Crítica


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Sinopse

Rafi mora em Nova Iorque e se divorciou recentemente. Ela não quer se envolver amorosamente, pois prioriza a carreira. Mas, sua opinião muda quando conhece um pintor bem mais jovem, por quem se apaixona.

Crítica

Mulher, recém-saída de desilusão amorosa com o fim do casamento, redescobre o amor ao se apaixonar por rapaz um pouco mais novo. Garoto, de apenas vinte e três anos, se envolve numa aventura amorosa com uma mulher alguns tantos anos mais velha. Nessas duas visões de um mesmo incidente se esconde o conflito de uma psicanalista em Terapia do Amor: se para a paciente ela acredita que a nova relação possa trazer benefícios, quando quem está no lado oposto é o filho, tal envolvimento não só deixa de ser incentivado como passa também a merecer recriminação. Porém, a coisa complica de vez quando se descobre que uma versão é o contraponto da outra – ou seja, paciente e filho estão apaixonados – e o que era uma questão ora familiar, ora profissional, se mistura de tal forma que os limites precisarão ser expandidos, ou então ultrapassados.

Dirigido com mão segura pelo novato Ben Younger (também autor do roteiro), que antes dirigira apenas O Primeiro Milhão (2000), com Vin Diesel e Ben Affleck, Terapia do Amor tem como ponto forte as interpretações das atrizes Meryl Streep (a terapeuta) e Uma Thurman (a apaixonada). O desempenho de Bryan Greenberg (Nota Máxima, 2004), que faz o filho de uma e namorado da outra, também merece destaque: apesar de ser realmente mais jovem, ele tem porte e atitude suficiente para convencer como par da protagonista de Kill Bill (2003), uma vez que a química entre os dois é bastante convincente. Mas o longa ganha mesmo quando são as duas estrelas que estão em cena. Streep é, provavelmente, a mais completa atriz da atualidade, e mesmo num papel menor e sem grandes oportunidades como este, é um show à parte. Ela aproveita cada aparição para oferecer ao espectador algo que muito raramente é encontrado nas telas de hoje em dia: maestria. Hábil tanto em drama quanto em comédia, aqui comprova que sabe fazer rir mesmo ao abordar um tema que teria tudo para resvalar no clichê, mas que consegue, felizmente, se manter num âmbito mais verossímil durante o desenrolar da trama.

Uma Thurman, no entanto, é outra história. Atriz mais limitada, porém de imenso potencial quando em seu campo, aqui reluz como poucas vezes. Não há esforço físico associado – como nos trabalhos com Tarantino – mas a composição do personagem é tão detalhada quanto lhe foi possível. Frágil e segura, sedutora e inocente, convence nos dois focos de atuação, mostrando como faz sentido a situação retratada em cena. Afinal, ser bem-sucedida profissionalmente é importante, mas ninguém é feliz sozinho. Ou será que não? Indo por outro caminho, talvez somente a solidão possa nos mostrar o verdadeiro caminho para um sentimento maior e mais intenso. E é ao provocar esta discussão que Terapia do Amor consegue se elevar da condição de comédia romântica corriqueira para adquirir uma insuspeita relevância.

Com um final um pouco apressado e sem desenvolver a contento algumas questões que até chegam a ser levantadas – como evitar o tédio do cotidiano e o acomodamento das relações após certo tempo – o longa talvez ganhasse peso se tivesse tido mãos mais experientes no controle. Por outro lado, a aparente normalidade com que este tema possivelmente polêmico é abordado nos faz acreditar que talvez velhos preconceitos possam, quem sabe, encontrar novas luzes para análise num futuro não muito distante. Sinal de amadurecimento social ou de evolução dos tempos? Um pouco de cada. Porém o fraco desempenho do filme nas bilheterias norte-americanas indica ainda outro velho problema: inteligência nem sempre anda acompanhada de compreensão pública.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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