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Sinopse

Ela salvou fotografias e um diário com frases escritas à mão de um incêndio. Palavras e rostos que se configuram nas únicas coisas deixadas como rastros pelo homem amado. Cruzando montanhas e estradas, a fim de refazer os passos dele, ela se depara com elementos que gradativamente se integram à sua vida.

Crítica

Aclamado por alguns, desprezado por muitos. Assim é Exilados do Vulcão, filme de estreia na ficção de Paula Gaitán, artista multimídia mais conhecida até então por ter sido a última esposa de Glauber Rocha, além de mãe do cineasta Eryk Rocha e da atriz Ava Rocha. Este longa, exibido na última noite da mostra competitiva do 46° Festival de Brasília, consagrou-se como o grande premiado do evento, recebendo o troféu Candango de Melhor Filme. Tal resultado, no entanto, provocou mais espanto do que felicidade. Pois temos aqui um legítimo caso de “ame ou odeie”, uma obra que não permite meios termos. E, em sua maioria, o que se percebia após sua projeção era um sentimento de questionamento sobre como teria sido possível a sua seleção. É fácil imaginar, portanto, a revolta que tantos sentiram após sua consagração, reflexo da vontade de poucos em favorecer uma estética cinematográfica ultrapassada e envelhecida, dedicada a uma minoria preocupada em reinventar a roda, ao invés de oferecer uma experiência satisfatória e recompensadora.

Com mais de duas horas de duração (125 minutos, para sermos mais exatos) e desprovidos de diálogos – tudo que é oferecido, além de imagens esteticamente belas, porém muitas vezes desprovidas de um significado relevante, são trechos de uma narração monótona e pedante – Exilados do Vulcão é livremente inspirado no romance Sobre a Neblina, de Christiane Tassis. A fonte, entretanto, serve apenas como referência, e nunca como guia, pois o filme tem muito pouco de literário. Sua maior proximidade é com o formato videoarte – arte já experimentada por Gaitán anteriormente – em que a necessidade de provocar emoções primárias é mais forte do que a reflexão profunda e o estabelecimento de uma comunicação efetiva. Sua pretensão é tamanha, a ponto de somente nos seus minutos finais a realizadora oferecer os elementos necessários para se seja viável o discernimento de uma trama a ser narrada ou, no máximo, absorvida.

E qual seria o enredo de Exilados do Vulcão? Talvez nem mesmo os envolvidos na equipe técnica ou membros do elenco consigam desenhar uma sinopse eficiente a respeito do longa. Tudo que se dispõe são de pistas, na maioria das vezes insuficientes para que um quebra-cabeças abrangente seja elaborado. Sabe-se que temos uma mulher apaixonada, um homem doente, um amor que se perdeu com o tempo, um recorte de emoções que jovens e adultos confrontam, mas não chegam a vivenciá-las à contento. Mais do que isso seria arriscado afirmar. A referência imediata da diretora está no cinema praticado por nomes como Michelangelo Antonioni e Terrence Malick, porém, evidentemente, sem a competência ou talento que ambos exibiram em suas obras.

Exilados do Vulcão é o tipo de filme que qualquer aplauso que lhe for direcionado suscitará questionamentos. A vitória em Brasília é um perigo até mesmo para o festival, pois reconhecer um título como esse conta mais contra do que a favor, isolando o evento daquele que deveria ser seu maior interessado, o público. A experiência que provoca é sensorial, só que ao invés de emular encantamento e êxtase, tudo que arranca da plateia são bocejos e indignação. Sua estrutura é por demais aleatória, e seu sucesso, um vez estabelecido, jamais conseguirá suplantar grupinhos fechados que nada mais almejam além de dialogar com o próprio umbigo.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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