumiram esses personagens e viviam eles o tempo todo. Foi tudo muito animado, a mesma motivação se manteve do início ao fim. O que ajudou muito nisso foi o fato do elenco ser formado por artistas que, de um jeito ou de outro, já eram muito amigos e que estavam excitados por estarem trabalhando juntos. Parecia festa, mesmo, com um clima muito bom. Difícil foram as cenas mais dramáticas, pois em alguns momentos tinha que baixar um pouco a bola, dar uma controlada. Mas eu e o meu assistente tínhamos um papel também, eu era o guarda bom e ele o mau (risos), e assim a gente conseguia impor respeito quando necessário…

Fabio Mendonça (ao fundo) e elenco no set de A Noite da Virada

Este é o seu primeiro longa, mas antes dirigiu curtas premiados, além de ser um diretor reconhecido no meio publicitário. O que você trouxe destes outros trabalhos para essa sua estreia no cinema comercial?
Tudo me ajudou bastante. Os curtas foram fundamentais, e a propaganda nem se fala, pois foi com ela que consegui experimentar os mais variados tipos de linguagem. Mas, sobretudo, foram as séries de TV que fizeram a diferença. Trabalhei com a HBO com as séries Destino, primeiro em São Paulo e depois Rio de Janeiro, que foram maravilhosas. Teve antes ainda a minissérie Pedro e Bianca (2012), pra TV Cultura, e dirigi alguns episódios da Filhos do Carnaval (2006). Tudo isso me deu uma canja grande, a segurança que precisava para me arriscar em um formato mais longo. E estes trabalhos na televisão todos tem a característica de uma linguagem mais próxima do cinema do que da TV. Sem dúvida alguma, foi isso o que mais me ajudou no processo de como contar uma história. A publicidade ajuda nas questões técnicas, e foram muitas experiências neste sentido, em cada um aprendemos uma coisa diferente.

 

Há pouco houve outro filme nacional ambientado neste mesmo período do ano, Os Penetras (2012), do Andrucha Waddington. O que A Noite da Virada traz de novo ao tema?
Ah, acho que traz de novo por mostrar os bastidores de uma festa, e não apenas a celebração em si. Tudo aquilo que o cinema não costuma retratar. Ao invés dos bastidores do filme, é de uma festa. Outra novidade é a linguagem em si, temos aqui um tipo de comédia um pouco mais contida, mais naturalista, sem exageros, fanfarrices. É o conjunto da coisa que faz a diferença.

Fabio Mendonça (ao centro) e elenco de A Noite da Virada

Como você acredita que o público em geral irá reagir ao Noite da Virada?
Acho que vai reagir bem, afinal é um filme bem divertido de se assistir, com uma história boa, que deixa o espectador intrigado e querendo acompanhar esses personagens por toda a jornada. É um filme que diverte, é muito engraçado. E também porque combina com a expectativa do ano novo. Enfim, tudo caminha para que as se divirtam muito.

(Entrevista feita por telefone direto de São Paulo em 16 de dezembro de 2014)

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
avatar

Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *