Crítica


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Sinopse

Inglaterra, século 18. Georgiana, a Duquesa de Devonshire, é vítima de calúnia e injúria por causa de sua extravagência pública e privada.

Crítica

Dramas históricos costumam contar com um público cativo. Agora, quando a trama é dotada de um forte viés feminista, como é o caso de A Duquesa, é ainda mais fácil identificar este(a) espectador(a). E elas certamente não irão se decepcionar com este filme, que combina com bastante habilidade fatos verídicos com uma estrutura quase novelesca. Se há algo para se lamentar aqui é justamente aquele que deveria ser o ponto forte da produção: o desempenho da protagonista Keira Knightley, sem o vigor visto na saga Piratas do Caribe ou a sutileza percebida em Desejo e Reparação (2007), por exemplo. No papel-título da duquesa Georgiana Spencer, uma antepassada remota da Princesa Diana, ela não consegue demonstrar satisfatoriamente os percalços que sua personagem viveu, praticamente dois séculos antes da mesma história ser repetida pela própria Lady Di. E sem uma atuação realmente convincente da protagonista, toda a estrutura se movimenta com a impressão de estar prestes a desabar a qualquer momento. O que, se não acontece, também não vai muito longe na direção oposta.

Aos 16 anos, Georgiana é entregue, mediante um acordo familiar, ao Duque de Devonshire, o homem mais poderoso de toda a Inglaterra naquele período do século 18. Ele tinha apenas uma ambição para com ela: obter um herdeiro. Como ela falha nas duas primeiras tentativas, gerando meninas, o descontentamento entre eles cresce vertiginosamente. E a relação marido-esposa piora de vez quando ele resolve assumir a melhor amiga dela como amante, mantendo simultaneamente as duas na mesma casa. Situação insustentável que ela só consegue lidar também arrumando para si um novo amor, Charles Grey, que viria a ser um futuro Primeiro-Ministro. Só que ao saber da traição da mulher o duque a ameaça terrivelmente, alertando-a que poderia tirar a guarda dos filhos e até acabar com a carreira política do rapaz caso insistisse naquele romance. E assim, sem saída, precisa resignar-se a uma vida de grande sucesso na sociedade, entre festas, viagens e comemorações, porém extremamente infeliz quando se tratava de assuntos mais íntimos e pessoais.

Se Knightley não consegue demonstrar uma maior maleabilidade na composição da sua personagem, alternando entre a frustrada e a esfuziante, sem meios termos, por outro lado a grande atuação do elenco é a de Ralph Finnes como o Duque. E impressionante perceber como uma personalidade tão facilmente desprezível e detestável adquire feições humanas e até compreensíveis diante a interpretação dele. Sentimos raiva e irritação com as atitudes que toma, mas ao mesmo tempo estas são lógicas e dignas de entendimento. E alguém tão complexo, cheio de nuances e controverso merecia mesmo uma personificação à altura. Outros pontos fortes do elenco são a ótima Charlotte Rampling e o jovem Dominic Cooper.

Dirigido pelo novato Saul Dibb (Suíte Francesa, 2014), A Duquesa carece de uma mão forte na sua condução, um tanto indecisa entre tanta ostentação – figurinos, cenários – sua relevância histórica e a própria protagonista. Não a ponto do filme ser um desperdício, mas no meio do caminho entre algo maior e não tão medíocre. No final, o que temos é algo mais curioso e que irá se comunicar apenas com sua audiência cativa. E, infelizmente, sem conseguir ir além.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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