Crítica

Quando se quer buscar histórias fora do comum, ousadas, com um pé no absurdo e o outro no bizarro, o melhor caminho é procurar por filmes dirigidos por cineastas gregos contemporâneos. Basta lembrarmos do esquisito e inesquecível Dente Canino (2009), dirigido por Yorgos Lanthimos, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, ou do mais recente Miss Violence (2013), de Alexander Avranas, ambas histórias de famílias guiadas a pulso firme por um pai muito longe do normal. Unindo-se a esse time tão disfuncional, chega uma produção alemã, mas com diretor grego naturalizado alemão, Nikias Chryssos. Seu filme? O Bunker (2015).

Na história, assinada por Chryssos, conhecemos um jovem estudante (Pit Bukowski) a fim de paz e sossego para trabalhar em suas pesquisas. Para tanto, aluga um quartinho em uma casa em lugar inóspito. Lá, conhece o pai (David Scheller) e a mãe (Oona von Maydell) do esquisito Klaus (Daniel Fripan). Claramente um homem com seus 30 anos, Klaus é tratado como criança, com penteado ridículo e roupas infantis. Sua educação é toda realizada em casa e seu intelecto, para dizer o mínimo, é bastante raso. Seguindo as ordens de uma estranha força que rege aquela família, o estudante passa a ser tutor de Klaus e começa a observar com cada vez mais naturalidade a bizarrice daquele trio.


Fosse um diretor com mão mais pesada, O Bunker poderia ser um filme de terror, graças aos pontos sobrenaturais que permeiam a história e pela própria crueldade com que os “pais” daquela “criança” o tratam. No entanto, Chryssos é inteligente em manter tudo com um ar muito perto da galhofa, caprichando na direção de arte cafona da casa e no figurino completamente anacrônico do casal e do menino. Isso separa este longa dos trabalhos supracitados da cinematografia grega, que além de estranhos em temática, eram sérios e bastante pesados. Em O Bunker, não é este o desejo do diretor.

O quarteto do elenco convence em seus papéis, mas o destaque é, sem sombra de dúvidas, para Daniel Fripan, como o perdido Klaus. Suas atitudes infantis e sua crença de que poderá ser um dia presidente (e dos Estados Unidos!) visto que seus pais o convenceram a tal só mostram um pouco de sua mente completamente iludida. A maquiagem e o cabelo ajudam e muito na composição do personagem, que é um dos mais bizarros vistos nos últimos tempos. Basta dizer que ele é ainda amamentado pela mãe para que tenhamos uma ideia bastante precisa dos danos deste rapaz.


Existe em O Bunker uma vontade de chocar, mas também de fazer rir pelos absurdos. E este é um grande predicado desta produção. Ainda que queira incluir uma crítica ao método de educação severo, que pune com violência quem não consegue se desenvolver, não é neste quesito que o trabalho de Nikias Chryssos realmente chama a atenção. É um plus, de um filme incrivelmente ímpar.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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