Se analisarmos a história das animações no cinema, provavelmente chegaríamos à conclusão de que, sem Walt Disney, elas não seriam tão populares até hoje. Afinal, foi graças ao empenho do produtor que, não apenas seus estúdios se tornaram a maior referência no gênero, como sua luta no início da carreira para fazer o público e a crítica acreditarem no potencial dos desenhos animados que acabou proporcionando décadas e mais décadas de fãs para seus filmes, dos curtas estrelados por Mickey e seus amigos aos clássicos longas que volta e meia são relançados em novas edições e são líderes de vendas no mercado.

Walt Disney nasceu em cinco de dezembro de 1901. Na década de 1920, ao lado de Roy, seu irmão, e o amigo Ub Iwerks, abriu uma pequena produtora chamada Laugh-O-Gram, que, como era de se esperar, fazia animações baseadas em contos de fadas. Seu primeiro personagem famoso, o coelho Oswald, esquecido até pouco tempo, teve seus curtas resgatados na coleção Walt Disney Treasures. Porém, foi com a criação de Mickey Mouse, em 1928, que Disney e seus sócios começaram a se popularizar e criar um conceito inteiramente novo na história das animações. O ápice chegou em 1937, com o lançamento do primeiro longa-metragem do estúdio, o clássico Branca de Neve e os Sete Anões.

É claro que Disney enfrentou inúmeras controvérsias em sua carreira, especialmente pelo conteúdo político americano explícito na época da Segunda Guerra Mundial e, após, no início da Guerra Fria. Período em que, inclusive, teve seus filmes proibidos na União Soviética. Posições políticas à parte, o criador foi uma das figuras mais populares e extremamente simpáticas que cativou crianças de muitas gerações. Quem não se lembra de ter visto qualquer um de seus “desenhos” em que ele aparece contando a história da criação dos personagens, especialmente contracenando com alguns deles? Cenas clássicas que ficam na memória não apenas dos pequenos, mas de qualquer adulto que teve uma infância repleta de fantasias geradas pela magia de suas produções.

O engraçado é aprofundar as histórias retratadas na telona e ver como Disney foi influenciado por sua infância difícil, espelhando em seus filmes camadas mais densas do que as populares amizade, amor e luta do bem contra o mal. Ele sofria castigos do pai quando pequeno – inclusive não teve certidão de nascimento na época, o que o fez pensar que era adotado. Um trauma tão caro possivelmente acabou gerando a predileção por tramas de pais e filhos (dos laços de amor à perda) e eterna infância, como Pinóquio (1940), Dumbo (1941), Bambi (1942) e Peter Pan (1953), entre tantos outros, mesmo após sua morte em 15 de dezembro de 1966, por causa de um câncer. Entre algumas obras imortais do gênero que continuaram seu legado nestes temas, podemos citar A Pequena Sereia (1989), Aladdin (1993), e, é claro, O Rei Leão (1994).

Das inúmeras histórias baseadas nos Irmãos Grimm, nas fábulas de Esopo, Shakespeare e outros clássicos, o detalhe é que Walt Disney não foi diretor de nenhum longa-metragem, apesar do autor ter sido conhecido por estar presente nas etapas do processo de produção de cada um dos filmes do estúdio. E entre tantos clássicos estrelados por personagens humanos e antropomórficos, pode até parecer injusto escolher apenas cinco clássicos (e mais um especial) em meio a tantas obras-primas. Eis os escolhidos pela equipe do Papo de Cinema:

 

Branca de Neve e os Sete Anões (Snow White and the Seven Dwarfs, 1937)
O pioneiro que deu origem à série. Este é o primeiro de todos os longas-metragens em animação dos Estúdios Disney, lançado em 1937 e que até hoje perdura como referência no gênero. Com um orçamento estimado de US$ 2 milhões – uma fortuna para os padrões da época – quase causou a falência dos produtores, mas ao chegar aos cinemas o sucesso foi tão imediato e consagrador que o faturamento nas bilheterias triplicou o valor investido – somente no primeiro fim de semana em cartaz! Ainda é, hoje em dia, uma das produções animadas de maior retorno de público de todos os tempos. Foi também consagrado no Oscar – indicado na categoria de Trilha Sonora, ganhou um Prêmio Honorário composto por uma estatueta normal e outras sete em miniatura, entregues pela sensação Shirley Temple e recebidas pelo próprio Walt Disney! O conto de fadas sobre a princesa que é perseguida por sua madrasta má e que, ao fugir pela floresta, encontra a ajuda de sete anões, enquanto espera pelo príncipe encantado, continua sendo um clássico imortal – só neste ano foram duas refilmagens, uma com Julia Roberts e outra com Charlize Theron, ambas se revezando no papel da bruxa invejosa. E como não voltar a ser criança com a lenda da maçã encantada, o beijo salvador, o caçador de bom coração, o espelho mágico e a inesquecível canção na versão em português “eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou…”? Simplesmente insuperável! – por Robledo Milani

 

