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Sinopse

Uma expressão musical única. Uma personalidade forte e combativa. Nina Simone foi reconhecida tanto por seu talento artístico sem igual quanto pela luta devotada em prol dos movimentos que visavam resguardar direitos civis. 

Crítica

Pelo terceiro ano consecutivo, o serviço de streaming Netflix aparece na festa do Oscar na categoria Documentário. Desta vez, não apenas com uma, mas duas produções originais concorrendo pela estatueta dourada: What Happened, Miss Simone? e Winter on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom. Esta primeira tem direção de Liz Garbus, indicada anteriormente ao prêmio da Academia em 1999, pelo documentário The Farm: Angola, USA (1998). Ela tem se especializado em filmes sobre nomes interessantes da cultura norte-americana. São dela os filmes Bobby Fisher Against the World (2011), sobre o genial e excêntrico enxadrista americano, e Com Amor, Marilyn (2012), a respeito da inesquecível musa de Hollywood, miss Monroe.

Simone

What Happened, Miss Simone? é um passo a frente na carreira da documentarista. Apontando sua câmera para a atribulada vida da cantora Nina Simone, Liz Garbus constrói um filme pungente, por vezes duro, outras vezes singelo, sobre uma mulher que desejava liberdade. Para ela, esta palavra significava não ter medo. E ela não teve, quando abertamente se colocou em meio à luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, durante aquela turbulenta década de 1960. Sem papas na língua, a favor da violência para atingir os fins necessários, Simone não dosou ativismo com sua arte (algo indissociável, no caso da artista) e acabou perdendo espaço na mídia. Ela já era um nome interessante desde a década de 1950 com sua forma muito particular de cantar e com seu repertório escolhido a dedo. Por mais que sua luta fosse incontestavelmente necessária, seu discurso furioso acabou afastando o grande público. Ela deixou os palcos por um tempo, foi morar longe dos Estados Unidos e viveu momentos felizes longe do piano e do microfone. Até que viu necessidade de voltar ao show business. E seu retorno se deu com muita força de vontade, passando por cima de sérios problemas de saúde.

O documentário faz um belo serviço ao nos apresentar Nina Simone como uma pessoa real. Com seu talento fora do comum, seria muito fácil transformá-la em alguém especial demais. E não é o que Liz Garbus faz aqui. Por mais talentosa que fosse, a cantora tinha nos bastidores situações bastante sérias para resolver. O fato de seu marido – e depois agente musical – Andrew Stroud ter violentado e batido em sua esposa diversas vezes custou caro para a estrela. A filha do casal, Lisa Simone Kelly, é entrevistada e relata preocupantes episódios – incluindo a própria Simone assumindo uma posição violenta para com a filha no passar dos anos. O depoimento de Kelly, junto de alguns amigos e familiares da cantora, são alguns dos poucos trechos capturados exclusivamente para o filme. De resto, temos material de arquivo costurado às entrevistas antigas com Nina Simone, em um belo trabalho de edição.

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Clássicos imortalizados na voz da cantora como “I Loves you, Porgy”, “I Put a Spell on You”, “To be Young, Gifted and Black”, “Ain’t Got no, I Got Life” e “My Baby Just Cares for Me” ganham espaço privilegiado no documentário, se mostrando um serviço à memória da música norte-americana, resgatando um dos seus nomes mais interessantes e controversos. Nina Simone merecia um filme que mostrasse sua faceta mais verdadeira. Algo que ela fazia questão de fazer nos palcos e na vida.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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