Enquanto caminhavam pelo set do seu filme mais recente, o hilário e apocalíptico É O Fim, o comediante Seth Rogen achou necessário se beliscar. Ele não conseguia acreditar nos seus próprios olhos, e ri das lembranças desse período. As vinte e poucas pessoas famosas reunidas no filme incluem atores do calibre do próprio Rogen, juntamente com James Franco, Jonah Hill, Danny McBride, Jay Baruchel e Craig Robinson, além de inúmeros outros rostos (incluindo a estrela de Harry Potter, Emma Watson, e a superestrela pop, Rihanna), todos interpretando versões de si próprios na tela.
É O Fim reconta uma história na qual Rogen e cinco amigos ficam presos na luxuosa casa de James Franco em Los Angeles após uma série de eventos bizarros e catastróficos que devastam a cidade. À medida que o Dia do Juízo Final se desenrola, a carência de suprimentos e a crescente irritabilidade com o confinamento ameaçam acabar com as amizades. O filme é uma comédia para maiores de 18 anos que Rogen e o amigo Evan Goldberg dirigem — pela primeira vez. Eles vinham desenvolvendo o projeto há sete anos. E o espectador tem agora a oportunidade de assistir aos hilários e desbocados comediantes em suas peripécias nas telas. Apesar do comportamento irreverente nas telas, É O Fim se insere na paixão de Rogen e Goldberg por roteiros sinceros e otimistas.
“Acho que o que estamos tentando dizer neste filme e em todos os nossos filmes é que você deve tentar ser uma boa pessoa”, diz o ator e diretor. “Acho que esse é o fio condutor. Este filme tem muito a ver com redenção e com o fato de você ser ou não ser uma boa pessoa e o que significa, de fato, ser uma boa ou uma má pessoa”. Este é um tema que perpassa vários dos seus filmes, incluindo Superbad – É Hoje (2007), cujo roteiro a dupla escreveu ainda no ensino médio. Os dois se tornaram amigos logo antes de entrarem para o mesmo colégio no ensino médio. E foi Seth Rogen que abriu seu coração sobre como foi essa nova experiência, nessa entrevista inédita no Brasil, que o Papo de Cinema publica com exclusividade! Confira!
Por que vocês decidiram fazer um filme sobre o fim do mundo?
Como fãs de cinema, vimos uma tonelada de filmes sobre o fim do mundo nos últimos anos. Quero dizer, acho que por conta daquele lance dos maias, isso é algo que está na cabeça das pessoas ultimamente. Quando era moleque, teve Independence Day (1996) e antes disso, A Última Esperança da Terra (1971), e coisas do tipo. Desde Além da Imaginação (1959) que estão fazendo filmes com temas apocalípticos. Para nós, é uma ideia na qual estávamos trabalhando há sete anos.
Você ficou nervoso no primeiro dia no set, sendo sua estreia como diretor?
No primeiro dia no set ficamos tão empolgados que terminamos três horas mais cedo! Acho que ficamos um pouco preocupados. Esse é o maior medo do diretor — que você não consiga captar tudo. Levei quase uma semana para aceitar que iríamos captar tudo. E não precisava mais me preocupar com isso. Leva um tempo para você se desligar disso, sinceramente, e se concentrar no ponto onde quer chegar. Acho que encarei demais como um produtor a princípio, porque, de uma certa maneira, o trabalho do produtor e o do diretor são mutuamente contraditórios. Como diretor, você pede mais e mais e, como produtor, você opta por ser realista e dizer ao realizador que eles não podem fazer aquilo. Nós produzimos muito mais do que dirigimos, obviamente, então, foi uma transição meio estranha para os nossos cérebros pensar: “Ora, não é o meu trabalho me preocupar se vamos ou não terminar a tempo”. O meu trabalho era fazer tudo o que precisamos para montar um bom filme e era função de outra pessoa se preocupar se estávamos levando ou não tempo demais!
Na pré-produção houve algum receio quanto a dirigir o filme?