Dumbo (1941)
A lembrança deste, que é o quarto longa-metragem dos Estúdios Disney, datado de 1941, vem num misto de saudosismo e tristeza. Saudosismo, pois ele está na base da minha cinefilia. Tristeza, pela dolorosa imagem do elefantinho desajeitado, envergonhado de suas orelhas grandes, cujo único camarada é o rato Timóteo. A amizade do roedor com o paquiderme contraria a lógica (ou seria crença?) que determina este temer aquele. Aliás, a superação de pré-conceitos parece mesmo o cerne de Dumbo. Faz sentido ter medo de alguém sem conhecê-lo? Discriminar o diferente também soa incongruente, mas, então, por que tão corriqueiro? Somente após aceitar-se, Dumbo transmutará vergonha em potencial, alçando voos sobre olhares maliciosos (logo admiração oportunista), em direção à felicidade. Walt Disney era mesmo genial. – por Marcelo Müller

 

Peter Pan (1953)
Peter Pan não quer envelhecer. Ele não quer fazer parte do mundo adulto e de sua burocracia vazia e esquemática. No filme, há um pouco de tudo aquilo que alimenta o imaginário infantil: a possibilidade de voar, o mito do herói, a infância marcada por uma série de aventuras nas quais tudo parece muito maior do que é. Mas tem também a sensualidade de Sininho (ela é, sim, a personagem mais explicitamente sexual dos filmes da Disney, não podemos moralizar as imagens), que tem ciúmes de Wendy, a jovem amiga de Peter. A história é das mais corriqueiras, mas o que a acompanha é também o que lhe dá graça. Na Terra do Nunca, o mundo de fantasias e de desejos, de uma fauna e de uma flora encantáveis, onde não é tanto o conflito que estabelece a boa história, se cria e enriquece a experiência. A batalha contra o Capitão Gancho, que é mero coadjuvante sem resistência, é o que menos importa. Há todo um clima de romance engendrado, um sensualismo disfarçado de aventura para crianças. Seu grande mérito é, mesmo com isso tudo, efetivamente ser um filme para crianças. – por Pedro Henrique Gomes

 

A Bela e a Fera (Beauty and the Beast, 1991)
Sentimentos são fáceis de mudar. E, assim como exprime a bela canção principal de A Bela e a Fera, foi isto que senti quando assisti ao filme pela primeira vez no cinema, ainda muito pequeno. Longas de animação não eram meu forte, preferia aqueles curtas rápidos exibidos diariamente pela manhã no programa da Xuxa. Porém, ao ver na tela o amor de Bela, uma intelectual francesa de vida simples que se apaixona por seu raptor, a Fera – na verdade, um príncipe arrogante transformado por uma bruxa para lhe dar uma boa lição – o encanto foi imeditado. O filme vai além da primeira indicação ao Oscar de Melhor Filme para uma animação. É um retrato humano de um amor que nasce do sofrimento, da angústia de estar sozinho no mundo sem ter alguém para lhe entender. Até que aparece aquela pessoa especial que lhe aceita do jeito que é. Seja bonito ou feio por fora. Bela talvez seja uma das protagonistas femininas mais fortes da história do cinema mundial (não só dos desenhos animados), assim como seus coadjuvantes são um show de simpatia, carisma e inteligência. Lumiere, Horloge e Zip são apenas alguns dos amigos da protagonista com quem gostaríamos de aceitar o convite de um banquete. O próprio vilão, o impagável Gaston, é um dos arquétipos mais bem construídos pela Disney e que brinca com o clichê do bonitão metido à besta. Todos estes personagens, aliados a uma belíssima fotografia e a uma trilha sonora fenomenal, só fazem pensar em uma palavra para este filme: sensacional! – por Matheus Bonez

 

O Rei Leão (The Lion King, 1994)
O sol nasce na savana. A música Circle of Life (ou Ciclo sem Fim, em nossa ótima versão brasileira) enche a sala de cinema. Animais de todas as espécies partem para a Pedra do Rei para dar boas-vindas ao filho de seu monarca, recém-nascido. Assim ficaram hipnotizados crianças e adultos naquele ano de 1994, cativados com a maestria da animação Disney. Baseado livremente em Shakespeare, o longa-metragem conta com personagens adoráveis (com destaque para a dupla Timão e Pumba), trilha sonora de alta qualidade (escrita pelo Sir Elton John) e cenas que até hoje emocionam (Mufasa e seu desfecho trágico logo vem à mente). Um dos maiores sucessos dos estúdios do Mickey, é um clássico imortal que, certamente, deixaria muito orgulhoso o saudoso Walt Disney. – por Rodrigo de Oliveira

 

+ 1

 

Mulan (1998)
Dirigido por Tony Bancroft e Barry Cook, foi lançado durante um período de transição dos estúdios Disney, que avaliavam o sucesso de animações tridimensionais, como Toy Story (1995), para seus projetos futuros. Um dos últimos filmes da produtora realizado a partir do método tradicional, integralmente ilustrado a muitas mãos, Mulan é uma aventura baseada num clássico poema chinês. Na trama, a heroína que dá título ao filme, bastante singular quando comparada às demais princesas Disney, se faz passar por um guerreiro para substituir seu pai doente em uma guerra contra os Hunos. Recheado de canções inesquecíveis e alívios cômicos inspirados, sendo um deles o inconveniente dragão Mushu (possivelmente o último trabalho apreciável de Eddie Murphy, que dubla o personagem), Mulan apresenta valores familiares essenciais sem soar piegas e evidencia temas como coragem, honra e obediência numa narrativa emocionante. Os cenários orientais, detalhadamente reconstituídos, da muralha aos vilarejos que datam de 450 d.C., imprimem o tom épico a esta belíssima epopeia chinesa. – por Conrado Heoli

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