Crítica

O que esperar de um longa chamado Big Ass Spider, ou, numa tradução literal – como a que o diretor Mike Mendez fez ao apresentar sua obra na sessão de encerramento do Fantaspoa 2013 – Aranha de Cu Gigante? Um completo besteirol, é claro. Afinal, não se pode levar a sério mais uma trama sobre um animal – no caso, como é evidente, uma aranha – que cresce até proporções gigantescas e ataca a primeira cidade no seu caminho (aqui, a vítima da vez é Los Angeles). Já vimos vários destes filmes antes, e os melhores sempre foram aqueles que souberam explorar o ridículo da situação com qualidade técnica (dentro do esperado, é claro) e muito bom humor. E isso, ao menos até certo nível, é exatamente o que encontramos aqui.

Mike Mendez pode ser considerado, dependendo do ponto de vista, um veterano em Hollywood. Não que seja um profissional de idade avançada – é até um cara novo – mas no pouco tempo em que vem atuando no mercado cinematográfico (pouco mais de dez anos) ele já fez de tudo um pouco, tanto no cinema quanto na televisão. O melhor que se pode angariar – ao menos até que a fama apareça – são contatos. E isso Mendez tem de sobra. Senão, como poderia ter feito um filme como Big Ass Spider, que custou cerca de meio milhão de dólares (um valor ridiculamente pequeno para os padrões americanos) e que aparenta ter custado no mínimo 10 vezes mais, seja pelo elenco que apresenta ou pela competente finalização. Foram esses colegas que possibilitaram o projeto se tornar realidade, e este espírito de trabalho entre amigos, leve e descontraído, transparece com efeito também no lado de cá da tela.

Alex Mathis (Greg Grunberg, dos seriados Heroes, 2006, e Alias, 2001) é um exterminador de insetos que vai parar num hospital após ser mordido por uma aranha. O que ele não esperava era se deparar por lá com um aracnídeo muito maior e mais perigoso: um animal alterado geneticamente após experiências do governo que é levado para o necrotério local por acaso dentro do corpo de um recém falecido. O bicho, uma vez solto, começa a deixar uma trilha de mortos pelo seu caminho, ao mesmo tempo em que vai crescendo até se transformar numa ameaça gigantesca, colocando toda a cidade em pânico. Determinado a dar um fim a este monstro, Alex terá ao seu lado apenas a companhia do segurança mexicano José (Lombardo Boyar, um dos dubladores de Happy Feet, 2006) e a compreensão da militar Karly (Clare Kramer, de Regras da Atração, 2002), que está sob o comando do major Braxton (Ray Wise, de seriados como 24 Horas, 2006, e Twin Peaks, 1990).

Qualquer argumento que conte com um exterminador tradicional de insetos para eliminar uma aranha maior que um arranha-céu sabe que a melhor piada, muitas vezes, é também aquela mais óbvia. E esta é a graça que Big Ass Spider busca em pouco menos de 90 minutos de duração: um riso que supera o constrangimento das deficiências do roteiro e da produção para se concentrar no absurdo do cenário levantado. As reviravoltas são previsíveis, os efeitos especiais – finalizados no Paquistão – são bastante superficiais e nada de muito original é explorado em cena, mas a dedicação de todos os envolvidos, assim como algumas tiradas geniais – a dupla de heróis involuntários como protagonistas pode gerar ainda boas histórias no futuro – garantem a atenção do espectador mais despreocupado.

Big Ass Spider foi realizado num esquema de mutirão e através de muitas parcerias. Seu lugar, definitivamente, é na telinha, em casa, onde suas deficiências não ficarão tão evidentes. Não é filme para cinema, ainda que sua seleção para festivais do gênero fantástico, como o South by Southwest, nos Estados Unidos, e o Dead by Dawn Horror Film, na Inglaterra, evidencie uma boa comunicação com este tipo de público. Indicado como diversão descerebrada acima da média, reserva na sua humildade seus maiores méritos, e talvez por isso não mereça ser relegado ao esquecimento tão rapidamente.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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