Patrões sempre são o alvo visado de qualquer funcionário. Ele pode ser a pessoa mais querida do mundo, mas será sempre o centro das reclamações de qualquer pessoa com quem conviva mais de seis horas diárias. Às vezes até menos. No cinema, o oposto deste tipo de chefe já apareceu em várias produções: malignos, rancorosos, invejosos, preguiçosos. O diabo em pessoa. E o pior: mandando em quem só quer fazer seu trabalho de forma correta. Com a estreia de Quero Matar Meu Chefe 2, continuação do sucesso de 2011, a equipe do Papo de Cinema resolveu relembrar os dez piores patrões da história de cinema. Quer saber se o seu está aqui? Confira!

 

Como Eliminar seu Chefe (Nine to Five, 1980)
Elas sofreram o diabo com seu chefe. Assédio moral, sexual, puro desrespeito. Elas mereciam vingança. E tiveram. Como Eliminar seu Chefe é um divertido clássico da Sessão da Tarde que mostrava uma situação (infelizmente) corriqueira para diversas secretárias – o assédio. Se hoje este cúmulo é verdadeiro, no começo da década de 1980, quando muitas mulheres entraram no mercado de trabalho, era uma situação constrangedoramente presente. Com bom humor, o longa-metragem de Colin Higgins transformava os mandos e desmandos do hipócrita e escroque Franklin Hart (Dabney Coleman) em material perfeito para o levante de três de suas funcionárias: Doralee (Dolly Parton), Violet (Lily Tomlin) e Judy (Jane Fonda). O trio feminino é perfeito, fazendo de gato e sapato o chefe após ele ter infernizado a vida de cada uma. Além de ser um retrato peculiar de uma época, Como Eliminar seu Chefe é muito lembrado pela música tema, Nine to Five, mesmo título do longa e indicada ao Oscar de Melhor Canção Original. – por Rodrigo de Oliveira

 

Nascido Para Matar (Full Metal Jacket, 1987)
O sargento Hartman, personagem de destaque na primeira metade de Nascido para Matar, é, sem dúvida, um dos “chefes” mais escrotos do cinema. Seu trabalho consiste em fazer os recrutas tornarem-se soldados dispostos a morrer no Vietnã. Ele é autoritário, fala barbaridades aos novatos, os humilha, coloca apelidos em todos, entre outros expedientes que denotam a mão pesada do exército americano, entidade a qual serve cegamente. Os jovens fuzileiros não devem hesitar no momento de puxar o gatilho, simples assim. Aliás, por esse lado, como exposto pelo filósofo Slavoj Žižek num dos segmentos do filme O Guia Pervertido da Ideologia (2012), Hartman talvez seja menos vilão do que parece, pois seu curso intensivo é o que de fato prepara os recrutas para enfrentar a realidade bem mais pesada do conflito in loco, ou seja, em última instância é o que lhes oportuniza mais chances de sobrevivência. Fora esse viés, o diretor Stanley Kubrick mostra, por meio de Hartman, a máquina de guerra norte-americana produzindo quase assassinos autômatos a serviço dos interesses escusos da pátria estadunidense. – por Marcelo Müller

 

Wall Street: Poder e Cobiça (Wall Street, 1987)
Bud Fox (Charlie Sheen, num dos seus primeiros trabalhos como protagonista) era apenas um novato quando decidiu se arriscar pelo mundo do mercado financeiro de Nova York. Porém, mais de vinte anos antes de Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio) tentar a mesma sorte em O Lobo de Wall Street (2013), Fox inadvertidamente acabou caindo nas mãos não de um lobo, mas, sim, de um verdadeiro tubarão selvagem e avassalador: Gordon Gekko, nome esse que com o passar dos anos virou sinônimo de empresário irascível em suas ambições (a ponto de ser, inclusive, citado como referência no filme de Martin Scorsese). A atuação de Michael Douglas foi tão poderosa que acabou levando o Oscar de Melhor Ator (ainda que seu personagem seja coadjuvante no filme), praticamente redefinindo o conceito de ‘chefe maldito’: aquele que recebe seu funcionário com um sorriso, um abraço caloroso e nada sincero, e que aos poucos, à medida que conquista a confiança desse, prepara o terreno para lhe dar um bote mortal e sem volta. Muitos sonham com o mundo de riqueza e poder que Wall Street pode oferecer, mas sem sombra de dúvidas poucos são aqueles que possuem fôlego suficiente para enfrentar um Gekko em seu caminho – e ainda sair vivo para contar a história! – por Robledo Milani

