Filipe Matzembacher é um diretores da Avante Filmes, produtora cinematográfica com sede em Porto Alegre, RS. Desde 2009 ele e seus colegas já realizaram em conjunto treze diferentes curtas-metragens, com premiações e passagens por mais de cem festivais de cinema e mostras nacionais e internacionais, incluindo o Festival de Cannes. Agora, em 2012, eles deram um dos seus passos mais ousados até o momento: o lançamento do longa Cinco maneiras de fechar os olhos, que Filipe co-dirigiu ao lado dos ex-colegas de faculdade Abel Roland, Amanda Copstein, Emiliano Cunha e Gabriel Motta Ferreira. Este belo filme de cerca de 100 minutos produzido pelos alunos do TECCINE, curso de cinema da PUC-RS, foi realizado como trabalho de conclusão de curso e é pioneiro neste formato dentro de uma graduação em território nacional. A história, sobre quatro pessoas que decidem mudar suas vidas após a notícia da morte de uma jovem, é um belo retrato das relações humanas atuais. E foi sobre este projeto, sobre o trabalho em grupo dos alunos e sobre os próximos desafios que o Papo de Cinema conversou com o diretor Filipe Matzembacher. Confira!
Vamos começar pelo princípio. Como surgiu a ideia de realizar um longa-metragem dentro de uma disciplina da faculdade e sobre o que trata o enredo?
Bom, esse sempre foi um desejo dos professores e da coordenação, porém nenhuma turma havia se interessado. Na metade do curso começamos a pensar na possibilidade, ainda em um pequeno grupo, que foi se expandindo, até debatermos entre toda a turma. A grande maioria foi a favor de realizarmos o longa-metragem. Então começou um longo e penoso processo. Realizávamos encontros semanais para conversas (um ano antes da gravação) sobre o conteúdo e forma do filme, desde estética, abordagem, roteiro, etc. Surgiu uma vontade geral de falar sobre personagens pequenos, com grandes situações ocorrendo em suas vidas, mas que são bem internas. Falávamos sobre o que gostaríamos de contar – e o que não gostaríamos – resultando no enredo do filme. Para nós, Cinco maneiras de fechar os olhos conta, principalmente, a história de quatro pessoas que vivem com certas máscaras sociais e, em um determinado dia, decidem quebrá-las (pra sempre, ou mesmo que só por um instante). A morte de uma jovem é a notícia que tangencia estas personagens, desencadeando pensamentos que levam a estas decisões de ruptura.
Como foi a seleção do elenco, que combina nomes já consagrados com outros novatos?
Como tudo no filme, foi uma questão coletiva. Trazíamos nomes e discutíamos um a um. Vários atores também já haviam trabalhado conosco em outros projetos, então conhecíamos bem. Mas o determinante final era a necessidade do elenco ter “comprado” o filme, estar 100% nele, interessado e doando-se por inteiro.
Como é dirigir um longa entre cinco diretores? Como foi feita a divisão de responsabilidades durante esse processo de realização?
Bom, realizamos a divisão por segmentos. Amanda Copstein dirigiu o de Estela (a mãe), Gabriel Motta Ferreira cuidou do da Carol (a modelo), Abel Roland e Emiliano Cunha ficaram com o de Otávio (drag queen) e eu dirigi o de Leo (adolescente). As cenas da raposa e da suicida decidimos dirigir juntos. Então cada diretor começava com ensaios individuais até, próximo da gravação, trazer o elenco para ensaios com os demais diretores. Quanto à decupagem, realizamos reuniões para criar dogmas e regras, buscando uma união, e depois apresentávamos plano a plano a nossa vontade, em reuniões, primeiramente, com todo núcleo de direção, e depois com toda equipe. Foi um processo longo e trabalhoso, porém acredito que foi essencial para o resultado final e aproximou, possibilitando muita troca, todos os cinco diretores.
O Cinco maneiras de fechar os olhos está sendo anunciado como o “primeiro longa-metragem inteiramente rodado dentro de uma disciplina de conclusão de curso em território brasileiro”. Qual a influência e atuação dos professores de vocês para que conseguissem alcançar este ineditismo?
Eles – os professores e a coordenação – apoiaram e incentivaram a produção do filme desde o princípio. Tivemos reuniões por um ano com um grande grupo de orientandos. Normalmente no TECCINE – Curso de Realização Audiovisual – tem quatro curtas por turma, como trabalho de conclusão. Foi uma grande mudança.
Apesar de ter sido realizado por estudantes, o filme se apresenta de modo muito profissional, com notória competência técnica e artística. Como vocês estão planejando o lançamento deste filme? Ficará restrito ao Rio Grande do Sul, alcançará outros estados, será exibido em outras plataformas (internet, televisão)?
Pretendemos construir uma carreira de festivais nacionais e internacionais e, posteriormente, exibi-lo na televisão. Outro desejo da equipe é contar com exibições em outros cursos de cinema pelo Brasil.
Como tem sido o retorno do público nas primeiras exibições?
Ótimo. O feedback tem sido positivo, tanto em público, quanto em crítica. Estamos muito contentes com o resultado e esperamos atingir um público bem satisfatório.
Esse grupo que se formou para a realização de Cinco maneiras de fechar os olhos pretende seguir junto? Vocês possuem uma produtora em conjunto? Ou essa união foi apenas para esse projeto? Quais os planos para daqui em diante?
O trabalho entre os diretores foi bem intenso e nos aproximamos bastante. Mas todos seguiram caminhos diferentes, alguns já fazem mestrado fora do país, outros abriram suas produtoras e há os que seguem como realizadores independentes. Eventualmente trabalharemos juntos novamente, mas não constituímos nada como grupo para depois do longa-metragem. Quanto aos planos futuros, eles variam bastante de diretor a diretor. O longa nos ajudou a reforçar nossa visão de cinema e em que caminho pretendíamos seguir.
(Entrevista feita em Porto Alegre em 02 de dezembro de 2012)
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