Houve discussões sobre os motivos que nos levaram a escolher um filme tão complicado para a nossa estreia diretorial! E houve alguns momentos em que pensamos: “Uau! Isso é muito mais complicado do que qualquer coisa que nós tenhamos feito antes”. Nunca tínhamos visto nenhuma filmagem de uma produção de efeitos visuais. O mais próximo disso foram os efeitos de O Besouro Verde (2011), que mesmo assim eram de natureza prática, foram filmados, porque nós tínhamos muito mais dinheiro naquela produção. Quando dispõe de um grande orçamento, na verdade, você precisa de bem menos efeitos visuais do que numa produção de baixo orçamento.
Você poderia discorrer brevemente sobre quais características procurou destacar em algumas das pessoas que interpretam a si próprias em É O Fim?
Nós reforçamos ou fomos contra aquilo que o público espera. Com o James Franco, por exemplo, as pessoas meio que o enxergam como um cara artístico que curte peças artísticas, então, brincamos com algumas dessas ideias na construção do seu personagem. Com o Jonah Hill, por outro lado, tomamos uma direção diametralmente oposta. Ele é conhecido por fazer personagens agressivos que são abusados, um pouco maldosos e sarcásticos, e foi assim que foi escrito, originalmente. Mas aí, ele disse: “Queria ser justamente o oposto. Que tal se eu fosse o cara mais legal do mundo, literalmente, o sujeito mais legal que você pudesse imaginar, muito otimista, sempre dando apoio a todo mundo”, e continuamos nessa linha tão estranha, obviamente. Então, foi assim que lidamos com ele. Exploramos o oposto do estereótipo. Com Danny McBride buscamos o modo como ele poderia ser visto, isto é, como sendo um fracassado bêbado (risos). Claro que ele é bem diferente na vida real, mas conseguimos explorar uma pouco a imagem que você esperaria. Acho que as pessoas não conhecem muito acerca do Jay Baruchel, e usamos isso no filme. É uma espécie de piada interna no filme que o Jay é menos famoso do que o resto de nós e é também uma piada o fato de ele viver separado da gente, porque, na verdade, ele mora no Canadá. Isso em parte está no filme — que ele vem me visitar, e o arrasto para a festa na casa do Franco e que ele não gosta muito dos demais caras, embora sejam meus amigos. Então, tentamos de fato explorar a visão que as pessoas têm do Jay, que é bem vaga. Por fim, Craig Robinson provavelmente tem o arco mais direto de todos nós. Seu personagem precisava passar lentamente de alguém muito egoísta e nada prestativo a alguém que se tornou uma boa pessoa. Com Craig, nós usamos coisas reais dele. Ele toca piano, e nós o vemos tocar piano no filme, e canta, mas, em grande parte, nós lhe demos uma personalidade fabricada.
E você, Seth, é o pilar central…
Quanto a mim, eu sou o que você esperaria que eu fosse, só que 10 vezes mais burro (risos). Em toda situação moral com a qual me deparo, faço a escolha errada. Foi uma época muito “autorreferencial”, porque éramos a razão de todos estarem lá para fazer o filme. E é isso o que acontece também em cena — juntei o Jay e todos esses caras, então, acho que sou a pessoa que é mais próxima de todo mundo. O Jonah e o Danny nunca tinham trabalhado juntos antes e nem se conheciam muito bem. O Craig também não havia trabalhado com o Jonah antes, e o Jay e o Franco nem se conheciam, eu acho.
Houve alguém que não quis muita direção da sua parte?
Esses caras não precisam de muita direção, sério. Houve poucos momentos em que nós precisamos dizer: “Você poderia ser mais emotivo?” A gente meio que só sugeria piadas. Eles sacam tudo. Houve muito pouca direção, tipo: “Precisamos fazer você chegar lá emocionalmente”. O desempenho do Craig, que é um grande comediante, está fantástico. Há muitas cenas de uma enorme carga dramática, mas porque elas contêm piadas, ele não terá o crédito por seu belo trabalho de atuação. Mas teve um grande desempenho. Jonah também fez um ótimo trabalho, com um desempenho talvez até melhor do que em O Homem Que Mudou o Jogo (2011). Mas sabemos que ele não será indicado ao Oscar por este papel (risos)!
