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Sinopse

Entediada em seu casamento monótono, uma mulher católica de classe média alta se apaixona por um músico. Nessa busca por felicidade, ela encontra um acupunturista que lhe dá misteriosas ervas e reações inusitadas.

Crítica

Vigésimo filme de Woody Allen, décimo primeiro protagonizado por Mia Farrow, Simplesmente Alice é uma fábula reinventada que flerta com o universo lúdico de Lewis Carroll e sua protagonista homônima. Simpático e inofensivo, este esforço cômico do cineasta introduz a mágica e o misticismo no centro de sua obra – algo que ele repetiria tantas outras vezes – para investigar as grandes questões da humanidade. Infelizmente, Allen parece se distrair e não encontra soluções tanto para aquilo que propõe como para salvar seu próprio filme do tédio e da banalidade.

Esta Alice contemporânea é uma dona de casa aristocrata, integrante da alta sociedade de Nova York, que busca um terapeuta alternativo para tratar um problema na coluna. Por algum motivo, ela recebe uma série de ervas e poções que a tornam desinibida, sexy e até mesmo invisível. Com seus novos poderes, a tímida e insatisfeita esposa de magnata resolve investir na fantasia de ter um caso extraconjugal com um saxofonista desconhecido. Alguns anos depois do excepcional e imaginativo A Rosa Púrpura do Cairo (1985), Allen investe novamente no fantástico e no surreal para retomar a série de personagens que compõe o imaginário característico de sua cinematografia, em que apenas protagonistas neuróticos, existencialistas, insatisfeitos e preferencialmente brancos podem habitar. Desta vez mais inspirado em Federico Fellini (Julieta dos Espíritos, 1965, é uma referência clara) do que em Ingmar Bergman, o cineasta se mune de um elenco grandioso e infelizmente mal aproveitado para compor as desventuras de uma rica e mimada mulher que pretende ser Alice, mas que sequer consegue atingir o carisma de uma Rainha de Copas.

Mia Farrow, que aparece impecável tanto em dramas quanto em comédias dirigidas por Allen, não atinge muitos momentos memoráveis em Simplesmente Alice. Joe Mantegna e William Hurt até parecem mais coesos em suas composições, e com eles, em várias pequenas aparições, desfilam Alec Baldwin, Judy Davis, Cybill Shepherd, Patrick O'Neal, Julie Kavner, Bob Balaban e até mesmo Elle Macpherson, que não conseguem tempo ou conteúdo para tornar relevantes suas incursões pelo filme. O roteiro de Allen, que geralmente é a cereja do bolo de suas realizações, não diz a que veio. Vazio e pouco elaborado, possui alguns diálogos afiados, porém perde todo seu pouco ritmo quando passa a ser apenas uma pequena história sobre uma mulher casada e seu dilema de trair ou não o marido que a sustenta. As soluções de Allen para tal imbróglio, pretensiosamente irônicas, devem parecer indiferentes ao espectador, que tem no filme a difícil missão de sentir qualquer empatia pela fraca e desinteressante protagonista.

Em dado momento de Simplesmente Alice, uma musa interpretada por Bernadette Peters tenta ajudar a heroína alleniana a conseguir ideias para sua improvável carreira como escritora. “A parte importante é a inspiração. É quando eu entro”, ela diz. Uma pena que esta musa não tenha aparecido antes, para ajudar Allen com este engraçadinho, porém esquecível, filme.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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