 

Uma Secretária de Futuro (Working Girl, 1988)
Bem antes da Miranda Priestly em performance de Meryl Streep, se tornar a personificação do demônio no ambiente de trabalho, Sigourney Weaver era tida como a verdadeira megera pela sua interpretação de Katharine Parker. Não muito longe do universo de O Diabo Veste Prada (2006), Uma Secretária de Futuro é sobre o mercado da comunicação e grandes corporações. E, para a ambiciosa e humilde Tess McGill (Melanie Griffith), a pedra no seu sapato acaba sendo sua chefe, Parker, que rouba uma ideia da garota levando todos os créditos. Tudo muda quando, durante uma viagem aos alpes suíços, a chefona acaba se acidentando e ficando reclusa em um hospital por lá. McGill ganha sua chance de mostrar a que veio para os verdadeiros grandes chefes da empresa e executar o seu plano que havia sido roubado por Parker. E o destino, como prega algumas peças, vai fazer com que as duas não só batalhem pela carreira e reconhecimento dentro da empresa, mas também pelo mesmo homem, o empresário Jack Trainer (Harrison Ford). Haja hora extra! – por Renato Cabral

 

O Sucesso a Qualquer Preço (Glengarry Glen Ross, 1992)
Baseado na peça de David Mamet, O Sucesso a Qualquer Preço se concentra em um grupo de corretores imobiliários cujos negócios na firma onde trabalham vão de mal a pior. É então que Blake (Alec Baldwin, em um papel criado especialmente para o filme) resolve motivá-los fazendo uma competição rígida entre todos, sendo que o vencedor ganha um Cadillac e o segundo lugar um conjunto de facas, enquanto o resto será demitido. Focando a história numa série de personagens complexos, que se revelam bastante desprezíveis nas maneiras como tentam passar um por cima dos outros, o filme de James Ivory faz um retrato curioso do mercado no qual a trama se passa e até faria uma bela sessão dupla com Wall Street, lançado alguns anos antes. Além disso, o roteiro de Mamet é repleto de diálogos afiados que são proferidos brilhantemente pelo fantástico elenco, que dispensa apresentações. De Jack Lemmon a Kevin Spacey, passando por Baldwin, Al Pacino (único a receber uma indicação ao Oscar pelo filme), Alan Arkin e Ed Harris, todos têm grandes atuações em uma produção primorosa, que merecia ter recebido mais atenção em premiações na época. – por Thomás Boeira

 

Como Enlouquecer Seu Chefe (Office Space, 1999)
O filme do diretor Mike Judge foi elogiado e ignorado na mesma proporção na época de seu lançamento, mas com o tempo adquiriu status de cult entre diversos cinéfilos. Tendo como pano de fundo o mundo corporativo, acompanhamos a trajetória de três funcionários que são infernizados pelo big boss Bill Lumbergh (Gary Cole), uma figura altamente detestável que não se cansa de fazer maldades para seus funcionários e largar de seus pés. O foco é em Peter Gibbons (Ron Livingston), programador de computadores infeliz no emprego e que, após uma sessão de hipnoterapia, muda de comportamento:  não cumpre horários e não faz nada do que lhe é pedido. A revolução está armada no escritório e o filme pincela, desta forma, uma singela e muito engraçada crítica ao capitalismo e ao status quo de qualquer empresa e suas jornadas de trabalho. – por Matheus Bonez

 