Há algum destaque em particular das filmagens que lhe venha imediatamente à mente?
A cena sobre a masturbação foi uma que a gente achou muito engraçada enquanto ela estava rolando e que acabou melhorada pelos atores enquanto a faziam. Há algumas cenas desse tipo por todo o filme. Sabe, nunca vi o Jonah Hill rir tanto quanto durante as filmagens de É O Fim, por exemplo.
Emma Watson e Rihanna são uma parte emocionante do filme embora elas não sejam comediantes consagradas. Como elas conseguiram?
Queríamos muito trabalhar com a Emma, nos esforçamos para que ela estivesse no filme. E assistimos aos filmes Harry Potter e gostamos de todos. Então, sabíamos que se conseguiu fazer aqueles 45 filmes, ficaria numa boa conosco! Foi a mesma coisa com a Rihanna. Se alguém vem para uma participação de apenas duas horas, a pessoa pensa: “O que foi que fiz? Essa foi a pior decisão da minha vida”, mas após duas horas, ela já estava entrosada: “Eu entendi. Posso fazer qualquer coisa agora”. Elas entraram no clima. Mesmo assim, nós ficamos a postos com algumas piadas preparadas, caso não quisessem improvisar, mas, ao final, todos conseguiam criar as suas próprias. O mais surpreendente foi elas estarem dispostas a fazer as coisas que nós lhes pedimos que fizessem. Havia dias em que você olhava o cronograma de filmagem do dia e tinha umas 20 e poucas pessoas famosas, e você pensava: “Isso é doido!” Eu curtia só olhar para elas — adorava ficar de pé, à distância, vendo todos interagirem. E todos se comportavam bem. Foi muito legal. No dia em que eram solicitados a ocuparem as suas marcas, estavam lá. Foi maravilhoso. Eles se mantiveram sob controle.
Vocês filmaram muito material que era exagerado demais para ser incluído na montagem final do filme?
Nós rodamos esse tipo de coisa. Nós rodamos de tudo. Com algumas piadas, enquanto a gente filmava, dava para ver toda a equipe técnica, tipo: “Isso é nojento”. Mas você tem que filmar, porque precisa tentar. Eles tinham razão. Mas há coisas que você acha que vão ser demais, mas que, na verdade, funcionam muito bem. Você precisa ter a liberdade de fazer isso no set. Testamos os filmes muitas vezes. Descartamos várias piadas que foram longe demais e, na verdade, foi humilhante termos pensado inicialmente que seriam engraçadas. Mas é preciso testá-las, porque para cada três casos desses, encontrará uma que é mais engraçada do que todas as demais no filme.
No que vocês estavam pensando quando criaram o desenho de produção visual do filme — quais referências havia no seu livro de atmosfera?
Em termos de câmeras, queríamos garantir que o espectador fosse a sétima pessoa presa na casa. Por isso optamos por rodar muitas cenas com uma câmera portátil, sem muitos ângulos bizarros. Queríamos que quase todas as tomadas do filme fossem algo que você pudesse ver se estivesse lá, assistindo. Nós divergimos algumas vezes quanto às tomadas com grandes gruas, aproximações dramáticas e coisas assim, mas diria que, na maior parte das filmagens, nosso objetivo era fazer com que você estivesse naquela casa conosco. Há muitas tomadas feitas sobre os ombros com câmeras portáteis. Queríamos ao menos um dos atores em todas as tomadas. Ela deve estar atrás do cara, não na frente dele, só para ligar ainda mais todos naquele mundo. Foi isso que tentamos, espremer o máximo de talentos nas mesmas cenas (risos)!
(Entrevista cedida com exclusividade no Brasil pela Sony Pictures)
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