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Sinopse

Um grupo de samurais banidos deseja reaver sua honra a partir de uma vingança contra o traiçoeiro Lorde Kira, o responsável pela morte do mestre deles. O mais incomodado do grupo é Kai, que passa a ser questionado após se apaixonar por Mika, a filha do mestre morto.

Crítica

O improvável ocorreu. Um pool de produtoras sob o comando de um grande estúdio de Hollywood fez uma releitura apropriada da história real da vingança de 47 Ronins contra um lorde feudal, ocorrida no Japão no início do século 18. Com uma narrativa ágil, ao gosto do mundo contemporâneo, mas sem a velocidade vertiginosa da maioria dos blockbusters atuais, o filme de Carl Rinsch atualiza o fato sem macular em demasia o mito sobre a honra, pilar mais sólido da cultura nipônica.

Na tradição oriental registrada pelos escritos, 47 samurais da cidade de Ako perderam seu líder, Asano, tornando-se automaticamente ronins, depois que o nobre foi compelido a cometer o suicídio ritual seppuku por ter atacado Kira, lorde conselheiro do shogun Tsunayoshi, em nome da honra. Após a morte ritualística de Asano, seus 47 samurais sem líder, então ronins, acabam banidos. Inconformados, os guerreiros planejam a morte de Kira para vingar o mestre não apenas por honra a Asano, mas por lealdade absoluta ao mestre. A lenda real dos 47 ronins é tida como a melhor alegoria para o bushidô, o código de honra samurai fundado em valores morais como respeito à hierarquia, no profundo conhecimento das artes marciais e na honra do guerreiro perante a morte. Ponto alto da cultura japonesa, simbólico por sua origem histórica, o caso foi vertido para o cinema em 1941, quando Kenji Mizoguchi lançou o clássico A Vingança dos 47 Ronin.

No filme em preto e branco de Mizoguchi, reinam o rigor estilístico dos costumes do Japão antigo, a severa observação das tradições, da estratificação e da função social, a celebração mitológica da lenda e também a narrativa e a fotografia cinematográficas, capazes de inserir o público em um mundo de regras e ritos formais, delicados e inflexíveis. A nova versão da história, no entanto, promove algumas modificações na lenda, tornando a trama bem mais fantástica, por um lado, e mais próxima das gerações atuais, por outro. Mesmo assim, conserva o tom austero e respeitoso acerca do mito.

Somos novamente levados ao Japão feudal – mesmo que este seja mais carnavalesco do que o visto na obra de Mizoguchi. Desta vez, Ako está envolta em feitiçaria e poderes demoníacos que são percebidos apenas pelo novo personagem Kai (Keanu Reeves, fraco), um mestiço filho de mãe japonesa e pai europeu encontrado na mata e adotado por Asano (Min Tanaka) quando garoto. Apaixonado por Mika (Ko Shibasaki), filha do nobre protetor, Kai passa a viver na comunidade, mas sempre deslocado por sua origem impura.

Após o suicídio ritualístico de Asano, lorde Kira (Tadanobu Asano) assume o controle da cidade e a mão da herdeira Mika por ordem do shogun (Cary-Hiroyuki Tagawa), que também decide banir todos os samurais, escravizar Kai e proibir qualquer tipo de vingança. O herói mestiço e o samurai Ôishi (o ótimo Hiroyuki Sanada, de O Último Samurai, 2003, e Wolverine: Imortal, 2013) deverão reunir todos os ronins para derrubar Kira, salvar Mika, recuperar Ako e finalmente vingar a honra manchada do lorde Asano. Tudo isso com a certeza da punição máxima reservada a quem descumpre as ordens do shogun.

Antigas histórias sobre traição, crimes de honra e vingança tendem a ser sempre interessantes, mas nem todas mantêm o brilho quando recontadas pelo cinema contemporâneo de entretenimento. Neste novo 47 Ronins, Rinsch arriscou ao inserir novos elementos e atualizar parte da trama japonesa, tornando o enredo mais atraente para as novas plateias. Por sorte ou eficácia, não colocou tudo a perder com um roteiro frouxo, um romance autômato, pirotecnias vazias ou com a pulverização de piadas por todo longa, recursos comuns em releituras hollywoodianas. Por outro lado, não espere ver na tela um remake literal da obra Mizoguchi, encharcada da mais pura tradição nipônica, muito menos algo que se aproxime da poesia visual de Akira Kurosawa em obras como Os Sete Samurais (1954) ou Kagemusha (1980). Afinal, não estamos falando de cinema arte.

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é jornalista, doutorando em Comunicação e Informação. Pesquisador de cinema, semiótica da cultura e imaginário antropológico, atuou no Grupo RBS, no Portal Terra e na Editora Abril. É integrante da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul.
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Grade crítica

CríticoNota
Danilo Fantinel
7
Thomas Boeira
4
MÉDIA
5.5

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