O Diabo Veste Prada (The Devil Wears Prada, 2006)
Todo mundo já teve um chefe ou mesmo um professor infernal. Mas pouca gente passou pelo mesmo que Andy Sachs, personagem de Anne Hathaway em O Diabo Veste Prada. Jornalista recém-formada, a garota vai parar numa conceituada revista de moda – assunto sobre o qual entende muito pouco – e tem de trabalhar como assistente para ninguém menos que Miranda Priestley (Meryl Streep num dos melhores papéis e no melhor visual da sua carreira), a editora-chefe. Muitos dizem que Miranda foi inspirada em Anna Wintour, a editora-chefe da Vogue. Verdade ou não, o “diabo” do título se esmera em transformar a vida de seus subalternos num completo e glamoroso inferno. Sequências como as que Miranda exige que sua assistente consiga um livro ainda não publicado enquanto tenta acertar o ponto da carne de seu almoço já entraram para a história e para a memória de diversos cinéfilos. Além de engraçadas, as situações geram uma imediata identificação com todos aqueles que já tiveram um chefe que, independente do que vestisse, era o diabo. – por Dimas Tadeu

 

Os Simpsons: O Filme (The Simpsons Movie, 2007)
Exibido na televisão aberta dos Estados Unidos, Os Simpsons sempre encontraram a sua genialidade ao contornar a censura através de piadas com múltiplas camadas. Ao contrário da liberdade dada pela televisão paga às suas irmãs de gênero, como The Family Guy e The Cleveland Show, o seriado criado por Matt Groeing sempre esteve um passo à frente por se mostrar tão engraçado quanto apesar dos desafios. A série é um sucesso tão grande que deu origem a um filme igualmente divertido, que volta a trazer um de seus personagens mais eficientes: o milionário e despótico Senhor Burns. Absurdamente velho, maquiavélico e um tanto quanto senil, Montgomery é um ninho de tiradas envolvendo sua inadequação ao Século XXI. Dono da usina nuclear da cidade, ele, claro, é chefe de muitos dos personagens. E, tanto no seriado como no filme, os inferniza. “Eu não acredito em suicídio, mas se quiser tentar, ficarei feliz em assistir” diz ele no longa-metragem em certo instante ao seu mais fiel funcionário. – por Yuri Correa

 

Na Mira do Chefe (In Bruges, 2008)
Bruges é uma pequena e encantadora cidade da Bélgica que ainda preserva aspectos da era medieval e concentra uma quantidade enorme de turistas ávidos por seus atrativos culturais e arquitetônicos. No entanto, não é bem por estas qualidades que os assassinos de aluguel Ray e Ken são enviados para lá por seu excêntrico empregador, Harry. Comédia de ação narrada numa atmosfera que já parece marca registrada de seu criador, o britânico Martin McDonagh, Na Mira do Chefe desenvolve uma série de situações absurdas tão crivelmente narradas que envolve qualquer espectador desde seus primeiros minutos. Brilhantemente protagonizado por Colin Farrell e Brendan Gleeson, o filme tem seu grande trunfo com o inspirado interpretado por Ralph Fiennes. O tipo psicopata e estranhamente agradável, que remete a pelo menos um chefe de sua vida, se torna ainda mais impagável pelo senso extremo do significado da palavra honra. Como em O Guarda (2011), Sete Psicopatas e um Shih Tzu (2012) e no curta premiado com o Oscar Six Shooter (2004), McDonagh explora humor e tragédia sem distinguir o que é bom ou ruim, equação que concede uma dinâmica original e instigante para seus filmes – divertidas desventuras de ação que remetem a Guy Ritchie em seus melhores momentos. – por Conrado Heoli

 

Quero Matar Meu Chefe (Horrible Bosses, 2011)
É praticamente impossível passar sem quase morrer rindo de uma sessão desse pastelão sobre três idiotas que são feitos de gato e sapato por seus patrões e, juntos, decidem fazer um acordo para que um assassine o chefe do outro. Kevin Spacey é o psicopata que inferniza a vida no escritório de Jason Bateman. Jennifer Aniston é a dentista devoradora de homens que atormenta o cotidiano do auxiliar encarnado por Charlie Day. E, por fim, temos um Colin Farrell quase irreconhecível como o idiota macabro que por acaso acaba na cadeira de dono da empresa de produtos químicos em que trabalha Jason Sudeikis. É claro que nada sai de acordo com o esperado, mas o processo até o final é extremamente hilário, principalmente devido ao elenco afinado que consegue defender diante às câmeras, com vigor e bastante comprometimento, uma história clichê e já vista diversas vezes antes. – por Robledo Milani

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