Crítica

O diretor e produtor John Lasseter, um dos donos da Pixar, afirmou, numa entrevista durante o lançamento de Bolt Supercão, que um dos próximos passos da Disney é retomar o estilo clássico que a consagrou, em fábulas com princesas em perigo e reinos distantes. Pois bem, os fãs do gênero não precisam esperar tanto, pois um novo exemplar deste estilo já está em cartaz – O Corajoso Ratinho Despereaux, que é baseado num romance recente, mas tem todos os elementos clássicos. Senão, vejamos: um herói inesperado (um ratinho), uma princesa incompreendida, uma jovem sonhadora, um atrapalhado precisando se redimir, um rei amargurado, uma tragédia que muda o destino de todos e uma solução redentora encontrada no último minuto. Não é bem o que se espera?

Talvez seja justamente por isso que O Corajoso Ratinho Despereaux seja tão decepcionante – ele é mais do mesmo, e nada além. A animação é bonita, a técnica é perfeita, os personagens estão todos lá, nos seus devidos lugares. Então, por que não funciona? As razões podem ser muitas, a questão é descobrir quem se interessa por elas. Afinal, o filme passou praticamente despercebido pelos cinemas norte-americanos, obtendo uma arrecadação mediana nas bilheterias – US$ 49 milhões nos EUA e um total de aproximadamente US$ 70 milhões em todo o mundo, para um orçamento de US$ 60 milhões... ou seja, não causou nenhum estrago, mas também não deixou ninguém muito feliz. Junto à crítica o resultado não foi muito melhor: muitos se deixaram levar por um ou outro mérito, enquanto outros apontaram falhas aqui e ali. Enfim, meio termo. E nada pior do que a mediocridade.

O enredo é bastante tradicional. Desperaux é um ratinho que nasceu sem medo, o que na Terra dos Camundongos é uma grande ofensa – somente temendo os humanos, os gatos e o desconhecido é que os ratos irão conseguir suas sobrevivências. Ele é diferente, mais ou menos no estilo do pequeno pingüim de Happy Feet. Mas antes de chegarmos ao nosso protagonista ficamos a par da tragédia provocada por Roscuro, uma ratazana que, ao cair desastradamente no prato de sopa da rainha, não só a matou de susto – literalmente – como provocou uma grande tristeza no rei, que ordenou duas coisas: acabaram-se as festas no reino e todos os ratos estão banidos da região! Despereaux, o corajoso, não só irá conquistar a confiança da princesa, como também, como o apoio de Roscuro, irá mostrar que o rei está errado em ser tão radical, ao mesmo tempo em que uma jovem ajudante do palácio irá realizar seu maior sonho: encontrar sua família!

Provavelmente o maior problema de O Corajoso Ratinho Despereaux é o próprio roteiro, confuso, repleto de reviravoltas desnecessárias e dotado de um ritmo muito irregular. O personagem principal, que dá título ao longa, não tem o merecido destaque, além de levar muito tempo para aparecer em cena. E são tantas ações paralelas que a trama que merecia maior atenção acaba perdendo sua força. E sem conseguir com que o público se envolva, o filme só tende a atingir um único resultado: o fracasso. E o pior é que ninguém irá lembrar disso. Dessa vez não vale a máxima “fale mal, mas fale de mim”, uma vez que ninguém irá se importar.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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