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Sinopse

Uma história sobre a coragem de um homem para derrubar o líder de um império. O filme retrata a batalha entre Moisés, no momento em que ele ascende contra o faraó Ramsés, levando 600 mil escravos a uma jornada monumental para escapar do Egito e das pragas que o aterrorizam.

Crítica

A história de Êxodo: Deuses e Reis quase todos conhecem. Moisés (Christian Bale) é um príncipe do Egito postiço, encontrado em uma cesta pela irmã do faraó Seti (John Turturro). Criado como um irmão ao lado do futuro faraó de direito, Ramsés (Joel Edgerton), Moisés é, na verdade, um hebreu, povo escravo dos egípcios há 600 anos. Quando Seti morre, Ramsés vira o mandante e descobre este passado do seu irmão de criação. Em vez de matá-lo, o faraó exila Moisés, que acaba encontrando seu caminho e formando família longe dali. Tempos depois, o ex-príncipe do Egito recebe uma missão divina: libertar seu povo do jugo da escravidão, nem que para isso tenha que abandonar seus entes queridos e embarcar em uma jornada mortal. Agora, ele terá de desafiar seu meio irmão em um conflito que mudará os rumos da história.

Ridley Scott resolveu contar a história de Moisés e do grande êxodo dos escravos hebreus de uma forma diferente, menos fantasiosa, mais calcada na realidade. Com isso, mostrou que era possível explicar algum dos pontos mais fantásticos do livro do Antigo Testamento sem apelar para atos miraculosos (ainda que falhe diversas vezes neste intento). Por outro lado, ao retirar este vislumbre mágico, algumas cenas acabaram por perder em espetáculo. Um grande exemplo disso é a travessia pelo Mar Vermelho, que foi completamente destituída de sua qualidade mais impressionante, a divisão das águas, brilhantemente concebida pelo pai dos épicos Cecil B. DeMille em Os Dez Mandamentos (1956). Quem espera ver esta cena em toda sua glória em 3D perderá a viagem. Mas não se preocupe. Ainda existem momentos clássicos da história que foram intocados, como as devastadoras pragas do Egito.

Para conseguir manter Êxodo: Deuses e Reis com um pé na realidade, Scott – e os roteiristas Adam Cooper, Bill Collage, Jeffrey Caine e Steve Zaillian – transformaram alguns momentos miraculosos em possíveis alucinações. Assim é o primeiro “encontro” entre Moisés e Deus, personificado como uma criança durante todo o filme. Momentos antes da aparição divina, Moisés é atingido por rochas durante uma tempestade e, completamente coberto em lama, conversa pela primeira vez com este menino, interpretado por Isaac Andrews, que lhe dá a famosa missão. Scott escolhe este caminho para colocar dúvidas no espectador – será tudo fabricado pela mente de Moisés? Ele conversa sozinho aos olhos de Joshua (Aaron Paul), seu fiel companheiro. E os olhos alucinados de Christian Bale ajudam neste momento. Se por este lado, o diretor consegue trilhar este caminho dúbio, em outros, falha miseravelmente. A morte dos primogênitos egípcios é algo inexplicável. E ainda que as pragas tentem ser colocadas sobre uma luz científica – mais por brincadeira do roteiro do que para tentar justificá-las, é verdade – não chegam a ser convincentes.

O que convence, e muito, é todo o desenho de produção de Êxodo: Deuses e Reis. Cheio de detalhes, Ridley Scott consegue novamente nos transportar ao passado suntuosamente. Se em Gladiador (2000) o diretor havia nos levado a Roma Antiga como nunca antes, neste novo longa-metragem ele consegue o intento novamente, desta vez nos apresentando o Egito Antigo de forma inédita. A fotografia de Dariusz Wolski é deslumbrante, sem sombra de dúvidas o quesito mais elogiável desta produção. Trabalhando com câmeras digitais, Wolski nos apresenta aquele Egito de forma palpável, com cores vivas e imagens incrivelmente nítidas. É como se séculos e séculos não nos separassem daquela história.

Quanto ao elenco, Christian Bale defende bem Moisés, como de praxe, trabalhando o físico para pontuar as transformações do personagem. No começo, o ator aparece forte e robusto, para depois emagrecer após ser exilado pelo irmão. Ainda que esteja um tanto no piloto automático, não decepciona. Joel Edgerton nos apresenta um Ramsés dividido, um vilão não tão óbvio quanto poderíamos esperar. Sim, ele é invejoso, faminto pelo poder e detestavelmente teimoso. Mas neste filme, é apresentado como um sujeito que pode ser amoroso. Ele não foi querido pelo pai, e acaba depositando suas afeições no filho. Após a morte da criança, em um dos momentos mais famosos da história do Velho Testamento, ele decide agir com fúria. Não chega a justificar seus atos, mas ao menos não é tão unidimensional. Os demais nomes do elenco não ganham muito tempo em tela para justificar sua presença, sendo desperdiçados. Sigourney Weaver tem duas ou três falas durante o filme todo, por exemplo.

Deleite para os olhos e com boas cenas de batalha, mas com trama esticada e que perde a atenção do espectador de tempos em tempos, Êxodo: Deuses e Reis é apenas um trabalho correto, sem a maestria costumeira de Ridley Scott. Não serve nem como pontapé inicial para uma retomada de filmes bíblicos – como aconteceu com os épicos de espada e sandália em Gladiador – pois já tivemos um exemplar do gênero este ano com Noé(2014), dirigido por Darren Aronofsky. Curiosamente, com Russell Crowe no papel principal, contumaz colaborador de Ridley Scott.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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