Crítica

O Tour de France é a grande contribuição francesa para o mundo. Menos apático do que o existencialismo e mais saudável do que a gastronomia, o evento sobreviveu praticamente intocado desde o início do século passado, mesmo com duas guerras mundiais pelo caminho. Como patrimônio esportivo-cultural, é o protagonista de A Grande Volta.

Após se ver em um momento delicado junto à família e ao emprego, François (Clovis Cornillac) deixa tudo para trás a fim de completar o desafio, como uma provação pessoal. Para isso, decide realizar as etapas da competição com antecedência. Sem preparo ou conhecimentos de ciclismo profissional além da pura motivação, ele conta apenas com o apoio do ex-esportista Rémi (Bouli Lanners), uma cômica fonte de inspiração.

A direção é assinada por Laurent Tuel, cuja trajetória não nos permite dizer ter emplacado algum dos trabalhos realizados. Mentiríamos se falássemos de Jean-Phillippe (2006), apesar da bilheteria interessante, ou de Pacto de Sangue (2009), o mais conhecido por aqui. Com A Grande Volta repete-se o esforço, mas o resultado continua frágil e limitado. Por vezes, a narrativa é tratada de forma secundária, descuidada, como se fosse irrelevante – o que é um erro, mesmo ao se tratar de uma comédia. Em parte, pode-se cogitar que o problema está na quantidade de pessoas que assinam o roteiro. Muita gente para pouca contribuição em tela tornou o filme opaco e previsível, sem modulações de ritmo ou personagens mais interessantes.

Exemplo da falta de inspiração de A Grande Volta é o ritmo instituído na montagem de Antoine Vareille, de cortes secos e do encadeamento de cenas rápidas. A busca por uma linguagem evidentemente televisiva, próxima a dos comerciais publicitários, denuncia a falta de criatividade que somente pôde ser disfarçada pela velocidade. Da mesma forma, a abordagem dos estereótipos por parte da direção não passam de mais do mesmo, como no caso do ciclista italiano, ou da holandesa liberal.

Se o espectador deixar de lado qualquer expectativa, assim como o filme abriu mão da pretensão, há uma diversão satisfatória em curso. Uma história simpática e nada mais.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
avatar

Últimos artigos deWillian Silveira (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *