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Depois de Maio, de Olivier Assayas

O levante popular que tomou conta das ruas nas últimas semanas trouxe à tona questões de extrema importância para o desenvolvimento das cidades. Há vários “brasis” ocupando os espaços, marchando pelas ruas numa luta que é, antes, por direitos. E eles são vários. Há pautas claras, há pautas difusas, há confusão de ideias, há uma tentativa de sistematização dos movimentos que se projetam apartidários, horizontais e autônomos, e que estão construindo suas reinvindicações na materialidade das lutas, através de assembleias populares e intervenções urbanas. Claro que não estamos falando como se a luta dos movimentos sociais estivesse começando hoje, já há muito sangue, há muito tempo, respingando sobre os rostos de cada um de nós.

No calor, na violência e na beleza que emana das ruas, das demandas de cada um, das almas rasgadas pelos cordões de força e crueldade entre os quais vivemos (mas que estamos tentando romper), muitas imagens circulam na imprensa maior ou nas redes sociais difusoras das imagens do povo. São as segundas, no limite, sempre as mais interessantes, pois registram a tensão das manifestações lá do lado daqueles que manifestam e não do alto dos prédios.

Pensando em imagens, Olivier Assayas capturou essa luta da juventude do maio de 1968, tentando lidar com o desdobramento da revolta. O que sucede a rebelião social? Depois de Maio (2012), seu filme sobre a geração que atravessou os anos 60 rumo a uma incerteza revigorante dos anos 70 recém-chegados, convida o espectador a olhar as coisas, ver atenciosamente as imagens da violência e da repressão do Estado e do capital. Na cena de abertura, há uma sequência absurda entre manifestantes e a polícia. Gás lacrimogênio, cavalos e cassetetes simbolizam o poder policial. Os personagens se perdem na fumaça. Têm imagens fortes e brutais. Iguais as nossas de hoje. 

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Werckmeister Harmonies, de Béla Tarr

Aqui em Porto Alegre, a fumaça do gás lacrimogênio e a da neblina se camuflam uma na outra, compõem o visual da região central da cidade. Enquanto acontece uma mostra sobre Béla Tarr, cineasta húngaro sem par na história do cinema, onde é exibido um filme como Werckmeister Harmonies (2000), os espectadores não perdem tempo e dizem: “O filme tem uma atualidade incrível. É o que estamos vivendo hoje”. Ora, é assim que os grandes filmes respiram o mundo, vão existindo e resistindo nas sombras.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do RS. Edita o blog Tudo é Crítica (www.tudoecritica.com.br) e a Revista Aurora (www.grupodecinema.com).
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