Tarzan

LIVRE 88 minutos
Direção:
Título original: Tarzan
Ano:
País de origem: EUA

Crítica

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Sinopse

Perdido na selva, um bebê órfão é criado por uma gorila como se fosse seu filho. Tarzan cresce achando que é um símio, agindo e vivendo como tal. Ao ter contato com pesquisadores humanos, percebe que é igual a eles, o que principia a mudança de sua vida.

Crítica

Pode-se dizer que Tarzan foi um marco para a Disney no sentido da mudança de estrutura de suas animações. Se antes todas eram épicas, em maior ou menor grau, recheadas de momentos musicais que faziam parte do roteiro, aqui a trilha sonora é um coadjuvante que, por melhor que seja, às vezes nem é necessária. Serve mais como gancho para mudanças de status e dos rumos da história do que qualquer outra coisa. Se, por um lado, isto pode ter favorecido o amadurecimento das produções do estúdio em suas histórias e na própria técnica, por outro, esta mesma maturidade demoraria a chegar nos anos seguintes por conta, especialmente, dos roteiros, com longas divertidos, mas rasos, como A Nova Onda do Imperador (2000) e Lilo e Stitch (2002).

O filme é mais uma adaptação baseada no livro de Edgar Rice Burroughs e traz poucas alterações relevantes à história original (que é muito mais crua e violenta) e, especialmente, em relação aos homônimos Tarzan: O Filho das Selvas (1932 e 1981), entre outros. Tarzan começa a história ainda bebê, quando seus pais são mortos por um leopardo na ilha deserta onde vivem após um naufrágio. Ao mesmo tempo, Kala, gorila mulher de Kerchak, o líder da espécie na selva, também perde seu bebê para o mesmo animal e ouve o choro do pequeno humano, adotando e criando do menino como se fosse um dos seus. Para desgosto do marido. Quando cresce, Tarzan ainda tenta conquistar o amor de seu pai adotivo e entra em contato com os humanos pela primeira vez quando conhece Jane em uma expedição de pesquisadores que pode não ser a melhor notícia para os gorilas. O grande problema de Tarzan talvez tenha sido o fato de não haver uma espécie de desafio entre os realizadores da produção. É como se todos tivessem concordado que deveriam manter a história tal e qual o livro (guardadas as devidas proporções), acrescentar um coadjuvante que outro engraçadinho e nem deram muita bola para o vilão. Aliás, o caçador de gorilas Clayton é o elo mais fraco do filme, pois não mete medo em ninguém, dentro e fora da tela. Um estúdio que tem personagens fortes como a Bruxa Má, Malévola, Gaston, Scar, Jafar e Úrsula não deveria se contentar com alguém tão irrisório para antagonizar com o protagonista.

Os coadjuvantes metidos a engraçados também não ajudam muito. Se A Pequena Sereia (1989) tem Sebastião e Linguado, Cinderela (1950) o seu clã de ratinhos, O Rei Leão (1994) vem com Timão e Pumba e em Aladdin (1992) há o magistral gênio dublado por Robin Williams, o que sobra para Tarzan são o pai de Jane, que é uma caricatura sem muitos atrativos, e a pequena macaca Terk, que tenta, mas não consegue atingir notas tão altas. Por outro lado, Tarzan tem uma das melhores trilhas sonoras de todos as produções da Disney, com destaque, é claro, para as canções compostas e interpretadas pelo cantor Phil Collins, inclusive o tema principal, “You’ll Be In My Heart“, vencedor do Oscar e do Globo de Ouro na categoria. Porém, não dá para deixar outras músicas tão belas como “Strangers Like Me“, “Son of Man” e “Two Worlds“, que dão um charme à mais ao filme. Não à toa levou também o Grammy de Melhor Trilha Sonora.

A técnica deep canvas, até então inédita, deu um novo ar às animações do estúdio e sua estreia com Tarzan mostra a riqueza de detalhes que há na floresta e nas movimentações dos personagens, especialmente em cenas de ação. Se na época do lançamento do filme o 3D era algo longe de se pensar como nos dias de hoje, Tarzan já mostrava uma tridimensionalidade bastante interessante e que chamava a atenção, pois parecia uma animação mais nítida e com cores mais vivas.

Apesar de algumas falhas, em geral, Tarzan é um desenho animado acima da média e com o selo de qualidade dos estúdios do Mickey. Pode pecar pela ingenuidade em certos momentos, porém ação e momentos emocionante não faltam para os pequenos e também os mais velhos que possam querer rever este que foi um dos maiores sucessos de bilheteria da Disney. Pode não ser o melhor de todos, mas diverte na medida necessária.

Matheus Bonez

é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.

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