Crítica

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Natal chegando. Época de família. Época de afeto. Época de presentes. A bela Thana (Olivia Grace Applegate) resolveu dar um regalo para seu namorado, o artista plástico Quinn (Noah Segan) alguns dias antes da data festiva: uma pistola. Em meio ao sexo, ela pede para ele colocar a arma na boca e puxar o gatilho. É uma prova de confiança. Uma prova de amor. Ela está descarregada, segundo a mulher. Relutante, ele a põe em sua boca e seu dedo desliza até o gatilho. Será que ele teve coragem de chegar ao final disso? Não sabemos em um primeiro momento. A cena pula para a manhã seguinte. Ao acordar, Quinn observa manchas de sangue no teto. Sua namorada? Caída no chão, com um buraco de bala na cabeça. O que diabos aconteceu na noite passada? É isso que descobriremos em Follow, thriller norte-americano dirigido por Owen Egerton.

Confinando seus personagens basicamente na casa daquele casal, Egerton constrói um suspense com pitadas de paranoia e humor, aumentando a cada momento os desafios de Quinn. Ele, até pouco tempo atrás, estava flertando com a bartender Viv (Haley Lu Richardson) e sonhando com uma bolsa de estudos que parecia nunca acontecer. Teria Thana sabido desse flerte e, por isso, arranjado aquela “prova de confiança” para os dois? Difícil saber. O que se sabe é que Quinn não chamará a polícia e tentará esconder o corpo de sua falecida namorada – por mais difícil que possa parecer, visto que, inexplicavelmente, o cadáver tende a mudar de local. Por vezes safando o rapaz do olhar curioso de vizinhos, por outras revelando o sórdido acidente para Viv, que acaba sendo mantida como refém no porão.

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Mesmo que falte apuro na câmera de Owen Egerton, que parece estar gravando um episódio de uma série televisiva de baixo orçamento do que um filme para o cinema, Follow acaba divertindo pelo nonsense de alguns desdobramentos da trama. Thana é a “morta muito louca”, que parece ter poder perene sobre o namorado. Mesmo tendo passado dessa para a melhor, aquela mulher ainda faz de Quinn gato e sapato. Na tentativa de retomar os rumos de sua vida, o rapaz só piora as coisas. Esse espiral de desespero é bem empregado no longa-metragem, com resultados surpreendentes até o seu final.

Noah Segan se mostra um ator limitado, mas consegue dar ao personagem a paranoia necessária para carregar o filme. Uma pena que tenhamos tão pouco de Olivia Grace Applegate (com sua personagem viva, ao menos), pois ela conseguia transmitir muita intensidade em sua performance nas poucas cenas em que Thana ainda respirava. Curiosidade é que além de atriz, Applegate é cantora e participou como competidora, em 2012, da série America’s Got Talent. Ela acaba sendo o talento descoberto por Owen Egerton, que estreia como cineasta com este longa, uma expansão de seu primeiro curta, também chamado Follow, lançado em 2013. Isso explica que, mesmo com apenas 73 minutos de duração, o longa pareça um tanto inchado, sem história para tanto.

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Algumas arestas poderiam ser aparadas, portanto. A inclusão de uma irmã gêmea para Thana, vivida pela própria atriz em duas cenas descartáveis, é completamente desnecessária, assim como a presença de um pretenso amigo que se torna o receptor de mais um arroubo de violência de Quinn. É compreensível que se tente dar uma movimentada em um filme que tem, basicamente, um único cenário. Mas existem outras formas de gerar o recurso desejado sem criar personagens dispensáveis.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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