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Sinopse

Um jovem casal fica preso nas ruas poucas horas antes da tradicional noite em que todos os crimes são permitidos pelo governo, para os cidadãos poderem liberar os seus instintos violentos. Sem poder contar com a ajuda de ninguém, eles tentam sobreviver à barbárie nas ruas.

Crítica

Lançado há cerca de um ano, Uma Noite de Crime (2013) custou muito pouco para ser realizado (US$ 3 milhões) e gerou animadores US$ 89 milhões no mundo todo. Diferente do primeiro filme, que tinha dois nomes mais conhecidos no elenco (Ethan Hawke e Lena Headey), Uma Noite de Crime: Anarquia não tem ninguém famoso, custou três vezes mais e já passou dos 110 milhões de verdinhas arrecadadas. Uma justificativa para aumentar esses números ou não, você pode encontrar nas próximas linhas.

Em um futuro não muito distante, a sociedade americana adotou o expurgo (tradução do título original) para controlar a criminalidade. A ideia consiste em liberar por 12 horas, uma vez por ano, a prática de crimes. Ou seja, o cidadão revoltado tem esse dia para chutar o balde e os que não querem morrer precisam se proteger. Para os que estão no poder, os resultados nos últimos nove anos têm sido ótimos, porque a violência caiu durante o ano. Do outro lado, um líder rebelde quer provar que somente os mais pobres (e fracos) morrem, revelando uma espécie de seleção nada natural. Dentro desse contexto, um ex-policial cheio de ódio e em crise existencial, vai liderar um grupo que não consegue se esconder durante o massacre noturno.

Denúncia escancarada do jeitão americano de ser, apaixonados por armas (veja as listras da bandeira no cartaz) e beneficiados pelo capitalismo desenfreado, o longa foi escrito e dirigido por James DeMonaco, que já mostrou apreço por momentos de tensão em situações limite no filme anterior, em A Negociação (1998) e Assalto a 13ª Delegacia (2005). Esse clima, aliás, é o que sustenta a trama do início ao fim, revelando ecos de um esquecido Uma Jogada do Destino (1983) e Warriors: Os Selvagens da Noite (1979), dois bons exemplos de filmes "de sobrevivência" em formato de contagem regressiva nas ruas. Para os chegados em referências, um ensaio de uso de arma remete a Travis Brickle (Robert De Niro) de Taxi Driver (1976), cenas com veículos lembram Mad Max (1980), caminhões (com missão sinistra) tem um Q de Mamute do desenho Speed Racer (1967-1968) e o fato de prisioneiros serem vendidos para a "diversão" é puro O Albergue (2005). Assim, torna-se quase obrigatório para quem curte filmes com doses de violência, trilha sonora coerente, alguma pegada de video games e atuações, no máximo, honestas.

Produzido pelo criticado cineasta Michael Bay e por Jason Blum (saga Atividade Paranormal), que criou um produtora (Blumhouse) dedicada ao medo, Uma Noite de Crime: Anarquia poderá não ser lembrado no futuro, mas sobrevive (com trocadilho), porque o argumento é, no mínimo, insano. Além de botar o dedo na ferida da eterna divisão de classes, o suspense reserva ainda uma interessante inversão de papéis (perto do final), quando a vingança, mola propulsora de um dos personagens, torna-se um prato que se come quente e ao amanhecer. E como o noticiário do canal 13 (!) avisa que faltam 364 dias para um novo expurgo, prepare-se para o número 3. A cena emblemática (real) nos créditos finais mostra uma criança, com o apoio de um adulto, atirando e levando o coice de uma arma potente. Ela diz muito.

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é publicitário, crítico de cinema e editor-executivo da revista Preview. Membro da ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, filiada a FIPRESCI - Federação Internacional da Crítica Internacional) e da ABRACCINE - Associação Brasileira dos Críticos de Cinema. Enviado especial do Papo de Cinema ao Festival Internacional de Cinema de Cannes, em 2014.
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