Crítica

Jovens e entusiasmados realizadores audiovisuais quebram os modelos vigentes do fazer cinema para apresentar uma produção inovadora, essencialmente púbere, porém madura em suas pretensões e ousada em técnicas, estética e narrativa. Se houve uma nova onda no cinema gaúcho, ela se deu no início dos anos 1980, quando cineastas como Carlos Gerbase e Giba Assis Brasil se permitiam novas aspirações a partir de seus filmes, como em Verdes Anos, este que completa 32 anos ainda relevante, referencial e repleto de qualidades louváveis.

Como nos melhores dramas juvenis sobre a passagem da adolescência para a vida adulta, Verdes Anos explora três dias de uma turma de colégio nos anos 1970. Entre amores, desamores, traições, a descoberta – ou afirmação – da sexualidade, amizades e inimizades, suas histórias se fundem numa profusão de sentimentos que pontuam a transição entre puberdade latente e amadurecimento. Tudo isso é ritmado pela leveza e a descontração que pontuam as (ir)responsabilidades características desse período da vida, num retrato sincero e potente.

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Sucesso sem precedentes para um filme gaúcho e de orçamento tão diminuto, Verdes Anos integra uma série de outras produções contemporâneas que variam sobre os mesmos temas, porém com abordagens bastante singulares. Assim como Deu Pra Ti Anos 70 (1981), de Giba Assis Brasil e Nelson Nadotti, e Inverno (1983), de Carlos Gerbase, o que está em foco aqui é a juventude e sua idealização pueril do futuro. Não há muita profundidade no desenvolvimento dessas questões, porém há de se reconhecer o valor da representação do ordinário, da projeção em tela de uma geração que não se via continuamente representada no cinema brasileiro e, muito menos, no cinema gaúcho.

Protagonizado por uma série de promissores talentos das artes cênicas, Verdes Anos destaca as interessantes composições de Werner Schünemann e Marcos Breda para os típicos arquétipos de tantas tramas de picardias estudantis, assim como Luciene Adami, Xala Felippi e Ivonete Pinto. Gerbase e Assis Brasil expõem o que há de mais sincero nessas performances numa narrativa agridoce, que até derrapa em suas limitações, porém transpira verdade em seus planos, fotografia e edição. A música, assinada por Nei Lisboa e Nelson Coelho de Castro, é outro ponto alto da produção.

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Hoje, Verdes Anos ainda reverbera o frescor da época de seu lançamento; há qualidades de produção que podem ser consideradas datadas ou como o retrato do período que representam, é uma questão particular das perspectivas de cada espectador. Ainda assim, é inegável perceber que se trata de um importante marco não só do cinema gaúcho, mas daquele cinema predisposto a ser mais, a inovar na simplicidade – intenções por si só admiráveis.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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