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Sinopse

Cinco dias antes de sua festa de 45 anos de casada, Kate precisa lidar com um fato inusitado: seu marido recebe a informação de que o primeiro amor dele foi encontrado morto. Kate já não sabe se terá o que comemorar.

Crítica

Passaram-se meio século desde que Geoff (Tom Courtenay) e Kate (Charlotte Rampling) tornaram-se um casal. O marco impressionante, que imagino deva impactar o público pelo que tem de desejável ou insuportável, será comemorado dentro de uma semana. 45 Anos se passa, portanto, nos sete dias que faltam para a comemoração da data.

A rotina consolidada por anos de convivência sofre um improvável abalo quando a chega a notícia de que a ex-namorada de Geoff foi encontrada enterrada nos Alpes. O frio do local garantiu a preservação do corpo durante todos esses anos. A memória, até então literalmente enterrada no passado, retorna intacta. Enquanto o casal caminha em direção ao futuro, Geoff, se arrasta em uma direção contrária.

Inspirado na história de David Constantine, o roteiro e a direção de Andrew Haigh caminham coesos para transformar o terceiro longa do diretor em uma obra dedicada aos pequenos momentos. A grandiloquência a qual imaginamos estar destinada a vida é desfeita no realismo da passagem dos anos. Aos poucos, descobriremos que não há mais tempo para sermos heróis, de que a fama é improvável e o amor complicado. Nesse sentido, 45 Anos contempla com beleza a banalidade diária. Por muito tempo, o cinema se empenhou em mostrar como a vida deveria ser. Haigh mostra como a vida é.

A intimidade que a direção constrói em tela é algo possível unicamente pelo comprometimento dos dois grandes atores. Courtenay e Rampling não fazem o filme sozinhos, é claro. Olhamos e percebemos, por exemplo, a montagem de ritmo comedido e a direção de arte irretocável na construção da simplicidade. Mas bem poderiam tê-lo feito. O talento tem a impressionante característica de realizar o que propõe tanto em um grande estúdio de Hollywood quanto em um teatro independente em qualquer parte.

A abordagem escolhida é a de um tom felizmente não melancólico. Se fosse para o lado contrário, certamente acabaria em lugar comum. A novidade desconserta Geoff, desperta uma crise de ciúmes em Kate e abala o casal. A cumplicidade torna-se rara, o sexo não funciona e o que era proximidade e certeza torna-se distância e dúvida. As dificuldades sofridas pelo casal em nada se diferenciam das que passariam um casal jovem. A simetria do medo assusta, porque tendemos a imaginar que a experiência antecipa caminhos e facilita as coisas. O que 45 Anos nos lembra é que a idade mantém um acúmulo acomodado de lembranças e inseguranças à espreita, prontas para despertar.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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